Entenda os detalhes do plano golpista descoberto pela PF para manter Bolsonaro no poder
23 novembro 2024 às 12h39
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Uma investigação da Polícia Federal (PF) desbaratou o que poderia ter sido o maior golpe de Estado da história do Brasil, uma trama envolvendo uma tentativa de assassinato do presidente eleito em 2022, Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. Denominado pelos militares de “Punhal Verde Amarelo”, o plano envolvia seis militares das Forças Especiais do Exército, conhecidos como “Kids Pretos”.
Conforme descoberto pela PF e detalhado em uma reportagem da revista IstoÉ, o objetivo do grupo, formado por generais do Exército Brasileiro e com o apoio do então presidente Jair Bolsonaro, era executar o golpe no dia 12 de dezembro de 2022, data da diplomação dos vencedores da eleição. Contudo, devido ao atraso do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em realizar a cerimônia, a ação foi adiada para o dia 15 de dezembro. O plano também contemplava outras formas de eliminar Lula e seu vice, como envenenamento, disparos de pistola ou explosões de granadas.
Veja transcrições de conversas entre os militares:
O projeto foi orquestrado pelo general Walter Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e ex-candidato a vice-presidente de Bolsonaro. A estratégia envolvia a captura de Moraes, e, em seguida, Bolsonaro anularia a eleição e decretaria a prisão ou morte de seus adversários, instaurando um gabinete de crise para governar o país. O documento com o plano foi impresso no Palácio do Planalto.
Segundo as investigações, embora a ação tenha sido paralisada, ela não foi abandonada. O grupo continuou monitorando Moraes até pouco antes da posse de Lula. No dia 8 de janeiro de 2023, o general de quatro estrelas Estevam Cals Theophilo, comandante da força terrestre, estava pronto para ocupar Brasília, mas o vice-presidente Hamilton Mourão desistiu do plano na última hora e se recusou a assinar o documento que autorizaria o golpe. Nesse período, Bolsonaro já estava fora do Brasil.
O general de brigada Mário Fernandes, braço direito de Braga Netto, coordenava as ações da trama. A PF frisa que Bolsonaro teria dado sinal verde para o golpe, ato que foi comemorado por Fernandes. A polícia também revelou que Bolsonaro havia articulado com um grupo do agronegócio para apoiar a ação, seis dias antes da tentativa de prisão de Moraes.
Alexandre de Moraes, inclusive, foi alvo de fuzis em sua casa em São Paulo. O objetivo da ação não era apenas matar o ministro, mas cassar a chapa vencedora da eleição, consumando o golpe. De acordo com a PF, Bolsonaro afirmou que entre os dias 12 e 31 de dezembro de 2022, qualquer coisa poderia acontecer. As investigações indicam que Bolsonaro, Braga Netto e Fernandes foram os principais articuladores da trama.
Para financiar a operação, os militares se reuniram no dia 12 de novembro de 2022, na casa de Braga Netto, e fizeram uma vaquinha inicial de R$ 100 mil para custear as ações. Estiveram presentes os tenentes-coronéis Mauro Cid e Ferreira Lima, além do major Rafael Martins de Oliveira, que, segundo a PF, eram responsáveis pela retaguarda das ações.
Os “Kids Pretos” se disfarçariam e usariam linhas telefônicas em nomes de pessoas que não sabiam da trama. Como o ano era de Copa do Mundo, os agentes adotaram codinomes inspirados em países participantes do evento, como Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana. Os alvos eram identificados por apelidos: Moraes era chamado de “professora”, enquanto Lula e Alckmin eram chamados de “Jeca” e “Joca”, respectivamente.
Veja outros prints:
PGR decidirá se denuncia Bolsonaro outros indiciados
Na próxima segunda-feira, 25, Alexandre de Moraes deve encaminhar à Procuradoria-Geral da República (PGR) o relatório final sobre a investigação da tentativa de manter Jair Bolsonaro no poder após sua derrota nas eleições de 2022.
No entanto, a formalização de uma eventual denúncia pela PGR ficaria para 2025. A apuração da PF resultou no indiciamento do ex-presidente e de outras 36 pessoas, incluindo militares e aliados de Bolsonaro.
Mesmo antes de a PGR formalizar a denúncia, há informações de que o STF começará a se organizar para julgar o ex-presidente, militares e seus aliados. A previsão é que os julgamentos aconteçam no primeiro semestre do próximo ano, com o objetivo de impedir que os processos avancem até o período eleitoral de 2026.
Bolsonaro se manifesta após indiciamento
Após ser indiciado pela Polícia Federal, Bolsonaro, em entrevista à coluna de Paulo Capelli, criticou Alexandre de Moraes, relator do processo no STF. “Ele conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e conta com uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que a lei não permite”, avaliou Bolsonaro.
O ex-presidente destacou a necessidade de aguardar o conteúdo do indiciamento feito pela PF. “Vou esperar o parecer do advogado. Isso, obviamente, será encaminhado à PGR, e é lá que a luta começa. Não posso esperar nada de uma equipe que usa da criatividade para me denunciar”, afirmou.
Polícia Federal
Em ofício enviado ao Ministro Alexandre de Moraes, a Polícia Federal informou que a operação Tempus Veritatis identificou informações relevantes sobre ações operacionais ilícitas executadas por militares com formação em Forças Especiais (FE).
De acordo com a PF, as ações operacionais realizadas após as eleições visavam viabilizar um golpe de Estado, com o objetivo de impedir a posse do governo legitimamente eleito e restringir o livre exercício do Poder Judiciário brasileiro.
A PF ainda relatou que as condutas identificadas pela investigação mostram que esse grupo utilizou um elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas. Essas ações incluíam, entre outras coisas, o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes, com o intuito de culminar em sua prisão ou assassinato.
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