Em depoimento, Marcos Valério alimenta teoria de que Lula seria um dos mandantes da morte de Celso Daniel
25 outubro 2019 às 09h29

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Morte foi considerada comum pela Polícia Civil. Mas em novo relato, o operador do mensalão traz novos elementos à ideia de que o ex-presidente e o PT estiveram envolvidos

Uma publicação da revista Veja, nesta sexta-feira, 25, mostra depoimento do empresário Marcos Valério, figura que se popularizou com o escândalo do mensalão, em que aponta suposto envolvimento do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva na morte de Celso Daniel — então prefeito de Santo André, que foi morto a tiros após um sequestro em 2002.
De acordo com o depoimento dado por Valério ao Ministério Público de São Paulo, Lula e outros petistas teriam sido chantageados por um empresário em Santo André que ameaçava implicá-los na morte de Celso Daniel.
Segundo o operador do mensalão, ele teria ouvido de um empresário que Lula teria sido um dos mandantes do assassinato. Entretanto, a morte do ex-prefeito é tida como um crime sem motivação política. O depoimento, no entanto, foi enviado pelo promotor Roberto Wilder Filho ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, que o anexou a uma investigação sigilosa que está em curso.
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Ainda conforme a história contada por Valério, tudo teria começado em 2003, quando Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, convocou-o para uma reunião no Palácio do Planalto. No encontro, o anfitrião afirmou que o empresário Ronan Maria Pinto, que participava de um esquema de cobrança de propina na prefeitura de Santo André, ameaçava envolver a cúpula do Planalto no caso da morte de Celso Daniel.
“Marcos, nós estamos com um problema. O Ronan está nos chantageando, a mim, ao presidente Lula e ao ministro José Dirceu, e preciso que você resolva”, teria dito Carvalho. “Ele precisa de um recurso, e eu quero que você procure o Silvio Pereira (ex-secretário-geral do PT)”, acrescentou.
O operador do mensalão relata que, antes de deixar o Palácio, tentou levantar mais informações sobre a história com o então ministro José Dirceu. “Zé, seguinte: o Gilberto está me pedindo para eu procurar o Silvio Pereira para resolver um problema do Ronan Maria Pinto. Disse que é uma chantagem”, narra Valério no depoimento, que disse que Dirceu lhe pediu para resolver a situação.
Ele, então, disse que entendeu que resolver seria comprar o silêncio do chantagista. Então, ele teria procurado o petista João Paulo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, a quem uma de suas agências de publicidade prestava serviços. Cunha, mais tarde condenado no mensalão, orientou-o a procurar o deputado Professor Luizinho, que tinha sido vereador em Santo André e, portanto, conhecia bem o problema.
Luizinho, então, lhe disse que Celso Daniel topou pagar com recursos da prefeitura a caravana de Lula pelo país, antes da eleição presidencial de 2002, mas não teria concordado em entregar a administração à ação de quadrilhas e àqueles que visavam ao enriquecimento pessoal.
Valério conta que decidiu procurar Silvio Pereira, secretário-geral do PT, para conferir se o assunto era mesmo grave e se realmente envolvia Lula, Dirceu e Gilberto. O secretário teria lhe respondido que o assunto era mais sério do que ele imaginava, e pediu que o empresário se encontrasse com o chantagista.
O depoimento de Valério, no entanto, não traz nenhuma prova concreta, mas alimentou, novamente as diversas teorias sobre o sequestro e morte do ex-prefeito. (Com informações da revista Veja)