Candidatos se enfrentaram pela primeira vez. Diferença no tom e no preparo foram evidenciados

debate-OABGO
Enil Henrique, Flávio Buonaduce e Lúcio Flávio no debate | Foto: reprodução / Diário de Goiás

O debate promovido pela Vinha FM nesta quinta-feira (22/10) deixou claro como os candidatos à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás pretendem conduzir a campanha.

Flávio Buonaduce se mostrou o mais bem preparado, apresentando propostas, projetos e defendendo a história da OAB Forte à frente da seccional. Lúcio Flávio também apresentou propostas e defendeu uma mudança na atual administração. No entanto, o candidato oposicionista — tendo se identificado como o único representante da oposição — se mostrou agressivo e, por vezes, focou nos ataques.

O atual presidente, Enil Henrique, esteve perdido boa parte do tempo. Com um calhamaço de papel — provavelmente documentos e instruções de assessores —, o candidato se confundiu durante perguntas e respostas, não conseguindo se expressar bem. Enil defendeu sua saída da OAB Forte e os “feitos” de seus oito meses de gestão.

Segundo ele, não há “rombo” na OAB e os “culpados” do atual descontrole financeiro da seccional são as gestões passadas — da qual ele próprio fez parte, como diretor-tesoureiro, uma posição-chave. Por diversas vezes, Enil foi “enquadrado” por Lúcio Flávio, que deixou claro que, a despeito das tentativas, ele não representa “a” oposição, apenas um grupo “insatisfeito”.

Prerrogativas e alinhamento

Um dos principais temas do debate foi a defesa das prerrogativas dos advogados. Enquanto Lúcio Flávio pintou o cenário de “terra arrasada” e desrespeito total aos advogados, Buonaduce afirmou que “é preciso reconhecer a importância do trabalho que é desenvolvido, de forma gratuita, pela Comissão de Direito e Prerrogativa dos Advogados”. Para o candidato da OAB Forte, não adianta oferecer soluções milagrosas. “Reconhecemos que é preciso avançar, mas não podemos desconsiderar toda uma história de avanços”, sustentou.

Ao rebater o candidato da oposição, Buonaduce lamentou a tentativa de menosprezar o trabalho da comissão de Prerrogativas, que é composta por advogados competentes e dispostos a trabalhar de graça pela Ordem.

Enil Henrique e Lúcio Flávio tentaram suscitar algum tipo de dependência política de Flávio Buonaduce, que prontamente rebateu as inferências. “O senhor tem proximidade junto ao governo, como garantir a independência da Ordem”, questionou Enil.

“De forma simples: a Ordem deve ser independente e suprapartidária. Não é apartidária… Apoio todos nós buscamos. Conseguimos não só de integrantes dos governos estadual e municipal, mas também de alguns partidos, como o PCdoB e o PT, também. Certamente todo apoio que recebemos é uma demonstração da presença de toda a advocacia. Apoio não significa dependência”, rebateu Buonaduce.

Durante o debate, o candidato da OAB Forte fez questão de exaltar que não tem ligação política, mas que é importante que a OAB esteja no centro de debates importantes da sociedade, pois “é dever defender o Estado de Direito”. Além disso, Buonaduce acusou Enil de estar utilizando-se de estratégia de confronto, na tentativa de conquistar “escopo político”. “Não tenho vergonha de receber apoio de quem quer que seja, desde que venham para construir um projeto para a advocacia”, completou.

Propostas

Debate teve momentos acalorados | Foto: reprodução / Diário de Goiás
Debate teve momentos acalorados | Foto: reprodução / Diário de Goiás

No segundo bloco, Flávio Buonaduce questionou Enil Henrique sobre o Provimento 164, do Conselho Federal, que dispõe de uma série de medidas a serem adotadas por todas as seccionais do Brasil no sentido de integrar as mulheres e garantir maior igualdade na Ordem. O candidato da OAB Forte é um dos defensores do Plano de Valorização da Mulher Advogada: “É muito mais que uma conquista, que foi inclusive relatada por Felicíssimo Sena [fundador da OAB Forte]. Deve ser uma bandeira de campanha.”

Na sequência, Buonaduce defendeu a inclusão da mulher advogada no mercado de trabalho, destacando que deve ser prioridade para a Ordem corrigir as desigualdades de gênero. “Queremos fortalecer a Comissão das Advogadas Mulheres, instituindo o Plano de Valorização da Mulher Advogada; realizaremos conferências e encontros focados na prerrogativa das advogadas.”

O candidato da oposição criticou as propostas de Buonaduce, sugerindo que são “milagrosas” e “imediatas”, mas que seriam sempre as mesmas. “Tiveram a chance de fazer durante três décadas mas não fizeram.”

“Com humildade”, Buonaduce reconheceu que alguns projetos não foram realizados. Contudo, não é um problema: “Nunca existiu um projeto perfeito. Não temos medo de reconhecer nossos erros, são eles que nos mostram que estamos no caminho certo, pois buscamos melhorar. Entendemos que devemos avançar, mas a advocacia reconhece o trabalho que já realizamos.”

Sobre o que não foi feito, o candidato da OAB Forte acrescentou que está “certo” de que todas as suas propostas serão cumpridas, pois, ao contrário de outros, são factíveis e tangíveis. “Nosso grupo tem bons projetos, porque partiram do seio da advocacia, não são retóricas e politiqueiras”, alfinetou.

Mudança

Momento em que moderação decidia sobre direito de resposta | Foto: reprodução / Diário de Goiás
Momento em que moderação decidia sobre direito de resposta | Foto: reprodução / Diário de Goiás

Flávio Buonaduce questionou Lúcio Flávio sobre o forte marketing que o grupo oposicionista tem feito, pregando a “renovação”, mesmo tendo na chapa nomes que já fizeram parte da OAB Forte. “Principal renovação não é de pessoas, é de ideias, de propostas”, rebateu ele.

Foi então que Buonaduce aproveitou a deixa: “Verdade. A renovação parte do campo das ideias. Nós temos mais de 30 anos à frente da OAB-GO porque conseguimos nos reinventar, dando espaço para novas pessoas, novas ideias. Nossa renovação vem da advocacia goiana, não de marketing.”

Lúcio Flávio sugeriu que teria sido “defenestrado” da Escola Superior da Advocacia (ESA) — da qual Buonaduce foi diretor — apenas por ter “ousado pensar diferente, independente”. Flávio Buonaduce usou o direito de resposta que conseguiu após o oposicionista ter o acusado de falar “inverdade” para esclarecer o ocorrido.

“O sr. não foi alijado da ESA. É só se lembrar de outros tantos projetos ao qual o sr. participou como docente, a meu convite, inclusive. Na condição de ex-diretor, garanto que todo e qualquer profissional sempre foi muito bem recebido”, respondeu.

No terceiro bloco, Enil insistiu, novamente, na acusação de alinhamento político. De pronto, foi rebatido por Flávio que lembrou que “não tem nenhum compromisso com partido ou governo”. Em seguida, o atual presidente tentou, de forma confusa, desmerecer a gestão de Buonaduce à frente da ESA.

“Tive dificuldade de entender o que o candidato fala, fiquei meio perdido, mas, em relação à ESA, é uma avaliação pessoal que me espanta. Vale lembrar que o conselho inteiro referendou meu nome quando eu saí. Naquele momento, inclusive, a diretora que o senhor nomeou e está à frente da ESA hoje exaltou a atividade e serviço que prestamos. Temos que discutir o futuro da advocacia, e não a desconstrução pessoal”, afirmou em resposta a Enil.

Considerações finais

Ao se despedir, Enil classificou sua gestão-tampão como “a que não promete, mas faz”, ao passo que Lúcio Flávio tentou passar a ideia de que Enil e Flávio Buonaduce “são o mesmo”, se exaltando como o único candidato da oposição.

Buonaduce pediu que a advocacia faça uma análise crítica do atual momento, lembrando que a experiência e a tradição garantem maior chance de “acerto”. “Somos um grupo humilde para entender que há falhas, mas nos renovamos, reestruturamos e inovamos para fortalecer a OAB e seus advogados e advogadas”, concluiu.