Os cortes no orçamento do Ministério da Cultura entre 2022 e 2023 afetaram a capacidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) em manter e restaurar bens tombados em Goiás. A Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, na Cidade de Goiás, é um exemplo do abandono do patrimônio goiano. Enquanto a estrutura enfrenta a deterioração de peças de madeira devido a chuva e incidência de cupins, além de rachaduras em paredes e manchas de umidades em parede, a manutenção da rede elétrica, iniciada pelo Iphan só vai ser concluída em 2026, três anos após seu início.

Em maio deste ano, a Secretaria de Estado da Cultura de Goiás alertou o IPHAN e o IBRAM sobre a execução de restauração de todas as igrejas históricas do município de Goiás. No entanto, ao contrário de outros edifícios religiosos, a Igreja da Boa Morte — que funciona como o Museu de Arte Sacra da Boa Morte — não é tombada como patrimônio estadual, apenas federal. Com isso, a responsabilidade pela conservação recai sobre o Ibram e a Diocese de Goiás, proprietária do imóvel.

Em resposta, o órgão alegou que o os cortes orçamentários seguidos de contingenciamentos no orçamento prejudicaram as restaurações e manutenções preventivas nos acervos nacionais e regionais. Segundo o IBRAM, a manutenção elétrica iniciada em 2023 só deve ser finalizada em 2026.

A última intervenção realizada na igreja foi uma pintura realizada pelo IBRAM, em agosto de 2020. Em 2021, foi pedido uma prevenção e adaptação de incêndio,

Críticas ao Iphan

Durante a transferência simbólica da Capital do Estado para a antiga cidade sede do poder em Goiás, o governador Ronaldo Caiado (UB) e o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), criticaram o descaso do instituto com a preservação do patrimônio. Em vídeo publicado nas redes sociais, o governador cobrou o repasse do imóvel para que o estado assumisse a restauração. “Esse aí é o descaso do IPHAN, é um órgão que só sabe atrapalhar e não ajuda em nada. A praça toda recuperada e somente a Igreja Nossa Senhora da Boa Morte totalmente rasgada”, disse Caiado.

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O presidente nacional do IPHAN, Leandro Grass, respondeu o vídeo do governador dizendo que a gestão do prédio não está sob o comando do órgão. Apesar disso, o IPHAN não é apenas um órgão fiscalizador, podendo trabalhar para a captação de recursos e encabeçar reformas e manutenções nos prédios tombados. As últimas obras de restauração realizadas pelo Iphan em Goiás foram a inauguração de um museu a céu aberto, nas ruínas de Ouro Fino e a reforma do Theatro Sebastião Pompeu de Pina.

Já Peixoto citou as reformas realizadas pelo governo goiano, entregues pelo governo estadual, e sugeriu que o instituto transferisse a responsabilidade da igreja, que é tombada como parte do patrimônio histórico, para o governo estadual comandar a reforma.

Laudo técnico revela situação da igreja

Localizada entre as ruas Luis R. O. Couto e Felix Bulhões, a Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, no município de Goiás, começou a ser construída em 1779, e foi finalizada em 1826, cerca de 153 anos após seu início. De propriedade da Diocese de Goiás, mas tombada como patrimônio histórico individual pelo IPHAN, o local funciona hoje como um museu, além de fazer parte do conjunto arquitetônico e urbanístico da Cidade de Goiás.

O mais recente relatório técnico de inspeção aponta agravamento nas condições estruturais, especialmente nas peças de madeira, como forros e esquadrias. Há ainda registro de fissuras em paredes, afundamento do piso no hall de entrada (equivalente à nave da igreja), e instalações elétricas precárias, que apresentam risco de incêndio.

Vídeo mostra fachada deteriorada do edifício | Vídeo: Arquivo/Jornal Opção

O documento aponta ainda que o interior da igreja apresenta manchas de umidade, o que pode indicar o deslocamento do telhado ou telhas quebradas. Segundo o documento, o edifício é de responsabilidade do IBRAN, ligado ao Ministério da Cultura, onde o Iphan também está instalado.

A arquiteta responsável pela inspeção recomenda que sejam feitas inspeções e manutenções periódicas na cobertura “a fim de evitar mais infiltrações e posteriores danos à alvenarias e estruturas de madeira”.

O ponto mais preocupante, no entanto, é quanto à incidência de fissuras em paredes, problemas na instalação elétrica, que pode provocar incêndios, além do afundamento do piso no hall de entrada no salão de exposição, equivalente à nave da igreja.

Um processo de manutenção da rede elétrica chegou a ser iniciado em 2022, mas não foi concluído. De acordo com o ofício enviado ao escritório técnico de Goiás, a contratação de empresa especializada em manutenção preventiva de bens tombados foi reiniciada. Apesar disso, a execução dos serviços só deve ocorrer a partir de 2026.

Na lateral esquerda do prédio e na fachada, houveram perdas de madeira da esquadria devido a infestação de cupins, além de muitas manchas de umidade. Entre as recomendações de manutenção, a profissional aponta a impermeabilização das superfícies externas, reparo de infiltrações e seu monitoramento.

Histórico

A igreja, que abriga hoje o Museu de Arte Sacra da Boa Morte, já foi uma Capela Militar de Santo Antônio. Anos depois, passou a ser a Confraria dos Homens Pardos. Foi também matriz provisória.

A fachada possui um portal central, acesso com escada em curva de 3 degraus e arcos com ombreiras. São três janelas com frontões, triangulares, frontões em curva e o medalhão em relevo ao centro.

O local passou por dois grandes incêndios, sendo que um destruí o altar-mor, precisando ser restaurado. Em 1978, a igreja passou por uma restauração geral e adaptação para o museu.

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