Estudante da USP é estuprada em calourada e é pressionada a ocultar o fato
21 agosto 2014 às 16h37

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Após o abuso, a aluna foi acusada pelos integrantes da Atlética de estar tentando destruir a festa e que o estupro ‘não poderia vazar’
A polícia investiga o caso de uma estudante do curso de medicina da Universidade de São Paulo (USP) que teria sido estuprada em uma calourada em 2011 e sofre pressão de outros alunos para não registrar boletim ocorrência. Os outros estudantes temem que a festa, chamada Carecas no Bosque, seja cancelada com a denúncia de abuso sexual.
A jovem conta que estava em uma das barracas desacordada, devido ao consumo excessivo de álcool, quando um homem, supostamente um técnico de ar condicionado, a estuprou. “Eu só fui acordar e tomar consciência do que estava acontecendo no hospital. Fui retirada da festa em uma ambulância – acho que umas 500 pessoas viram isso”, disse.
Após o suposto abuso, a aluna foi acusada pelos integrantes da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC) de estar tentando destruir a festa e que o estupro ‘não poderia vazar’. “A gente precisa abafar, primeiro para proteger a vítima e, segundo, porque isso vai destruir a festa”, disse ela reproduzindo a fala de um dos integrantes.
O suspeito teria sido agredido por estudantes quando foi avistado sobre a vítima. Segundo pessoas no local, ele teria dito que havia pago a jovem pelo ato sexual.
Desencorajada a prestar denúncia, a estudante declara sobre as dificuldades que enfrentou para resolver a situação. “Eu procurava as pessoas para saber se testemunhariam, e eu sentia que eles se mostravam receosos e esquivos. Todo mundo falava que eu devia deixar para trás”, afirmou a jovem.
O suposto abuso tem três anos e a estudante afirma que com o tempo é possível digerir melhor tudo que aconteceu. “Sempre fui feminista, mas, com certeza, isso ter acontecido, essa falta de estrutura, de apoio institucional, foi uma coisa que me mobilizou muito a me organizar”, declarou. Porém, a jovem diz que ainda tem medo de que o caso venha a público e que ela seja responsabilizada de alguma forma.