Agora, maioria do continente é governado pela esquerda. Situação parecida com a tendência no Brasil e com o que ocorreu na Argentina e no Peru, presidente Gabriel Boric surgiu no enfrentamento à políticas liberais e de extrema direita

Uma nova “onda vermelha” assola a América do Sul, que viu nesta semana a eleição do novo presidente do Chile, Gabriel Boric; e de Pedro Castillo, eleito presidente do Peru. A região, nos últimos anos, viu também o retorno do Kirschinismo na Argentina, em 2019, com a eleição de Alberto Fernandes. Todos surgiram e foram eleitos em um processo eleitoral de enfrentamento à políticas liberais e também de extrema direita.  A eleição de Boric no Chile, inclusive, muda o mapa da América do Sul, que estava dividida e agora tem a maioria governada por partidos de esquerda.

São sete países governados por partidos de esquerda e outros cinco governados por partidos de direita, como é o caso do Brasil, do presidente Jair Bolsonaro (PL); do Uruguai, que elegeu Lecalle Pou em 2019; e do Paraguai, Mario Abdo Benítez. A guinda à esquerda pode influenciar as eleições para a presidência da República em 2022, quando Bolsonaro, líder da Direita, deve enfrentar o ex-presidente Lula (PT), que tem despontado como principal liderança da esquerda e tem liderado todas as pesquisas eleitorais divulgadas até agora.  

Apesar da força e deste retorno de lideranças de esquerda assumindo o poder no Continente, o cientista político Luiz Signates explica que a influência deve ser pequena porque o eleitor brasileiro vota diferente do eleitor do restante da América Espanhola, que foi colonizada de uma maneira diferente e que tem diferenças no eleitorado por causa do distanciamento cultural. Ainda assim, o especialista afirma que a onda de governos de esquerda retomando o poder no continente dificulta para os adversários deslegitimarem esse processo no Brasil, como se fosse anômalo ou exceção. 

“O eleitor brasileiro não se sentirá pressionado ou encorajado a votar em candidaturas à esquerda por causa da América espanhola”, pontua. Isso porque, segundo o especialista, o brasileiro vota julgando o desempenho do governo no campo econômico. Ou seja, se a vida não melhorou, o eleitorado vota em mudança.  

A mudança mais significativa tem sido nos posicionamentos políticos de políticas liberais e de extrema direita, como foi o caso de Boric, que enfrentou o político de extrema direita José Antônio Kast e também de Castillo, que venceu Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, no Peru.  

Estas oposições surgiram de um “insucesso retumbante” dos governos liberais e conservadores em países pobres que eram chamados de países de terceiro mundo e que contrastam com os dados de melhoria de qualidade de vida e de compromisso com a proteção social dos mais pobres, que são oferecidos por governos de esquerda. Isso pode ser o anúncio de um novo período de hegemonia das esquerdas no poder. 

“Não há dúvidas de que, no voto em 2022, o eleitor pensará mais de uma vez, antes de votar em alguém que prometa limpar a corrupção, por estar vivendo a experiência de um moralista, cujas atitudes terminam por fazer piorar a vida dele, eleitor”, explica.  

Reaparecimento de forças  

Um ponto em comum às eleições recentes da América do Sul tem sido o reaparecimento de nomes conhecidos da política nacional, como é o caso de Lula, e da vice-presidente da Argentina, Cristina Kirschner, que já foi presidente do país e estava cotada para concorrer à presidência, mas abriu mão e ainda assim fortaleceu a candidatura de Fernandes.  

Signates lembra que estes nomes foram produzidos nos últimos anos, quando surgiram lideranças carismáticas de esquerda que interferem pesadamente no processo eleitoral, e lembra que há outros nomes como o do ex-presidente Pepe Mojica, que não conseguiu eleger sucessor no Uruguai, mas ainda tem influência; e Evo Morales, na Bolívia. A maioria destes nomes surgem como “alternância de poder” e que, em 2022, podem ditar o resultado das eleições brasileiras.