Ex-titular da Delegacia de Trânsito pede por mudanças na legislação e defende a criação de motovias em Goiânia

10 junho 2014 às 19h43

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Waldir Soares, enquanto esteve à frente do distrito adotou medidas como autuar infratores por dolo eventual (quando se assume o risco de matar) e determinou critérios rígidos para a estipulação dos valores de fianças

Devido à enorme frota de motocicletas em Goiânia e à imprudência de grande parte dos pilotos, o ex-delegado da Especializada em Investigações de Crimes de Trânsito de Goiânia e atual titular do 8º DP, Waldir Soares, defende mudanças na legislação e a criação de motovias na capital goiana. “Está na hora de pensarmos em vias especiais para motociclistas pelo volume de motocicletas e motoristas que temos”, disse. “Nos acidentes, 90% deles estão errados – eu sei porque trabalhei na Trânsito — e acaba que a cabeça dos motociclistas tem servido de parachoque.”
Segundo ele, 60% das pessoas que morrem no trânsito atualmente são motociclistas de 16 a 25 anos. Por isso, para evitar tragédias como essas, ele defende punições mais duras para as infrações: “Eles sobem na calçada, cortam meio-fio, passam entre os carros. Os nossos deputados lá em Brasília não têm coragem de fazer a mudança da legislação”, reclama.
Waldir destaca que enquanto esteve na Delegacia de Trânsito conseguiu um grande avanço para acabar com a impunidade ao passar a autuar motoristas bêbados que se envolviam em acidentes fatais por homicídio com dolo eventual. “Nós demos o entendimento de que aquela pessoa que bebe e dirige, aquela que faz um racha, aquela que atropela na faixa de pedestre, assume o risco de matar, e nós passamos a enquadrar como homicídio com dolo eventual. O Judiciário e o Ministério Público acompanharam o nosso entendimento”, declarou.
Para ele, ações como essa ajudaram a amenizar a dor de muitas famílias, já que os crimes de trânsito deixaram de passar impunes. “Qual mãe chora mais: aquela que o filho leva um tiro ou aquela que vê o filho esfacelado no asfalto porque o motorista embriagado matou? As duas mães choram muito, a dor é grande das duas famílias. Eu digo que a mãe que vê o filho atropelado ali no chão chora mais, porque até então a pena era quatro anos, por homicídio culposo.”
Outra atitude adotada pelo delegado, que ele destaca como essencial para a prevenção dos crimes de trânsito, é a aplicação de um sistema criterioso e rígido para a estipulação dos valores de fianças. “Antigamente, dependendo da cara do “freguês” era estipulado o valor da fiança. De 2/3 do salário mínimo a até mil vezes. Nós criamos um critério para evitar casos de corrupção: 25% do valor do veículo”, explicou.
O método é funcional pois, segundo Waldir, a maioria das pessoas que bebe e dirige não está necessariamente envolvida com outras práticas delituosas. Assim, eles próprios e as famílias se mobilizam para que o infrator em questão não seja obrigado a dormir na cadeia. “Teve algumas situações em que chegou um parente e questionou: ‘Mas delegado, essa fiança não é muito cara? Já tem os R$ 2.000 da multa.’ Eu perguntava para a pessoa: ‘E se você estivesse neste momento tendo que ir à funerária encomendar o caixão? Quanto custaria?’. Rapidamente as pessoas mudavam de ideia.”