Em reunião com empresários, Caiado define “frente tripla” de crédito para enfrentar tarifas de Trump

22 julho 2025 às 21h31

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Empresários de setores de Goiás que serão afetados pelas tarifas que o presidente norte-americano Donald Trump pretende impor a partir de 1º de agosto ao Brasil terão acesso a três diferentes fundos de crédito, em uma estratégia do governo estadual para mitigar os prejuízos esperados com as novas taxas. A medida foi definida em reunião realizada nesta terça-feira, 22, no Palácio das Esmeraldas, entre o governador Ronaldo Caiado e representantes de empresas e entidades da indústria e do comércio goianos.
Foram definidos seis segmentos prioritários no estado, cujas demandas e estimativas de impactos com as tarifas começarão a ser ouvidas pelo governador a partir desta quarta-feira, 23, no Palácio Pedro Ludovico Teixeira. Serão quatro reuniões de 2 horas amanhã e duas na manhã de quinta-feira, uma com cada segmento.
O primeiro encontro será feito com representantes do segmento de fármaco e saúde do estado. Caiado, inclusive, destacou que haverá um diálogo com autoridades norte-americanas na tentativa de isentar esse segmento, englobando insumos de saúde, das tarifas. “É um gesto humanitário. Não é possível a inclusão da área de medicamentos, que são fundamentais para a vida das pessoas, e também de peças de aparelhos que são da indústria americana”, disse.
Também serão ouvidos representantes das áreas de carne e pescados, mineração, setor sucroenergético, soja e cítricos e curtume. A intenção, conforme Caiado, é fazer um levantamento preciso de como cada setor será impactado pelas tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros exportados para os EUA. No entanto, o governador adiantou que o Estado vai atuar em uma frente tripla de fundos de créditos, que serão disponibilizados aos segmentos mais afetados pelas taxações.

“Como alternativas, o Estado de Goiás tem ferramentas capazes de poder atender aos setores mais penalizados. Aqueles que terão, de imediato, uma perda substantiva, podendo colocar em risco a empresa e os empregos”, comentou o chefe do Executivo estadual.
O primeiro fundo de crédito a ser usado será Fundo de Equalização para o Empreendedor, o Fundeq, criado em 2020, durante a pandemia da Covid-19, via lei complementar, com o objetivo de prover recursos para a concessão de subsídio ao pagamento de encargos aos tomadores de empréstimos na Goiás Fomento.
Na ocasião, Caiado justificou a criação do Fundeq citando que ele possibilitaria a ampliação da concessão de financiamentos produtivos, na então crise econômica decorrente da pandemia de Covid-19, que afetou o fluxo de caixa das empresas e impossibilita novos investimentos.
Simultaneamente aos recursos do Fundeq, os empresários afetados pelo tarifaço trumpista poderão recorrer ao recém-criado Fundo de Estabilização Econômica de Goiás, o FEG, aposta do governo Caiado para blindar as contas públicas em períodos de crise e evitar a paralisação de investimentos e políticas públicas no estado.
Baseado em estudos do Instituto Mauro Borges e da Secretaria-Geral de Governo, o FEG é vinculado à Secretaria Estadual de Economia e tem como finalidade estabilizar as receitas públicas via reserva financeira do PIB estadual.
O último, este ainda a ser criado via decreto e apresentação na B3, bolsa de valores de São Paulo, é o Fundo de Direitos Creditórios. O fundo tem estimativa de cerca de R$314 milhões em créditos de ICMS e até R$ 314 milhões de contrapartida do mercado, totalizando quase R$ 630 milhões que serão disponibilizados em crédito, com taxa de juros de 10%.
“De toda maneira, vamos continuar buscando o diálogo, vamos tentar continuar sempre com o objetivo de superar essas dificuldades, já que não tem o porquê dos nossos setores serem comprometidos. Sempre fomos parceiros do governo americano, sempre fomos alinhados do ponto de visto ideológico, de princípios democráticos, de economia de mercado. Esse lado do dialogo será buscado por nós”, concluiu Ronaldo Caiado.
O governador vem tecendo críticas ao governo Lula, ao qual se refere como ineficiente e omisso, tanto comercial quanto diplomaticamente, diante da atual situação com os Estados Unidos. Para o chefe do Executivo estadual, Lula tem seguido os mesmos passos que ditadores ao cavar um conflito com os EUA e que ignorado os apelos da população, focando apenas em sua futura tentativa de reeleição.
Boa aceitação
As medidas apresentadas na reunião de hoje, que incluem a “frente tripla” de crédito, parece ter agradado ao setor empresarial. Presidente do Conselho de Assuntos Legislativos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Paulo Afonso Ferreira se referiu aos EUA como um “importante elo de comércio no Brasil há anos”, e que Caiado acerta ao assumir uma postura propositiva.
“O governador tem uma excelente posição de tentar achar, inicialmente, essa questão de solução do problema, com medidas emergenciais. As empresas estão aí, então imagina você ter um produto e não tem pra quem vender”, afirmou Paulo Afonso, na saída do encontro, acrescentando que “Goiás está dando o exemplo” ao propor alternativas para driblar os efeitos das tarifas de Trump.
Já José Garrote, líder da São Salvador Alimentos, que também esteve na reunião, afirmou que a expectativa com as medidas apresentadas pelo governador de Goiás é “extremamente positiva” e que o estado “sai na frente”. “isso ajuda a dar fôlego aos empresários. Foi uma iniciativa ímpar, bem aceita. Todos ficaram muitos agradecidos e até mesmo surpresos pelo governo ter tomado essa decisão. Agora é conversar com cada um dos setores”, arrematou o empresário.
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