O tráfico de tarântulas tem se tornado um tema crescente no mundo da conservação e do comércio ilegal de animais, segundo reportagem da BBC. Jackie Peeler, que passou mais de 40 anos gerenciando invertebrados em zoológicos e museus, observou que as reações das pessoas às tarântulas são intensas: amor e medo coexistem. Com seus oito olhos brilhantes e membros peludos, essas criaturas fascinantes atraem tanto curiosidade quanto aversão.

Há cerca de 25 anos, Peeler liderava um programa de zoológico móvel que apresentava tarântulas a públicos em festivais e shoppings. “Quando as pessoas veem algo que nunca encontrariam na natureza, isso cria uma conexão poderosa”, explica Peeler, agora gerente do centro de cuidados com animais no Museu de Ciências de Boston. Ela destaca que, mesmo sendo aterrorizantes para alguns, as tarântulas cativam o interesse público.

Infelizmente, esse fascínio tem um lado sombrio. O aumento do interesse por tarântulas como animais de estimação e colecionáveis contribuiu para o tráfico ilegal dessas espécies. Chris Hamilton, professor assistente da Universidade de Idaho, observa que o “hobby da tarântula” começou a ganhar popularidade na década de 2000, levando a coleções de mais de 100 espécies em fóruns online. Esse comportamento é comparado ao colecionismo de Pokémon, onde a diversidade de cores e padrões das tarântulas é um atrativo.

A demanda crescente por tarântulas levou ao surgimento de um mercado ilícito que ameaça várias espécies. As tarântulas são particularmente vulneráveis à coleta ilegal devido à sua longevidade — algumas podem viver até 30 anos — e à reprodução lenta. Muitas espécies endêmicas, como as do gênero Poecilotheria, enfrentam risco de extinção antes que os cientistas tenham a chance de estudá-las.

Além disso, um estudo revela que cerca de 43% das espécies de tarântula são comercializadas como souvenirs ou para pesquisa, e o mercado de souvenirs está crescendo rapidamente. O comércio ilegal se intensificou nas últimas décadas, especialmente com o advento da internet, que facilitou a conexão entre comerciantes e entusiastas.

Regular o tráfico de tarântulas é um desafio, especialmente porque muitas espécies não são rastreadas pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES). Apenas uma fração das espécies existentes está protegida, tornando difícil avaliar o impacto do comércio ilegal. Métodos como o “brownboxing”, onde os espécimes são enviados ilegalmente sob falsas denominações, complicam ainda mais a situação.

Especialistas acreditam que a educação do público sobre a importância das tarântulas é crucial para mudar a percepção negativa associada a esses aracnídeos. Peeler compartilha histórias de como o interesse pelas tarântulas pode superar o medo, como no caso de um garoto que, ao aprender sobre essas criaturas, se tornou curioso e passou a visitá-las frequentemente.

A regulamentação do comércio de tarântulas e a promoção da reprodução em cativeiro, quando feita de forma adequada, podem ser ferramentas valiosas para a conservação. No entanto, isso requer um sistema de monitoramento eficaz e um compromisso com a proteção das espécies.

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