Ex-chefe da Petrobrás poderia ser exemplo de consciência a líderes do PT e PMDB

07 abril 2014 às 16h42

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Quando a Petrobrás negociava a compra da outra metade da refinaria de Pasadena que pertencia à belga Astra Oil, criou um drama de consciência para o então chefe da petroleira nos Estados Unidos, engenheiro Alberto Guimarães.
Em outubro de 2008, Guimarães desaconselhou o negócio e despachou e-mails de advertência a diretores da Petrobrás na sede da empresa no Rio, como nesta mensagem de setembro de 2007, onde se rendeu a ordens da chefia, que desejava pagar 700 milhões de dólares pela metade de Pasadena:
— Acho pouco provável que, com esse preço e pelo fato de ter que segurar o dinheiro em um ano tão bom, avancemos na negociação, mas ordens são ordens.
Um ano depois, Alberto Guimarães foi substituído pelo colega José Orlando Azevedo. Ainda na onda de Pasadena, Azevedo ficou no posto até o fim de março último. Na véspera, a imprensa divulgara que Azevedo é primo de José Sérgio Gabrielli, que presidia a Petrobrás quando deslocou o parente para os Estados Unidos.
Agora, vejamos três líderes políticos governistas que estiveram em evidência durante a semana por desvio de conduta.
André Vargas, 50 anos, é deputado pelo PT do Paraná. Vice-presidente da Câmara, deseja ser promovido à presidência em fevereiro, num rodízio com o PMDB de Henrique Alves. Mas, em cinco dias, mentiu três vezes sobre a viagem com a família, de Londrina a João Pessoa, no jatinho do doleiro Alberto Youssef, preso mais uma vez. Agora por lavagem de dinheiro.
Uma vez, Vargas disse que pediu o jatinho emprestado porque as passagens aéreas estão muito caras. Na segunda, disse que conhece Youssef há 20 anos em Londrina e desconhecia a ficha criminal do amigo. Na terceira, disse que tentou pagar o combustível gasto na viagem, mas o doleiro se recusou a receber o dinheiro — que realmente não faz falta a Youssef.

Eduardo Cunha, 55 anos, é deputado pelo PMDB do Rio. Líder do partido na Câmara, deseja assumir a presidência dos deputados em fevereiro na sucessão do colega Henrique Alves, sem rodízio com o PT de Vargas. É célebre pela voracidade com que indica amigos para cargos públicos, mas que não se revelam exemplos de boa conduta.
Agora, Cunha quer diminuir as multas aplicadas pelo governo a planos de saúde irregulares. Vejamos. Na terça-feira, a Câmara aprovou uma medida provisória que trata de tributação de filiais no exterior de empresas brasileiras. No bojo, uma emenda do relator, Eduardo Cunha, que trata de outra questão: a redução de multas aplicadas aos planos de saúde.
O governo autorizou a aprovação da emenda. Vejamos se a presidente Dilma Rousseff, que odeia o deputado, mas o teme, vetará a intromissão do líder do PMDB na medida provisória. “Não se pode fazer das multas um fator que quebre a empresa”, defendeu a Cunha a bondade com seguradoras de saúde que, entre outras coisas, podem contribuir em campanhas eleitorais.
Agnelo Queiroz, 55 anos, baiano de Itapetinga, deseja ser reeleito governador do Distrito Federal em nome do PT. Há um mês. Agnelo recebeu uma interpelação do juiz Bruno Ribeiro, então responsável pela Vara de Execuções Penais, porque visitou o companheiro e mensaleiro José Dirceu no presídio da Papuda fora do horário permitido.
“Sou governador do Distrito Federal e vou a qualquer hora ao presídio e visito quem eu quiser”, respondeu Queiroz. No ato, pediu ao Tribunal de Justiça que investigasse o juiz por abuso de conduta no cargo.
Na quarta-feira, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, deu ao governador o prazo de 48 horas para se manifestar sobre regalias concedidas a mensaleiros presos em Brasília. No dia seguinte, Queiroz afastou Valter José Faé da chefia do núcleo de inteligência do presídio por causa de privilégios de mensaleiros do regime semiaberto.
Acrescente-se aos políticos André Vargas, Eduardo Cunha e Agnelo Queiroz o desapontamento do mensaleiro José Genoino, 67 anos, cearense de Quixeramobim. Em dezembro, renunciou ao mandato de deputado do PT por São Paulo antes que fosse cassado por causa de sua condenação pelo mensalão.
Renunciou, mas pediu à Câmara que o aposentasse com o salário integral de deputado por conta de uma invalidez provocada por problema com o coração. Pela segunda vez, uma junta médica da Câmara não reconheceu que houvesse doença tão grave a ponto de provocar a invalidez. O caso foi arquivado. Genoino poderá se aposentar com vencimentos proporcionais ao tempo de contribuição à Câmara.