A dívida da Prefeitura de Goiânia com o Hospital Araújo Jorge se mantém acima dos R$ 30 milhões. Por conta disso, a unidade de saúde, que é responsável por 70% dos atendimentos de câncer no Estado, enfrenta um déficit mensal de R$ 4 milhões. Cerca de 90% da receita do hospital depende de contratos com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Além dos problemas financeiros, a demanda por atendimentos oncológicos vem crescendo, o que agrava a situação. O hospital realiza milhares de procedimentos todos os meses, como cirurgias, quimioterapias e radioterapias, atendendo pacientes de todo o Estado.

“A crise financeira compromete diretamente a qualidade e a continuidade dos serviços oferecidos pelo hospital. Precisamos urgentemente regularizar os repasses para garantir o atendimento aos pacientes”, destacou Alexandre Meneghini, presidente da Associação de Combate ao Câncer de Goiás (ACCG).

Ao Jornal Opção, Meneghini afirmou que sente certa “enrolação” por parte da secretaria de saúde. “A promessa feita é de que até o dia 10 tudo seria colocado em dia. Então temos que aguardar até amanhã, mas eles colocariam em dia o que repassam. Ainda existe as dívidas de emendas que não foram pagas, que são mais de R$ 20 milhões”, disse.

“Eles também fizeram uma jogada que considero traiçoeira, o secretário fez uma portaria para nos pagar mas suspenderam essa portaria. Eles renegociaram e disseram mais uma vez que iriam pagar, mas até o momento não recebemos nenhum pagamento”, disse o presidente.

No portal da transparência da Prefeitura, a reportagem encontrou três repasses feitos pela SMS para a Associação de Combate ao Câncer de Goiás em julho, o primeiro é no valor empenhado em julho foi de R$ 7,1 milhões, mas o valor pago consta como R$ 4,7 milhões. Já em agosto, foram quatro repasses encontrados no Portal da Transparência onde consta o valor empenhado de R$ 14,3 milhões destinados à Associação, o total pago, no entanto, foi de R$ 12,7 milhões. O total repassado é de R$ 19,4 milhões.

O Hospital Araújo Jorge informou que os valores devidos são de R$ 30,08 milhões. Esse valor é constituído por R$ 500 mil, referente ao piso da enfermagem; R$ 4,2 milhões, referentes à processos administrativos; R$ 9,3 milhões, referente à vencimentos; R$ 350 mil de emendas estaduais; R$ 7,5 milhões de emendas federais e R$ 8 milhões referente à Portaria nº 443/2023.

Nesta segunda-feira, 9, Meneghini se reuniu com a vereadora Kátia Maria (PT), presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Goiânia. Na ocasião, a parlamentar compartilhou sua experiência com a instituição. “Em 2021, eu morei no Araújo Jorge por 40 dias. Pude vivenciar de perto a excelência do atendimento, o comprometimento dos profissionais e o trabalho social do hospital. Esta crise afeta diretamente milhares de pacientes que dependem desse atendimento especializado”, disse.

Segundo a vereadora, a Comissão trabalha para fiscalizar a gestão da saúde em Goiânia e oferecer soluções. Kátia afirmou que atua para resolver a situação da Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc).

De acordo com Kátia, a crise financeira reflete descompasso entre a demanda crescente por serviços de saúde e a falta de uma gestão eficaz na saúde municipal. “Estamos falando de vidas. Não podemos aceitar que essa situação continue. Vamos continuar cobrando a prefeitura para encontrar uma solução que garanta o atendimento da população”, concluiu Kátia.

Já a Associação afirma que segue mobilizando a sociedade civil e dialogando com autoridades para superar a crise. Outras formas de receita do hospital são doações e apoio do governo estadual para manter seus serviços essenciais. Porém, o atraso dos repasses por parte da prefeitura compromete a sustentabilidade.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde, mas até o fechamento desta matéria não tivemos retorno. O espaço continua aberto para esclarecimentos.

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