Daniel Vilela abafa especulações para próximas eleições e avisa: “PMDB tem vida própria”
12 novembro 2014 às 17h57
COMPARTILHAR
Deputado federal eleito com quase 180 mil votos, o peemedebista garante que vai focar no trabalho na Câmara e acena positivamente para Friboi e dissidentes, pregando “planejamento, união e motivação” do partido
Eleito para seu primeiro mandato como deputado federal, o peemedebista e mais promissor nome do partido no Estado, Daniel Vilela, termina 2014 acumulando vitórias. Segundo mais votado para a Câmara Federal, com impressionantes 180 mil votos, o jovem, de apenas 31 anos, viu a principal liderança da legenda, Iris Rezende (PMDB), dar seu provável último suspiro em eleições, e a mulher dele, a ex-deputada federal mais bem votada, Íris de Araújo (PMDB), ser defenestrada de Brasília, e, como se não bastasse, a debandada de Júnior Friboi (PMDB) — o outro grande nome do partido atualmente — para a “ala marconista”.
Com este cenário, Daniel já é cotado, internamente, como o próximo candidato ao Palácio das Esmeraldas no longínquo 2018. Nega veementemente, mas não esconde a altivez em ver seu nome na mesa. Também pudera. Após uma campanha marcada por consecutivos erros de seu partido, que culminou em mais uma derrota contra o governador reeleito Marconi Perillo (PSDB) — que há 16 anos sova o PMDB –, ele foi um dos poucos que conseguiu se manter acima das “rusguinhas”.
Aconselhado pelo pai, também importante liderança da legenda, o bem-avaliado prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, o deputado eleito tocou a campanha como se deve, aos moldes de um verdadeiro “atirador de elite”: certeiro, arrematou parcerias possíveis, fechou com prefeitos de todas as regiões do Estado, amarrou aliados e, acima de tudo, não criou encrenca com ninguém.
Entrevista da Semana da versão impressa do Jornal Opção, Daniel Vilela concedeu uma prévia do que estará nas bancas no próximo domingo (16/11). Ao falar de como pretende levar seu recém-conquistado mandato, ele conta que está “animado e motivado”, mas atento aos anseios dos eleitores. “O grande recado que recebi das ruas é que o povo quer qualidade na política e, especialmente, nos serviços públicos”, inicia. Para ele, o grande problema atual é a necessidade de qualificação destes serviços. “Estou concluindo, agora, minha tese de pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas (FGV) em administração pública e pretendo focar minha atuação em gestão pública. Garantir padrão de qualidade”, explicou.
Ainda sobre os quatro anos vindouros na capital Federal, Daniel chegou até a brincar sobre o futuro gabinete na Câmara dos Deputados. “Dizem que lá tem um ‘Carandiru’, né!? O Anexo 3, que não tem nem banheiro!”, contou. Descontraído, ele explica que existem critérios para se definir a ordem dos deputados na Casa. “Os melhores vão para os que atendem alguns pontos, mas eu não me encaixo em nenhum deles. Acessibilidade, maior de 60, cônjuge, filho ou pai de atual congressista, ex-congressista… Sei lá. Então, vou para o sorteio… Provavelmente devo cair no Carandiru”, dando de ombros. “Mas isso é o de menos”, retomando o tom sóbrio.
Futuro e PMDB
Fruto de especulações internas, a candidatura de Daniel Vilela ao Palácio das Esmeraldas na próxima eleição ao governo foi rebatida pelo próprio. “Como é que eu vou conjecturar 2018? Acabei de passar de uma eleição. O povo quer trabalho da nossa parte e não ficar falando de projetos futuros ao invés de desenvolver uma boa atividade parlamentar”, sustenta. Para ele, o futuro é agora: “e digo mais, qualquer intenção minha daqui para frente vai depender da minha ação na Câmara, ou seja, tenho que fazer um bom trabalho”.
Defensor da renovação no partido e um dos apoiadores da então candidatura de Júnior Friboi ao Governo de Goiás em 2014, o deputado criticou posições adotadas pelo partido recentemente. “O PMDB não entende a lógica da política. Fica revoltado quando um partido não se alia a ele em detrimento de um espaço no governo, mas não entende que isso faz parte do jogo”, alfineta. Talvez por isso tenha havido uma enorme debandada de peemedebistas ao projeto de reeleição do tucano Marconi Perillo.
Em relação ao assunto — dos dissidentes que apoiaram o governador — Daniel defende que o partido não deve se preocupar com essa pauta negativa. “Nós precisamos de uma pauta positiva, de planejamento, de motivação do partido, principalmente no interior do Estado”, garante. Só que ele não perde a oportunidade de mandar um recado aos correligionários desleais: “na verdade, a história mostra que a política não perdoa traição, quem cometeu equívocos agora vai ser colocado no devido lugar”. Contudo, reforça, que “não se preocupa com punição”.
Ao falar mais sobre o tema, Daniel Vilela acaba por deixar transparecer que não condena os colegas de partido que, por ventura, escolheram outro caminho no último pleito – sugerindo que eles teriam seus motivos. “Cada um deles terá de se explicar perante o partido. Suas razões, que precisam ser relevadas”, reformula.
De olho nos próximos passos, o deputado reconhece que é preciso um melhor planejamento. “Principalmente nas eleições municipais de 2016. Os membros têm uma reclamação generalizada de que o partido não dá suporte para as eleições municipais. Candidatos a vereador, prefeitos, vices… Precisamos formatar um planejamento estratégico para mudar isso”, conta. Ele acredita que este é caminho para reconstrução do PMDB: “temos que conquistar novos quadros para revitalizar o partido nos municípios. Estabelecer metas para um projeto maior, que é 2018”.
Questionado sobre a qualidade do atual quadro de lideranças e a própria executiva do partido, em princípio, ele não fala em mudança. “Só acho que tem que ter uma disposição no sentido de fazer o planejamento e ir à campo…”. Sem concluir o raciocínio anterior, Daniel lembra que o atual presidente estadual da legenda em Goiás, Samuel Belchior, não continuará no posto e que, em breve, uma nova executiva será formada: “reuniremos em dezembro para marcar a data da eleição do diretório estadual, que deve ser em fevereiro ou março”. “Ficará a cargo da nova gestão essas mudanças necessárias”, conclui.
Ao voltar no assunto eleições, o atual deputado estadual também critica a personalização dos próximos pleitos. “Ficar conjecturando quem é o candidato a prefeito, a governador… As pessoas acabaram de sair de uma eleição. Eu fui eleito para a Câmara Federal e quero desenvolver um bom trabalho lá. Não podemos discutir as coisas daqui a dois, quatro anos. Chega a ser desrespeitoso”, repreende.
Questão Friboi
José Batista Júnior, o Júnior Friboi (PMDB) – que foi praticamente impedido por Iris Rezende de disputar as eleições ao governo neste ano -, teve sua postura durante o pleito deste ano criticada pelo entrevistado: “ficou muito ruim dentro do partido a manifestação que ele fez através das cartas”. No entanto, como fez com outros dissidentes, Vilela colocou panos quentes na situação. “Não é nada que inviabilize a permanência dele dentro do partido, nem qualquer projeto futuro”, pondera.
Na opinião do deputado estadual, o companheiro de legenda deve “se posicionar perante o partido”. “Deve apresentar suas razões, alegações”… E reformulou: “na verdade, ele [Friboi] me disse que não declarou voto ao Marconi. Eu também tive essa impressão quando li a carta. Houve uma interpretação equivocada”. O documento, assinado por Júnior e entregue à imprensa pouco após o primeiro turno, continha afirmações como “Marconi é o melhor candidato para Goiás” e “PMDB presencia uma derrota vergonhosa e triste”.
“Acho que ele tem sim uma margem considerável para reconquistar o lugar que tinha no partido. Mas, precisa se posicionar. Não adianta ele achar que o partido vai atrás dele que não vai. Ele precisa reconquistar o partido”, aconselhou.
Questão Iris
De acordo com o deputado federal eleito, Iris Rezende “tem uma força política” construída ao longo de sua trajetória e que foi “fundamental” para construir a força política do PMDB no Estado. “Acho que se confunde hoje a força dele com a força do partido”, analisa.
Contudo, para Daniel, o partido, atualmente, “é forte naturalmente” e Iris precisa ser uma espécie de “magistrado” dentro da legenda. “Aquela pessoa que vai orientar, aconselhar, mas não, necessariamente, ocupar funções de candidatura”, sugere e segue reforçando a ideia de que Iris não deve mais ser candidato: “lógico que ele é importante, mas o partido tem sua vida propria, força própria”.
Ao comentar as recentes afirmações do senador eleito pelo DEM, Ronaldo Caiado, aliado do PMDB nas eleições de 2014, que lançou Iris à Prefeitura de Goiânia na próxima eleição, Daniel lembrou que o PMDB tem identidade própria e caminhou “a vida inteira” sem Caiado, “aliás, como adversário dele”. “Na minha opinião, foi um aceno de apoio e agradecimento, e é muito bem-vindo. Só que o PMDB toma suas decisões internamente. Não somos pautados pela vontade pessoal dele”, avisou.