Entre um mandato e outro, alguma coisa já mudou nas duas primeiras semanas do novo governo: Dilma falou menos e deixou que ministros se expressassem

Graça Foster, presidente da Petrobrás: é pra parar com a investigação? | Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil
Graça Foster, presidente da Petrobrás: é pra parar com a investigação? | Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil

A resposta do governo veio rápida, mas com eficácia e procedências duvidosas. Na quarta-feira, ao pedir a prisão do ex-diretor Nestor Cerveró, a Procuradoria Geral da República denunciou que o petrolão continua a rolar na Petrobrás. “Não há indicativo de que o esquema criminoso foi estancado” comunicou e explicou:

— Pelo contrário, há notícias de pagamento de propinas efetuados por empresas a diretores da Petro­bras, mesmo em 2014.

No dia seguinte, com duas semanas no cargo, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB), descartou firulas e foi direto ao que interessa. “Até hoje, não há uma prova sequer contra Graça Foster nem contra esses diretores que aí estão”, tratou de proteger a primeira-amiga de Dilma Rousseff e presidente da Petrobrás. Quem falou antes em Graça Foster?

No caso, Braga não foi mais do que um ventríloquo a repassar a re­pórteres uma ordem vinda de cima. Um cômodo porta-voz presidencial. Cômodo porque o palácio desconhece se os procuradores possuem prova ou indício que ainda não chegou à imprensa. Mas, se aparecer um fato novo, Dilma, com seu temperamento habitual, poderá acusar o ministro de exagero.

Tem mais. A denúncia dos procuradores materializa a impressão de que o governo não está interessado em apurar a corrupção na petroleira. Veja-se a argumentação tortuosamente indireta do comentário que o ministro de Minas acrescentou em sua fala:

“Não seria justo, vendo o esforço que a Petrobrás está fazendo com seus técnicos e sua diretoria, de recuperação de gestão e eficiência, puni-los sem dar chance para que apresentem os resultados que a Petrobrás aponta que apresentará.”

Os procuradores deveriam, então, suspender a investigação da roubalheira até que a Petrobrás apresente suas conclusões. O que a petroleira já apurou desde o início da nova onda de prisão da Operação Lava Jato há dois meses? A ação mais visível do governo é quanto à preservação de empresas acusadas de corromper com o petrolão.

A presidente, sim, mudou em relação ao primeiro mandato. Antes, não gostava de ministro que dava entrevista sem sua autorização. Puxava orelhas. Corrigia ministros com ela própria comunicando sua versão sobre fatos, naquela fala atrapalhada. Agora, instrui ministros a falarem por ela sem revelar a autorização. Braga é o exemplo mais recente. Assim, Dilma se poupa.

Agora, se o ministro de Minas possui credibilidade para comentar a ação de Graça Foster e o que se passa na petroleira, como se fosse por iniciativa espontânea, é outra história. Todos sabem como funciona a centralizadora Dilma, especialmente ciosa de sua autoridade quando se trata de energia.