Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobrás: “Não quis enganar ninguém” | Foto: Luis Macedo/Agência Camara
Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobrás: “Não quis enganar ninguém” | Foto: Luis Macedo/Agência Camara

Outra questão a ser explicada. Se a compra de Pasadena era um mau negócio no qual a pre­sidente Dilma Rousseff se sentiu enganada ao ser induzida a aprovar a transação com base num resumo do contrato da o­pe­ração, faltou o governo punir mais cedo quem a enganou, o funcionário que resumiu o do­cumento entregue ao conselho de administração da Petrobrás.

Como diretor da Área In­ter­nacional da empresa, Nestor Cerveró encaminhou o resumo do contrato ao conselho. Mais tarde foi removido para a Diretoria de Finanças da BR Distribuidora porque o PMDB de Minas desejou a antiga diretoria que ele ocupava.

Enquanto isso, a Petrobrás enfrentou uma disputa judicial com a vendedora de Pasadena, a belga Astra Oil, para contestar duas cláusulas do contrato. Uma forçou a brasileira a comprar também a metade da refinaria que ainda era belga quando a sócia quis se retirar do negócio. A segunda garantia à Astra o lucro de 6,9% ao ano, mesmo com mercado adverso.

Em sua defesa, a presidente Dilma disse que aprovou o contrato de venda há oito anos, no conselho, sem saber das duas cláusulas que não estavam no resumo de Cerveró. Mas apenas neste mês ele foi afastado da BR, quando se consolidou o prejuízo político do governo com o escândalo.

Quem protegia Cerveró na empresa? Por que, mesmo com a disputa judicial em curso, ne­nhum superior cobrou-lhe a au­sência das duas cláusulas no re­sumo do contrato submetido ao con­selho de administração por in­termédio do presidente da Petrobrás na época, companheiro Sérgio Gabrielli? Por que ne­nhum conselheiro lhe pediu para mostrar a íntegra do contrato?

Ao depor no Senado, Foster considerou Cerveró punido ao ser rebaixado de diretor da empresa principal para a diretoria de uma subsidiária. No dia seguinte foi a vez dele depor a respeito, na Câmara. “Não me senti rebaixado”, disse Cerveró aos deputados. “Não existe emprego de diretor”, explicou ser rotineira a movimentação de um funcionário de carreira, como ele.

Considerou “comuns e irrelevantes” aquelas duas cláusulas, pois seriam de praxes de contratos semelhantes a Pasadena. Além disso, seriam de conhecimento de todos na empresa, como Sérgio Gabrielli. Por tudo isso, ambas não seriam necessárias no resumo.

No mais, Cerveró preservou Dilma Rousseff em seu depoimento, apesar da pressão da oposição, o que aumentou a suspeita de que alguém o protegia na petroleira. Argumentou o presidente do PPS, deputado paulista Roberto Freire, que Cerveró não poderia aceitar ser o “bode expiatório”. Mas nada, ele não se tocou.

“O senhor será abandonado”, advertiu o líder do So­lidariedade, Fernando Francis­chini, do Paraná, que, agora, Cerveró perderia o padrinho. Concluiu Francischini que os deputados do PT estavam ali na sala para intimidar Cerveró.

Na véspera, no depoimento ao Senado da presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster, o senador paulista Aloy­sio Nunes Ferreira, do PSDB, levantou a questão sobre quem daria cobertura a Cerveró, pois certamente ele teria “costas quentes”. A pergunta do tucano foi uma das várias que Foster se recusou a responder.

Como foram ao Congresso na qualidade de convidados, Foster e Cerveró tiveram liberdade para não responder quando quisessem. “Numa CPI será diferente”, advertiu o deputado Roberto Freire para pressionar Cerveró a falar mais na Câmara para, assim, ter a chance de escapar de convocação pelo Congresso.