Nesta segunda-feira, 9, enfermeiros das Maternidades Dona Íris, Nascer Cidadão e Célia Câmara, em Goiânia, deram início a uma greve por tempo indeterminado. A paralisação foi aprovada por unanimidade durante a Assembleia Geral Extraordinária realizada na última sexta-feira, 6, convocada pelo Sindicato dos Enfermeiros de Goiás (Sieg). Apenas 30% dos atendimentos de urgência e emergência estão sendo mantidos, conforme exige a legislação.

Segundo a presidente do Sieg, Roberta Rios, a greve é reflexo direto da precariedade enfrentada pelos profissionais da saúde, que já lidavam com salários atrasados e condições de trabalho insustentáveis antes mesmo da decisão judicial. “Os enfermeiros têm sido sobrecarregados em um sistema que está em colapso. Essa situação, infelizmente, não é novidade, mas chegou ao limite com os atrasos nos salários, na primeira parcela do 13º e no adiantamento de férias”, afirmou.

Roberta também destacou que a greve não é apenas uma questão salarial, mas uma luta pelo reconhecimento e pela dignidade da profissão. “Os profissionais da enfermagem são o alicerce do sistema de saúde, mas somos tratados com descaso. A paralisação é nossa única forma de pressionar por mudanças”, enfatizou.

A greve já impacta o funcionamento das maternidades, com redução significativa no número de atendimentos. “A redução no número de enfermeiros compromete diretamente o fluxo de pacientes. Não se trata apenas de números; estamos falando de vidas que dependem de um atendimento ágil e de qualidade”, explicou Roberta.

Coincidentemente, a greve ocorre no mesmo dia em que o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) determinou, também de forma unânime, a intervenção do governo estadual na Saúde municipal de Goiânia. A decisão transfere, de imediato, a gestão da área para uma equipe designada pelo governador, que deverá adotar medidas emergenciais para reorganizar o sistema.

Questionada sobre a intervenção estadual, a presidente do Sieg afirmou que o sindicato ainda não foi contatado pela nova gestão, mas espera que o movimento dos enfermeiros pressione por uma solução imediata. “Até agora, não houve nenhum diálogo por parte da equipe de transição do Estado. Estamos tentando contato, mas ainda sem retorno. A nossa expectativa é que essa intervenção traga mudanças reais e que os direitos dos profissionais sejam priorizados”, disse.

Intervenção na Saúde

A intervenção estadual foi determinada em meio a uma crise sem precedentes na Saúde de Goiânia, agravada pela falta de insumos, medicamentos e profissionais, além de atrasos nos pagamentos. Segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO), a situação levou ao óbito de seis pacientes em unidades de pronto atendimento (UPAs) devido à falta de leitos de UTI.

A presidente do TJGO, Carlos França, destacou que o interventor terá liberdade para adotar medidas emergenciais. “Estamos diante de uma crise que exige ação imediata. A intervenção tem o objetivo de reorganizar o sistema de saúde, garantindo o atendimento à população e a regularização das condições de trabalho dos profissionais”, afirmou durante o anúncio da decisão.

Ato do Sieg

Além da greve, o SIEG planeja um ato público nesta quarta-feira, 11, em frente à Corregedoria da Polícia Militar. A manifestação abordará, além dos atrasos salariais, a violência sofrida por profissionais de saúde no exercício de suas funções. “Não podemos mais aceitar ameaças ou agressões enquanto fazemos nosso trabalho. Esse protesto será um grito coletivo por respeito e segurança”, ressaltou Roberta.

A presidente do sindicato também informou que uma nova assembleia será realizada nos próximos dias para discutir os rumos da greve. “Atualmente, a paralisação está sendo feita de forma parcial, com 30% dos atendimentos mantidos, mas não descartamos a possibilidade de uma paralisação total caso nossos direitos continuem sendo ignorados”, concluiu.

Até o momento, a Prefeitura de Goiânia não se manifestou oficialmente sobre a paralisação. Já a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), responsável pela administração das maternidades, informou, por meio de nota, que está em constante diálogo com o SIEG e com a Secretaria Municipal de Saúde para buscar soluções.

Nota da Fundahc

Acerca da paralisação de enfermeiros e técnicos de enfermagem, a Fundahc/UFG informa o que segue:

  • É direito dos trabalhadores celetistas e estatutários aderir a movimentos grevistas, desde que respeitem a legislação vigente. Conforme estabelecido pela Lei nº 7.783/1989, é obrigatório manter um percentual mínimo de 30% dos profissionais de enfermagem em atividade, assegurando assim a continuidade dos serviços essenciais à população.
  • Os respectivos sindicatos informaram sobre a decisão de paralisação e, até o momento, os profissionais cumprem o definido em lei.
  • Dos 1.530 colaboradores da fundação, 733 são enfermeiros ou técnicos de enfermagem. Há, ainda, 76 profissionais que são servidores da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS). A classe desempenha um papel fundamental e indispensável nas rotinas de assistência aos pacientes.
  • A Fundahc/UFG é uma fundação sem fins lucrativos gestora das maternidades de Goiânia. Todos os recursos para sua manutenção são provenientes da Prefeitura da capital por meio da SMS. 
  • A crise financeira enfrentada pelas maternidades é uma realidade há muito conhecida e todos os esforços têm sido feitos pela direção-executiva da Fundahc/UFG para saná-la. A fundação aguarda, portanto, repasse de recursos para pagamento da folha salarial, 13° salário, férias e vale-alimentação dos colaboradores até a presente data.
  • A fundação se solidariza com os profissionais e agradece seu trabalho e sua dedicação à saúde dos pacientes.

Assessoria de Imprensa Fundahc/UFG
09/12/2024

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