Entre uma intervenção e outra do governo, Pasadena segue para impunidade no TCU
09 agosto 2014 às 11h06
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Graça Foster: manobra
para evitar bloqueio de bens | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
A disposição do Tribunal de Contas da União em bloquear os bens da presidente da Petrobrás, Graça Foster, era uma forma de o TCU se recuperar, na quarta-feira, do desgaste que sofreu, duas semanas antes, quando seus 11 ministros aceitaram uma sugestão de Lula e, absolveram os dez conselheiros da estatal que aprovaram a compra da Refinaria de Pasadena, no Texas.
A absolvição dos conselheiros incluiu a presidente Dilma Rousseff, que presidia o conselho administrativo da Petrobrás ao liberar a operação, em 2006, responsável pelo prejuízo de 792,3 milhões de dólares no negócio mal sucedido. O TCU atribuiu a culpa a 11 diretores atuais e antigos da empresa. Todos tiveram seus bens bloqueados para o eventual ressarcimento do prejuízo.
A repercussão da absolvição soou mal no Ministério Público, autor de um recurso pela revisão do julgamento. Lembrou ao relator do processo no Tribunal, ministro José Jorge, que, além da conselheira Dilma, o TCU deixou fora dois diretores da Petrobrás que participaram do negócio. Um deles, a presidente Graça Foster, antiga diretora de Gás e Energia. Outro, Jorge Zelada, na época diretor internacional.
O relator Jorge tratou de corrigir o esquecimento. Providenciou a inclusão de Foster e Zelada no processo com o bloqueio dos respectivos bens. Preparou o processo que deveria ser levado à reunião do Tribunal da última quarta-feira. Junto com os papéis, o pedido do MP pelo reexame do julgamento.
Mas foi atropelada pelo Planalto, que enviou à sessão o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, para defender Foster. Nunca antes o chefe da Advocacia Geral da União participou de um julgamento no TCU para defender ou denunciar um acusado. Adams discursou que não havia razão para o bloqueio dos bens de Foster porque a antiga ocupação dela não se confundia com a de outros acusados.
O discurso do advogado-geral ficou como marco da intervenção inédita e deixou uma dúvida. A quem cabe à AGU defender? Ao patrimônio da União ou aos diretores da Petrobrás? Mas o relator Jorge não pensou nisso e bastou a presença de Adam para o ministro retirar o processo de pauta antes de ser julgado.
Com a manobra, paralisa-se o processo e todos, julgadores e acusados, ganham tempo para examinar melhor a posição de cada um no processo. Como Jorge se aposenta em novembro para retornar à política, o Planalto espera que ele deixe a eleição presidencial passar e retome o processo quando estiver para sair do TCU.
Ao mesmo tempo, Graça Foster realizou outro movimento paralelo para ganhar tempo. Recorreu ao Supremo Tribunal Federal com o pedido para não permitir ao TCU o bloqueio de seus bens. Na prática, a presidente da Petrobrás se juntou ao mandado de segurança com que outros acusados recorreram ao Supremo na semana anterior.
Com isso, os acusados retardam o processo nesta campanha eleitoral, a 56 dias ou oito semanas da eleição presidencial. O bom para a reeleição da presidente seria Dilma congelar todo o julgamento que envolve a Petrobrás, mas sem deixar de acusar a oposição de desvalorizar a empresa. Se o PT continuar no poder, terá novos meios para esvaziar os efeitos Pasadena.
A atual composição do Supremo e o Tribunal de Contas possuem antecedentes recentes de cooperação com o governo. Mas os julgamentos assustam a campanha pela reeleição de Dilma, como ocorreu na intervenção de Lula e na presença do advogado-geral na sessão do TCU.
O campo de manobra à disposição do governo na campanha realimenta, porém, o discurso de palanque da oposição a partir da base social de insatisfação com escândalos. A Petrobrás, por exemplo, comunicou aos acusados de Pasadena que tem como pagar as multas e os advogados que eles escolherem para a defesa de cada um. O estatuto da empresa garante o pagamento de despesas judiciais na defesa de atos administrativos.