EUA vão enviar mais documentos sobre a ditadura à Comissão Nacional da Verdade
22 julho 2014 às 19h24
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Após visita à Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, integrantes da CNV confirmaram que o governo norte-americano vai continuar desclassificando documentos antes considerados sigilosos e entregando-os à comissão
Depois de entregarem 43 documentos relativos à ditadura militar no Brasil à Comissão Nacional da Verdade (CNV), os Estados Unidos vão continuar colaborando com os trabalhos do colegiado e enviar novas informações sobre o período.
Após visita à Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, integrantes da CNV confirmaram que o governo norte-americano vai continuar desclassificando documentos antes considerados sigilosos e entregando-os à comissão.
“Fomos informados pela embaixadora que o presidente Barack Obama manifestou interesse em dar continuidade à operação. Então, o processo de desclassificação de documentos nos Estados Unidos e envio para nós deve continuar. Devemos receber mais documentos no segundo semestre”, disse o coordenador da CNV, Pedro Dallari. Ele também explicou que o envio de documentos daquele país ao Brasil deve continuar mesmo após o encerramento dos trabalhos da comissão, em dezembro deste ano. “Esse é um dos legados da comissão”, disse Dallari.
Outros países também têm cooperado com a CNV na prestação de informações sobre o período da ditadura brasileira. Esta semana, a Comissão pela Memória da Província de Buenos Aires (CPM) entregou à comissão brasileira o relatório Victimas del Terrorismo de Estado. O documento traz informações sobre o desaparecimento de 11 brasileiros na Argentina, além de dados sobre seis argentinos presos e desaparecidos no Brasil. A CNV também recebeu detalhes sobre o monitoramento sofrido pelo ex-presidente João Goulart quando este esteve no país vizinho.
Além da Argentina e dos Estados Unidos, Alemanha, República Tcheca, Itália, Santa Sé e França, além de organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, já disponibilizaram documentos sobre violações de direitos humanos no período da ditadura brasileira.
O professor Paulo Sérgio Pinheiro, membro da CNV, lamentou que as Forças Armadas não tenham postura semelhante à de tantos países que cooperam com a comissão. “É constrangedor para a Comissão Nacional da Verdade ver tantos países cooperando enquanto as próprias Forças Armadas brasileiras se recusam a reconhecer que houve tortura em suas instalações”, criticou.
Durante toda a semana, a comissão seguirá ouvindo depoimentos de militares envolvidos em violações de direitos humanos durante o regime militar. Para hoje, está previso o depoimento do Capitão Roberto Amorim Gonçalves, responsável por receber informações de agentes na Operação Sucuri, que infiltrou militares na área ocupada pela Guerrilha do Araguaia.
Amanhã (23), a comissão deve ouvir Cláudio Guerra, investigador da Polícia Civil do Espírito Santo, ligado ao Esquadrão da Morte, e que atuou em operações com agentes da repressão no Rio de Janeiro. Além dele, outros dois convocados, cujos nomes não foram revelados, também devem depor na sede da CNV esta semana.