Economistas explicam os sinais contraditórios do crescimento do PIB e da crise fiscal no Brasil
22 dezembro 2024 às 00h00
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Nos últimos meses, a economia brasileira tem enviado sinais opostos. Enquanto o PIB do terceiro trimestre apresentou crescimento de 4% em relação ao mesmo período do ano anterior, marcando o 15º trimestre consecutivo de alta, o mercado financeiro reagiu negativamente a um pacote fiscal considerado insuficiente pelo governo.
A taxa de desemprego, que caiu para 6,2% em outubro — o menor nível em mais de uma década —, reforça o cenário de uma economia aquecida, mas as turbulências nos mercados financeiros e a alta do dólar para mais de R$ 6 indicam desafios significativos à frente.
O crescimento expressivo do PIB, acima das expectativas, reflete o fortalecimento do consumo das famílias, que subiu 5,5% no terceiro trimestre, impulsionado por políticas de renda como o Bolsa Família e o aumento do salário mínimo.
Os serviços, que representam mais de 60% da economia, cresceram 4%, acompanhados por uma expansão de 11% nos investimentos em infraestrutura e maquinário. Contudo, as importações avançaram 18%, evidenciando a dificuldade de atender à demanda interna apenas com a produção nacional.
Apesar do desempenho econômico positivo, o déficit público acumulado de R$ 64 bilhões em 2024 e o aumento da dívida pública de 71% para 78% do PIB desde 2023 destacam a fragilidade fiscal do país.
O pacote fiscal apresentado pelo ministro Fernando Haddad, que inclui limites para reajustes do salário mínimo e cortes em benefícios sociais, foi visto como insuficiente, agravando a desconfiança do mercado. O resultado? A bolsa de valores registrou uma saída recorde de capital estrangeiro, enquanto os juros futuros e a taxa Selic começaram a subir.
A inflação, que atingiu 4,6% em outubro, ultrapassando o teto da meta, pressiona o Banco Central a adotar medidas mais restritivas. Com a Selic já em 12,25% e previsões de alta para 14,25% ou mais, os juros altos devem desacelerar a economia em 2025, reduzindo o crescimento do PIB para cerca de 2% e elevando a taxa de desemprego para 7%.
O que dizem os especialistas?
Especialistas ouvidos pelo Jornal Opção apontam que o atual modelo de crescimento, impulsionado pelo consumo e financiado por dívida pública, é insustentável no longo prazo.
Para evitar um cenário de estagnação ou recessão, o Brasil precisa equilibrar as contas públicas, atrair investimentos e aumentar a produtividade. Reformas estruturais e um ambiente de negócios mais favorável são essenciais para sustentar taxas de crescimento acima de 3% sem gerar desequilíbrios econômicos.
“Diminuir o custo da máquina pública é a reforma mais importante agora”, diz Henrique Meirelles
Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles comentou os principais desafios econômicos enfrentados pelo Brasil, abordando temas como inflação, riscos fiscais, cortes de gastos, alívio tributário e as reformas necessárias para assegurar a sustentabilidade da economia nacional.
Meirelles defendeu a elevação da taxa básica de juros (Selic) promovida pelo Banco Central como uma medida necessária para conter a inflação e evitar o superaquecimento da economia. “A inflação está acima do desejável, e a economia está crescendo bastante. O Banco Central está simplesmente cumprindo a função básica dele, que é controlar a inflação”, afirmou.
Segundo ele, permitir que a economia opere em um nível superaquecido poderia causar danos ainda maiores no longo prazo. “Evitar o superaquecimento é crucial porque a inflação elevada prejudica mais do que qualquer outra medida no curto prazo. É um sacrifício necessário”, ressaltou.
Riscos fiscais e confiança do mercado
Outro ponto central abordado por Meirelles foi o crescimento da dívida pública, que, segundo ele, representa o maior risco fiscal para o Brasil. “O problema é o crescimento da dívida pública, que, num certo momento, pressiona a taxa de mercado. Isso pode prejudicar a economia, especialmente se o ritmo atual for mantido. O FMI já prevê que, em três anos, a dívida pública pode atingir 100% do PIB”, alertou.
Meirelles recordou crises econômicas passadas, como as de 2015, 2016 e 2020, destacando que o descontrole fiscal foi um dos fatores determinantes. “Esse é o risco que enfrentamos. Se não houver medidas contundentes, poderemos vivenciar uma nova recessão no futuro.”
Embora tenha elogiado o pacote de corte de gastos anunciado pelo governo, Meirelles ponderou que a medida não é suficiente para solucionar a crise fiscal. “O pacote é positivo, porque é um passo na direção certa. Mas não parece ser suficiente e ainda enfrenta dificuldades de aprovação no Congresso. O mercado esperava cortes maiores, algo na casa de 70 bilhões de reais, enquanto o governo propôs cortes mais modestos”, explicou.
Para ele, além de aumentar a confiança do mercado, seria necessário implementar reformas estruturais para reduzir o custo da máquina pública.
Isenção do imposto de renda e contradições políticas
A proposta de isenção do imposto de renda para rendas de até R$ 5 mil, anunciada pelo ministro Fernando Haddad, também foi alvo de críticas de Meirelles. Ele destacou o impacto contraditório dessa medida diante do atual cenário fiscal.
“Essa proposta gerou burburinho no mercado. É uma certa contradição anunciar cortes de despesas e, ao mesmo tempo, medidas que reduzem a receita. Isso acaba estressando o mercado”, afirmou.
Embora reconheça a necessidade de medidas que beneficiem a população de baixa renda, Meirelles alertou que a política precisa ser acompanhada de um compromisso claro com o equilíbrio fiscal. “Para resolver isso, o governo precisa demonstrar um compromisso sério com a responsabilidade fiscal. Sem isso, investidores se afastam e recursos deixam de entrar no país.”
Questionado sobre as reformas prioritárias para o país, Meirelles apontou a reforma administrativa como o próximo passo essencial após a aprovação da reforma tributária. “Diminuir o custo da máquina pública seria um avanço estrutural que resolveria o problema fiscal no longo prazo. Essa é a reforma mais importante agora”, afirmou.
Segundo ele, uma reforma administrativa eficiente não apenas reduziria os gastos do governo, mas também criaria as bases para uma gestão pública mais eficaz e sustentável.
Por fim, Henrique Meirelles reforçou a importância de equilíbrio entre as políticas sociais e fiscais para garantir a estabilidade econômica do país. “O Brasil precisa de medidas que combinem alívio para os mais vulneráveis com a sustentabilidade fiscal. Só assim será possível construir um futuro econômico sólido e confiável para todos”, concluiu.
PIB em crescimento
A reportagem também ouviu a a economista Greice Guerra, que apresentou críticas incisivas e propostas para fortalecer a economia nacional. Ela não escondeu sua visão negativa sobre os sucessivos aumentos da taxa Selic, atualmente em patamares elevados. Para ela, a medida contrai a economia ao encarecer o crédito, afetando tanto consumidores quanto empresas.
“Quando a Selic sobe, a economia de uma maneira geral encolhe. O crédito fica mais caro, o que inibe o consumo das famílias e o crescimento das empresas. Aquela empresa que poderia contratar um financiamento para expandir seus negócios e gerar mais empregos simplesmente adia seus planos”, explicou.
Do mesmo modo, o economista Jeferson Vieira, em entrevista ao Jornal Opção, afirmou que o Brasil vive um momento de crescimento econômico, com indicadores que apontam uma expectativa de alta de 3% para este ano.
“A economia vem crescendo bem, existe uma expectativa de crescer 3% no ano passado, cresceu 3%. Isso significa que a economia acelerou este ano em relação ao ano passado”, destacou.
Vieira enfatiza que a taxa de desemprego, atualmente em 6,4%, está em um nível considerado baixo, o que é um sinal positivo para a economia. “Nós estamos com um nível de desemprego bem baixo”, afirmou.
Além disso, o crescimento da massa salarial tem contribuído para fortalecer o mercado interno. “Isso significa que a gente tem uma massa salarial que você multiplica a quantidade de pessoas ocupadas pelo rendimento. Então isso é bom porque isso fortaleceu a questão do mercado interno”, complementou.
Taxa de juros
Já Guerra destacou que o Brasil, por ter uma economia instável, sente os efeitos do aperto monetário com maior intensidade. Contudo, reconheceu que o Banco Central se viu forçado a adotar essa política para evitar um cenário de inflação descontrolada. Outro ponto de destaque foi o déficit fiscal brasileiro, que, segundo Guerra, prejudica a credibilidade do país e afasta investidores.
Para Guerra, o governo precisa “reconhecer o problema e parar de gastar”. Ela enfatizou que medidas como o corte de despesas e o retorno ao teto de gastos são essenciais para restabelecer a confiança dos mercados.
A questão da taxa de juros também foi abordada por Jeferson Vieira. O especialista observou que a taxa Selic, atualmente em 12,25%, é uma das mais altas do mundo, refletindo preocupações com a inflação que, segundo ele, está rodando em torno de 4,87% nos últimos 12 meses.
“Quando a taxa estava baixa, tivemos um problema na questão da inflação. A gente tem uma inflação hoje que cresceu um pouco”, explicou. Ele alertou que o aumento da taxa de juros pode desacelerar a economia e, consequentemente, elevar o desemprego. “Essa taxa Selic alta vai desacelerar a economia. Quando desacelera, você aumenta a questão do desemprego”, afirmou. Além disso, Vieira chamou a atenção para o alto grau de endividamento das famílias, o que agrava a situação econômica.
Risco fiscal
A proposta de isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil mensais também foi analisada pela economista Greice Guerra, que classificou a medida como ilusória.
“Ela só será votada em 2026, no fim do mandato do presidente. Além disso, o governo não indicou de onde tirará os recursos para compensar essa renúncia fiscal. Cogitou-se aumentar a tributação sobre rendimentos acima de R$ 50 mil, mas essa faixa atinge uma classe trabalhadora que sustenta o país, como empresários e industriais”, alertou.
Guerra acrescentou que, mesmo se aprovada, a inflação acabará anulando os benefícios da isenção: “Essa classe que ficaria isenta pagaria sob a forma de elevação de preços”. Outro desafio apontado foi a desvalorização do real, com o dólar atingindo patamares históricos recentemente.
A economista atribuiu parte desse movimento ao anúncio de um pacote fiscal considerado decepcionante. “O investidor se refugia no dólar porque perde a confiança no Brasil. Ele vende suas ações e investimentos no país, aumentando a demanda pela moeda americana. Isso é agravado pela dificuldade do governo em aprovar medidas no Congresso”, explicou.
A perspectiva de políticas protecionistas nos Estados Unidos com a posse de Donald Trump também foi mencionada como um fator secundário para a alta do dólar, mas Guerra destacou que o principal culpado é o cenário interno.
Sobre os riscos fiscais que o Brasil enfrenta, Vieira argumentou que a situação não é de crise fiscal no momento, mas que a falta de controle sobre os gastos pode levar a um aumento da dívida. “Nós não estamos em dominância fiscal, o Brasil não tem uma crise fiscal neste momento. Mas se continuar no patamar que está, a dívida vai aumentar”, advertiu.
Ele sugeriu que é necessário um controle mais rigoroso das despesas em todos os níveis de governo. “Se você pegar o endividamento dos estados, dos municípios também, esse endividamento cresceu bastante”, destacou.
A desvalorização do real frente ao dólar é outra preocupação. “Hoje, o real é a moeda que mais perdeu valor em relação à moeda americana”, observou Vieira, referindo-se à recente cotação que ultrapassou os R$ 6,30.
Segundo ele, a especulação em torno da dominância fiscal e a incerteza em relação à economia americana, bem como a desaceleração do crescimento na China e crises na União Europeia, são fatores que têm contribuído para essa desvalorização.
Vieira também mencionou que a corrida por dólares por parte de brasileiros, tanto pessoas físicas quanto jurídicas, tem aumentado a pressão sobre a moeda. “Quando faltam dólares no mercado, você tem uma demanda maior e, portanto, você tem um aumento do valor do dólar”, explicou.
Soluções
Para fortalecer a economia brasileira e atrair investidores, Guerra apontou a necessidade de reformas estruturais. Ela mencionou a reforma tributária como um avanço, embora ainda aquém do ideal.
“Se implementada corretamente, a reforma tributária pode atrair investimentos e gerar mais emprego, renda e arrecadação. No entanto, o IVA planejado pode ultrapassar 28%, o que considero excessivo. Uma taxação mais baixa seria mais positiva”, sugeriu.
A economista também destacou a importância da reforma administrativa para cortar os chamados “super salários” e reduzir a folha de pagamento do setor público: “Isso ajudaria a equilibrar as contas públicas e melhorar a atratividade do Brasil para os investidores”.
Para estabilizar a situação cambial, Vieira propõe a utilização de reservas internacionais robustas e ações do Banco Central, como a venda de dólares no mercado e a oferta de títulos cambiais para conter a especulação. “O Banco Central está fazendo isso. Ele percebeu que hoje tem um movimento especulativo muito forte contra o real”, afirmou.
Governo ataca BC e economia sangra
Guerra expressou preocupações sobre os constantes ataques do presidente Lula ao presidente do BC, Roberto Campos Neto. Segundo Greice, essas críticas têm acarretado instabilidade no mercado, impactando diretamente na alta do dólar e na credibilidade da política monetária brasileira.
“Desde maio, quando o presidente começou a atacar o Banco Central por conta da elevação da taxa Selic, o dólar subiu de forma significativa. Isso acontece porque esses ataques colocam em cheque a independência do nosso Banco Central, algo fundamental para investidores”, afirmou.
Greice destacou que a independência do Banco Central, estabelecida em 2021, é um dos pilares da credibilidade econômica do país. “Investidores, principalmente os internacionais, avaliam a independência do Banco Central antes de decidir investir. Isso não é específico do Brasil; é um critério universal. Um BC independente aumenta a confiança no mercado”, explicou.
Porém, segundo a economista, as constantes declarações de Lula contra a política monetária têm gerado desconfiança. “Quando o presidente ataca o Banco Central, o investidor se desfaz das suas posições e busca refúgio no dólar, o que desvaloriza o real e causa instabilidade nos mercados globais”, pontuou.
De acordo com Greice, o impacto dos ataques é direto e mensurável. “O dólar começou o ano em R$ 4,98. De maio para cá, com os ataques ao Banco Central, o aumento do rombo nas contas públicas e a pausa nos cortes da Selic pelo Copom, houve uma elevação significativa do dólar”, afirmou.
Ela também explicou que os ataques em nada contribuem para a redução da Selic. “Pelo contrário, cada declaração coloca em dúvida a credibilidade do Banco Central e causa mais alvoroço no mercado, o que eleva a Selic e o preço do dólar”, ressaltou.
Outro ponto abordado foi a responsabilidade pelas taxas de juros. Greice esclareceu que a decisão sobre a Selic não é exclusivamente de Roberto Campos Neto. “A decisão é do Copom, formado por nove membros. É um colegiado, não uma decisão unilateral. Por isso, é fundamental que os ataques cessem para que a credibilidade do sistema seja mantida”, explicou.
Embora critique as declarações de Lula, Greice reconheceu que o atual cenário também é influenciado pelo pacote fiscal e pelo rombo nas contas públicas. “Atualmente, o problema principal é o desequilíbrio fiscal. Mas, do meio do ano para cá, grande parte da alta do dólar foi reflexo dos ataques do presidente, que colocaram em dúvida a independência do Banco Central”, avaliou.
Com o fim do mandato de Campos Neto em janeiro de 2025 e a chegada de Gabriel Galípolo ao comando do Banco Central, Greice espera que a independência do órgão seja preservada. “Graças a Deus, o nosso Banco Central não cede a pressões políticas. Espero que continue assim. Um BC técnico tem tudo para manter a credibilidade do país”, concluiu.
Vieira também analisou como as declarações do governo, especialmente do presidente Lula, sobre a alta taxa de juros podem impactar a economia. “Todos os segmentos produtivos estão batendo nessa tecla. O aumento da taxa de juros só piora para a sociedade, que está endividada”, concluiu.
Ele traçou um paralelo com a administração anterior dos Estados Unidos, ressaltando que as críticas à taxa de juros são comuns a líderes que buscam um equilíbrio econômico.
Real é a moeda mais desvalorizada
Em 2024, o real brasileiro se destacou como a moeda que mais se desvalorizou em relação ao dólar, entre as 20 principais divisas do mundo. Até 17 de dezembro, a moeda nacional acumulava uma desvalorização de 21,52%, segundo dados da consultoria Elos Ayta, um número alarmante que se aproxima da queda de 22,44% registrada em 2020, no auge da pandemia.
Após o pregão da última quarta-feira, a desvalorização do real atingiu 24,30%. Na quarta-feira, o dólar teve um aumento de 2,78%, alcançando R$ 6,267, renovando seu maior valor nominal de fechamento da história.
A decisão do Federal Open Market Committee (FOMC) de cortar 25 pontos-base no custo dos empréstimos nos EUA, ao mesmo tempo que indicou uma redução na velocidade de corte das taxas de juros, também contribuiu para a alta do dólar.
Em comparação com outras moedas ao redor do mundo, apenas quatro apresentaram valorização de dois dígitos: o peso mexicano (16%), a lira turca (16%), o rublo russo (15%) e o won sul-coreano (10%). O euro, por sua vez, teve uma queda de 5% em relação ao dólar, de acordo com dados da XE.com, conforme destacado pela BBC News.
No cenário global, apenas três moedas tiveram desempenho positivo ou se mantiveram estáveis em relação ao dólar: o dólar de Hong Kong (alta de 0,6%), o rand sul-africano (crescimento de 1%) e a libra esterlina britânica (praticamente equivalente).
Confira ranking:
Moeda | Valorização perante o dólar |
Real | -21% |
Peso Mexicano | -16% |
Lira Turca | -16% |
Rublo russo | -15% |
Won sul-coreano | -10% |
Coroa norueguesa | -9% |
Dólar neo-zelandês | -9% |
Iene japonês | -8% |
Dólar canadense | -8% |
Coroa sueca | -8% |
Dólar australiano | -7% |
Franco suíço | -6% |
Euro | -5% |
Coroa dinamarquesa | -5% |
Iuan chinês | -3% |
Dólar de singapura | -2% |
Rúpia indiana | -2% |
Libra esterlina | 0 |
Embora a queda do real nesta quarta-feira seja preocupante, os dados mostram que a situação atual ainda está distante do pior momento de desvalorização anual. Segundo a Elos Ayta, a maior desvalorização histórica ocorreu em 2022, com uma perda de 34,33%, em meio a incertezas políticas durante a transição de governo.
Em contrapartida, o real teve seu melhor desempenho contra o dólar em 2009, quando se valorizou em 34,22%, impulsionado pela recuperação global após a crise financeira de 2008 e pelo forte crescimento do Brasil na época.
Altas de dois dígitos para o real foram eventos raros, ocorrendo em 2003, 2005, 2007, 2009 e 2016. Essas valorizações costumam estar ligadas a momentos de recuperação econômica após crises, conforme observa a Elos Ayta.
Em 2016, por exemplo, o real cresceu quase 20% em relação ao dólar após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, com analistas acreditando que a troca de comando poderia levar a ajustes econômicos necessários. Vale lembrar que, no ano anterior, o desempenho do real foi o segundo pior da sua história.
O aumento da taxa de juros reflete um cenário de crise, com o Tesouro Direto oferecendo taxas recordes. “O pré-fixado de 2027 já paga 15,57% ao ano, e o Tesouro IPCA de 2029 oferece uma rentabilidade real de 7,78% ao ano”, explica Henrique Esteter, economista e especialista do InfoMoney, pelas redes sociais.
A volatilidade é tão intensa que “se você entrar no site do Tesouro e der um F5 a qualquer momento, pode ser que essas taxas estejam ainda maiores.” Os dados alarmantes indicam que o mercado está exigindo prêmios maiores para financiar a dívida pública brasileira.
“Não existe um plano concreto para equilibrar as contas públicas. A confiança está no chão”, alerta. A venda de 150 mil NTNBs (títulos atrelados ao IPCA) em um leilão recente, com uma duração média de apenas quatro anos, ilustra a urgência da situação. “Isso significa que a dívida vai vencer rápido e precisará ser rolada em um cenário de juros ainda mais altos”, enfatiza.
Lula, em entrevista ao Fantástico, afirmou: “A única coisa errada nesse país é a taxa de juros que está acima de 12%. A irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia.” Contudo, Esteter defende “os juros são consequência, não causa. Eles sobem porque o risco fiscal aumentou. Sem controle de gastos e ajuste fiscal, o mercado vai continuar cobrando caro pra emprestar dinheiro ao Brasil.”
“No fim das contas, quem paga a conta é o povo. O dólar a R$6,20 significa que remédios, eletrônicos e alimentos importados ficam mais caros. Juros elevados encarecem o crédito e travam financiamentos, enquanto a inflação corrói os salários e eleva o custo de vida. O Brasil tá crescendo no cheque especial e a situação tá ficando cada vez mais séria”, conclui.
O economista Schwarzman, à TV Cultura, levantou pontos críticos “Não há nada que justifique ver o dólar mais alto da história por três dias seguidos, exceto questões concretas”, afirmou.
Segundo ele, a dívida pública, que estava em 70% do PIB no início do governo Lula, já caminha para perto de 80%. “Se não fizermos nada, ao final do governo, essa dívida poderá estar perto de 90%”, alertou.
O economista destacou que o problema não reside apenas no nível da dívida, mas sim no ritmo com que ela está crescendo. “A inflação vai furar o teto da meta este ano, podendo chegar perto de 5%. Isso é um problema real”, disse.
Para Schwarzman, a falta de um plano crível de contenção de gastos por parte do governo é um fator que agrava a situação. “Como não há um plano crível, as pressões inflacionárias vão continuar”, explicou.
Schwarzman não hesitou em criticar o governo: “Temos motivos concretos para entender o que está acontecendo no mercado. Não tem nada a ver com distúrbios psiquiátricos”. Ele ressaltou que as preocupações foram levantadas por vários economistas ao longo dos últimos anos.
“Desde que começou essa história do arcabouço fiscal, estamos alertando. Não sou só eu. Olhe o que Marcos Mendes, Marcos Lisboa e Fábio disseram. Todo mundo que faz um pouco de contas percebeu que isso não vai segurar a onda, e realmente não está segurando”, concluiu.
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