Com 1,052 milhão de habitantes em 19 cidades, o Entorno Metropolitano de Brasília abriga uma população capaz de decidir eleições, sobretudo pleitos majoritários. Segundo dados da Justiça Eleitoral, em 2026, Goiás terá 5,1 milhões de eleitores aptos a votar — 756 mil apenas no entorno. Deste total, 642,8 mil apenas vivem nas dez maiores cidades, como Luziânia, Águas Lindas, Valparaíso e Formosa. A região, que historicamente foi tratada como “periferia de Brasília”, nos últimos anos passou a ser vista por partidos e lideranças como território estratégico.

Historicamente, A realidade política do Entorno de Brasília não pode ser dissociada de sua formação histórica. Desde a inauguração da capital federal, em 1960, milhares de trabalhadores migraram de diferentes regiões do Brasil para atuar na construção civil, no serviço público e nos setores de apoio à nova capital.

Com o passar dos anos, Brasília se consolidou como uma cidade planejada e com alto custo de vida, o que dificultou o acesso à moradia para os trabalhadores . O preço do metro quadrado e a rigidez do plano urbanístico empurraram milhares de famílias para áreas vizinhas, em território goiano, onde a ocupação se deu de forma desordenada.

Esse processo gerou cidades-dormitório, com população majoritariamente dependente de Brasília para emprego e renda, mas distante dos serviços básicos da capital federal. O transporte público caro e precário sempre foi uma das principais reclamações dos moradores, assim como a falta de infraestrutura urbana e o déficit de moradia digna.

O surgimento de assentamentos e ocupações irregulares, como o caso emblemático da favela do Sol Nascente, ilustra como o crescimento populacional não foi acompanhado por políticas públicas suficientes.

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756 mil eleitores

Ano a ano, o número de candidaturas e de eleitores do Entorno do DF crescem significativamente. O cenário eleitoral para 2026 revela uma movimentação intensa de lideranças comunitárias, prefeitos e ex-prefeitos e que tentam se posicionar como alternativas aos grandes nomes da política estadual como candidatos a deputados. Essas figuras ocupam as “trincheiras” locais, construindo base no dia a dia com associações de bairro, conselhos comunitários e articulações de câmaras municipais.

Mapa mostra as cidades do Entorno Metropolitano do DF | Foto: Célio Galdino

No entanto, há uma diferença marcante: enquanto os vereadores e suplentes se lançam com capilaridade popular, os políticos tradicionais — ex-prefeitos, deputados em exercício ou lideranças com apoio do governo estadual — entram na disputa com mais recursos, palanques fortes e a chancela de partidos estruturados.

Águas Lindas: um retrato do embate

Esse fenômeno aparece com clareza em Águas Lindas de Goiás, maior colégio eleitoral do Entorno. Ali, o vereador Keké (Mobiliza), que já conquistou 10 mil votos, tenta se projetar como pré-candidato. A procuradora municipal Dra. Mariana de Moura, também cogitada, depende do apoio direto do prefeito para viabilizar sua candidatura.

Apesar dessas movimentações, nomes tradicionais, como Hildo do Candango (Repulicanos), largam em vantagem: em 2022, ele recebeu 30 mil votos e agora conta com o apoio do prefeito Dr. Lucas (UB), da maioria dos vereadores e do presidente da Câmara. Com essa base, deve ultrapassar facilmente os 50 mil votos — um patamar dificilmente alcançado por vereadores e suplentes que ainda buscam consolidar redes mais amplas.

O mesmo se repete em Formosa, onde vereadores e líderes comunitários articulam candidaturas, mas enfrentam concorrência pesada de nomes já consolidados como Célio Silveira (MDB) e Lêda Borges (PSDB). Em Valparaíso, suplentes tentam cavar espaço, mas a disputa real deve ficar entre figuras de peso, como Pábio Mossoró (MDB) e a própria Lêda.

Em municípios menores, como Cristalina e Planaltina, prefeitos que ensaiam candidaturas estaduais também tendem a eclipsar vereadores e suplentes, já que dispõem da máquina administrativa e de apoio partidário.

Maior colégio eleitoral tem embate à altura

Pábio Mossoró, Ronaldo Caiado, Marcus Vinicius (prefeito de Valparaíso) e Daniel Vilela | Foto: Divulgação

Luziânia é, com folga, o município com maior densidade eleitoral do Entorno do Distrito Federal, consolidando-se como peça fundamental no tabuleiro das eleições de 2026. O tamanho da base de eleitores e a multiplicidade de questões urbanas — trânsito, serviços públicos e relações com Brasília — tornam o município um palco indispensável para qualquer estratégia política estadual. Além disso, sua influência reverbera em municípios vizinhos como Valparaíso, Novo Gama e Cidade Ocidental, ampliando o alcance da disputa.

Na corrida estadual e federal, emergem figuras com trajetória consolidada no município. Pábio Mossoró deve disputar mandato de deputado federal em 2026. O ex-prefeito de Valparaíso por duas gestões, ocupa atualmente a Secretaria do Entorno do DF e Entorno, nomeado estrategicamente por Ronaldo Caiado (UB) e Daniel Vilela (MDB). Duas gestões bem avaliadas na Prefeitura e o cargo no governo estadual concederam-lhe prestígio o bastante para concorrer à Câmara dos Deputados.

Seu plano de ser deputado a federal tem duas consequências imediatas. Primeiro, Valparaíso fica pequena para dois candidatos ao Congresso Nacional — a deputada estadual Dra. Zeli Fritsche (UB), que tinha planos de ir à federal, deve concorrer à reeleição estadual. A segunda consequência é que, sendo ele mesmo candidato, Pábio Mossoró não mais apoiará Célio Silveira, que disputa a reeleição. Célio Silveira é de Luziânia, mas teve apoio de Valparaíso via Mossoró nas últimas eleições. A perda do apoio pode enfraquecê-lo.

Pábio Mossoró é secretário de uma pasta chave: a Secretaria de Entorno do DF, que articula diretamente os 19 municípios da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal (RIDE), com visibilidade ampliada no Entorno. Pábio Mossoró disse ao Jornal Opção que seu principal projeto é contribuir com a eleição de Daniel Vilela, vice-governador e presidente do MDB regional, para governador. Sua candidatura a deputado federal fortalece a postulação do vice-governador no Entorno.

Do outro lado, Lêda Borges é outra liderança local com presença marcante — ex-prefeita de Valparaíso e ex-deputada estadual, hoje deputada federal por Goiás, Lêda Borges negocia filiação ao Republicanos ou ao UB. Mas pode ficar no PSDB. O resultado em Luziânia pode se transformar em termômetro para o desempenho das chapas ao governo do estado e às cadeiras federais.

Novos players

Daniel Vilela, Carlinhos do Mangão e Joscilene Martins: o PL que apoia o pré-candidato do MDB | Foto: Divulgação

No Novo Gama, o prefeito Carlinhos do Mangão, apesar de estar no PL, já declarou apoio integral ao vice-governador Daniel Vilela (MDB) para a disputa estadual de 2026. Sua permanência no Partido Liberal é objeto de especulação há meses. Ele deve lançar sua esposa, a primeira-dama Joscilene Martins, como candidata a deputada estadual.

Joscilene Martins é considerada uma força política com relevante popularidade devido ao seu trabalho na Secretaria de Promoção Social e Cidadania, e ao ótimo trânsito no meio evangélico. Com Mangão apoiando a esposa, o deputado estadual Wilde Cambão (PSD) perde seu apoio.

Esta é mais uma situação em que a entrada de um novo player incomoda o arranjo estabelecido: Wilde Cambão (PSD) deve boa parte de sua conquista eleitoral a Novo Gama, cidade onde teve mais de 9 mil votos em 2022. O prefeito Carlinhos do Mangão o apoiou naquele pleito.

Planaltina, Cristalina e Cidade Ocidental: prefeitos se lançam

Delegado Cristiomário Medeiros (prefeio de Planaltina) | Foto: Reprodução

Em Planaltina, o prefeito Delegado Cristiomário (PP) confirmou sua intenção de disputar uma vaga na Assembleia Legislativa em 2026. Aliado de Caiado e de Daniel Vilela, ele deve deixar o cargo para o vice-prefeito, Zezinho do Planalto (UB), em abril do ano eleitoral. Ele disse à reportagem que a gestão conta com o apoio de deputados federais como Célio Silveira, Lêda Borge e Adriano do Baldy, Daniel Agrobom (PL) e Silvye (UB), mas que as conversas para uma dobradinha ainda estão acontecedendo.

O prefeito de Cristalina, Dr. Luis Otávio (sem partido), confirmou que irá se filiar ao União Brasil, após ter sido eleito pelo PL em 2024. A decisão é outra que fortalece a base do governador Ronaldo Caiado e Daniel Vilal.

Em Cidade Ocidental, o ex-prefeito Fábio Corrêa (PP) pode entrar na corrida por uma vaga estadual, com apoio da estrutura que elegeu o atual prefeito.

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