Neste domingo, 3, mais de 150 mil estudantes goianos encaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Além de resolver questões das mais variadas disciplinas, os candidatos enfrentam a prova de redação, um dos componentes que mais preocupam os estudantes, já que sua pontuação pode ter um impacto significativo na nota final.

Avaliada sob cinco competências, cada uma delas pontuada até 200 pontos, a redação exige que o aluno demonstre domínio da norma culta, habilidade em compreender e desenvolver o tema proposto, capacidade de organizar e interpretar argumentos, além de apresentar uma proposta de intervenção bem fundamentada.

Corretores de simulados preparatórios relatam que alguns erros recorrentes podem comprometer o desempenho dos alunos na redação. Entre as falhas apontadas, está a ausência de uma linha de argumentação clara. Segundo Eva Albuquerque, professora de redação do Cursinho da Poli, em São Paulo, muitos alunos acabam “se perdendo” no decorrer do texto, deixando de lado a estrutura recomendada pelo Enem, que é composta por introdução, desenvolvimento e conclusão.

“Para ter um texto coeso, é necessário pensar em um ‘projeto de texto’, que inclua uma tese bem definida na introdução, argumentos sólidos no desenvolvimento e uma conclusão que amarre a proposta de intervenção com base nas informações discutidas”, explica Albuquerque. Ela recomenda que o aluno reserve alguns minutos antes de iniciar o rascunho para planejar como abordará o tema e quais serão seus principais pontos de defesa.

Fabiano Gonçalves, gerente de operações educacionais do Instituto Proa, reforça a importância de estruturar a redação antes de começar a escrever. “A ideia é que o aluno pense no texto como uma casa que ele está construindo. A introdução é a porta de entrada, o desenvolvimento são os cômodos, onde ele apresenta e argumenta suas ideias, e a conclusão é o fechamento. Isso ajuda a garantir que cada parte tenha uma função específica e esteja interligada”, explica.

Além disso, ele menciona que muitos jovens enfrentam dificuldades para sustentar argumentos, pois não possuem repertório suficiente para contextualizar e embasar suas ideias, um problema que, segundo ele, pode ser atenuado com a prática de leitura diversificada e o acesso a discussões culturais e sociais.

Outro erro comum entre os estudantes é a utilização da primeira pessoa para expressar opiniões. Para Gonçalves, esse é um indicativo de que o aluno não compreendeu a estrutura exigida pelo Enem, que prioriza argumentos fundamentados por dados e fatos em vez de impressões pessoais. “Escrever ‘eu acho’ ou ‘eu penso’ pode tirar pontos do aluno, já que a proposta de intervenção — a conclusão — precisa ser construída de forma impessoal”, afirma. Albuquerque acrescenta que, embora a conclusão seja uma expressão da opinião do aluno, ela deve ser fundamentada em elementos apresentados no próprio texto, sem recorrer a colocações subjetivas.

A fuga do tema proposto também é uma falha observada pelos corretores. Albuquerque relembra o Enem de 2017, quando o tema da redação era “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”, e alguns candidatos acabaram escrevendo sobre inclusão de cadeirantes, o que desviou o foco da redação. “É fundamental que o estudante se mantenha atento ao tema central durante toda a construção do texto.

Em muitos casos, a introdução está correta, mas, ao longo do desenvolvimento, o aluno começa a abordar temas tangenciais e perde a coerência temática”, observa Daniely do Nascimento, ex-corretora do Enem e atual voluntária do projeto Salvaguarda, que atende jovens de escolas públicas em Ribeirão Preto (SP). Ela recomenda que o aluno “puxe a si mesmo” de volta ao tema central, caso perceba que começou a se dispersar.

A repetição de frases e o uso de argumentos sem conteúdo específico — o que alguns chamam de “encher linguiça” — é outra prática identificada por corretores como um obstáculo para uma boa nota. Gonçalves aponta que muitos estudantes recorrem a essa estratégia para preencher linhas, mas acabam inserindo frases genéricas que não contribuem para o argumento central. “Uma boa dica é ler cada frase e se perguntar: ‘Isso realmente acrescenta algo ao meu texto?’ Se a resposta for negativa, o ideal é simplificar”, sugere. Ele reforça que o espaço da redação do Enem é limitado e precisa ser bem utilizado para garantir que cada ideia tenha um propósito claro.

O uso inadequado da linguagem formal também aparece entre os erros mais frequentes, de acordo com Daniely do Nascimento. Ela comenta que muitos alunos acabam utilizando abreviações e gírias, habituados pela linguagem das redes sociais. “Expressões como ‘vc’, ‘pq’ e outras abreviações são muito comuns, mas tiram pontos na redação por não estarem de acordo com a norma culta da língua portuguesa”, explica Nascimento.

A professora Eva Albuquerque alerta que o uso de palavras muito rebuscadas também pode prejudicar a clareza do texto. “O ideal é que o aluno seja objetivo e claro, sem recorrer a palavras complexas que ele não domina totalmente.”

O último erro listado pelos especialistas é a **desorganização do texto**, caracterizada por frases incompletas, parágrafos soltos e falta de conexão entre as partes do texto, o que compromete a coesão e coerência. Albuquerque explica que, para evitar esse tipo de problema, o aluno deve ter um planejamento claro desde o início. “Pensar no texto como uma construção ajuda a garantir que cada parágrafo esteja ligado ao anterior e ao próximo. Isso é essencial para que o corretor consiga acompanhar o raciocínio do estudante até o final”, comenta.

Além disso, ela recomenda que o aluno, caso tenha dificuldades para iniciar a redação, faça uso de referências culturais ou históricas, como eventos recentes ou frases de autores conhecidos, mas reforça que é importante que essas referências estejam diretamente relacionadas ao tema da redação.

Nascimento enfatiza que a prática regular de escrita e leitura é fundamental para evitar esses erros. “Escrita é treino. Não dá para passar o ano sem escrever e esperar um bom desempenho só no dia do Enem”, destaca. Gonçalves também recomenda que os alunos façam simulados que possam ser corrigidos por pessoas com conhecimento das competências do Enem, o que ajudaria a identificar pontos de melhoria com antecedência.

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