Médico infectologista, Marcelo Daher, fala também sobre a uniformidade na divulgação de dados para evitar desestímulo a vacinação e incentivar a população a tomar a segunda dose

O alerta de baixa procura por vacinas contra a Covid-19  tem preocupado as autoridades, principalmente entre as pessoas que já tomaram a primeira dose do imunizante, já que a proteção só é completa com as duas aplicações. Na manhã de hoje, 11, por exemplo, quem passou nas proximidades do posto de vacinação da PUC, no Setor Universitário, em Goiânia, pode ver o local completamente vazio. A situação pode ainda comprometer o avanço da vacinação para outros grupos e outras faixas etárias, que ainda não foram contempladas.

Em Anápolis, na semana passada,  3.370 idosos cadastrados ainda não tinham procurado os pontos de vacinação. Já a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS), disse por meio de nota que a procura pela vacina está acima do esperado, visto que a maioria dos grupos para primeira dose já superaram 100% do número previsto (idosos e trabalhadores) e mais de 70% para segunda dose de trabalhadores da saúde e 80% para idosos.

Nos últimos dias teve início a vacinação para pessoas com comorbidades, inclusive para as gestantes. Porém, nesta terça-feira, 11, os municípios suspenderam a imunização com a dose da AstraZeneca para essa população, após a repercussão da morte de uma grávida no Rio de Janeiro. O Ministério da Saúde investiga para saber se o óbito foi provocado pela vacina.

Diferença entre as vacinas

De acordo com o médico infectologista, Marcelo Daher, hoje no Brasil temos em uso três vacinas diferentes. A Coronavac (vírus inativado) e Oxford/Astrazeneca (vetor viral) e por último a Pfizer/BioNTech que utiliza a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA).

“A CoronaVac, que é uma vacina de vírus inativado, ou seja, é o vírus inteiro inativado utilizado como vacina, uma tecnologia antiga, e várias vacinas utilizam essa plataforma. Com uma proteção bastante razoável, a limitação da Coronavac, que é uma vacina utilizada em poucos países, é a questão da restrição de entrada, se forem usar o passaporte de vacinação, ou, o passaporte verde de vacina. Mas é uma vacina que tem proteção, os dados do Chile e até do Brasil vem mostrando uma proteção boa com a Coronavac”, explica.

“A vacina AstraZeneca utiliza um carregador viral, o adenovírus, que leva a partícula produtora da proteína Spike, que vai induzir proteção. É uma vacina que tem um carregador inativo que não replica. Ela também está sendo utilizada na Inglaterra em larga escala no Brasil e em vários países. É a que mais recebeu aporte, por ser uma vacina de plataforma mais barata e com uma proposta que permitia a produção em vários países ao mesmo tempo. Assim, várias unidades fabris começaram a produzir essa vacina”, destaca o especialista.

“A vacina da Pfizer que é mais moderna de RNA mensageiro, vem sendo utilizada nos Estados Unidos e em Israel em larga escala com um resultado muito bom. É a tecnologia mais moderna de todas, com respostas de produção de anticorpos elevadíssimos”, completa o médico.

Estímulo e avaliação

O infectologista, Marcelo Daher, destaca que em relação  morte da gestante no Rio de Janeiro é importante que haja uma investigação. Para ele, é necessário a transparência de dados para evitar o desestímulo à população quanto a procura da vacina.

“Precisamos de mais dados para dizer que foi a vacina que levou a esse óbito. Sabemos que reações adversas graves acontecem. Já foi relatado com a vacina da Pfizer reações anafiláticas, não é um percentual alto, é muito raro inclusive. No caso da AstraZeneca pela plataforma de vetor viral, assim, como a vacina da Jansen também houveram relatos de eventos adversos mais graves. Lembrando sempre que esses eventos adversos não são comuns, são até eventos mais raros que, por exemplo, o tabagismo que leva a eventos trombóticos também, mas aconteceram”, afirma.

Por último, o especialista reforça a necessidade de que as autoridades avaliem a situação. “Precisamos ter uma uniformidade de divulgação dos dados. A Anvisa precisa ter uma uniformidade, porque nesse momento nós não precisamos medir forças de instituições dentro do próprio Governo, isso é a pior conduta a ser adotada agora e acaba desestimulando ainda mais a população a se vacinar. Estamos vendo uma baixa adesão a segunda dose. Temos que estimular a vacinação mostrando dados reais, dando essa transparência”, finaliza Marcelo Daher.