Da crise hídrica à produtividade do solo: Cerrado perdeu 50% da vegetação original
11 setembro 2021 às 11h38

COMPARTILHAR
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam, que em 2020 o desmatamento foi de 7,3 mil km², ou seja, 13,21% a mais do que o registrado no período anterior

Neste sábado, 11, é celebrado o Dia Nacional do Cerrado, mas sem motivos para comemorar já que, o bioma vem sendo afetado constantemente por incêndios e desmatamentos. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam, que de 2000 a 2015, o Cerrado perdeu 236 mil km², enquanto a perda na Amazônia, bioma duas vezes maior, foi de 208 mil km². Já em m 2020 o desmatamento foi de 7,3 mil km². Número representa 13,21% a mais do que o registrado no período anterior.
De acordo com o Inpe, no mês passado, o bioma teve a maior área sob alerta de desmatamento desde 2018. O crescimento do desmate se relaciona a expansão da nova fronteira agrícola brasileira – na região chamada de “Matopiba”, por abarcar parte dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
[relacionadas artigos=”351524″]
Segundo um levantamento feito pela ONG WWF, de 1970 até 2018, a perda de bioma no Cerrado foi de 50% – mais que o dobro da Amazônia, que perdeu 20%.
O engenheiro Florestal e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Fábio Venturoli, destaca os principais impactos que o desmatamento do Cerrado pode ocasionar.
“O desmatamento é um processo que sempre esteve atrelado ao desenvolvimento econômico. Temos consequências porque, ele provoca uma série de alterações no meio ambiente, desde a abertura de áreas, onde o solo fica desprotegido, o aumento da erosão e a perda da camada fértil do solo”, explica.
Além disso, segundo o especialista, os impactos negativos vão além da perda direta da biodiversidade, contribuindo para a perda da fauna e flora. O Código florestal permite que seja preservado apenas 20% das propriedades como reserva legal.
Impactos e consequências do desmatamento
O Cerrado é responsável pelo abastecimento hídrico de 8 das 12 regiões hidrográficas brasileiras. Tem nascentes no bioma, a bacia Amazônica (rios Xingu, Madeira e Trombetas); a do Rio Tocantins-Araguaia (rios Araguaia e Tocantins); a Atlântico Nordeste Oriental (Rio Itapecuru); e a Bacia do Parnaíba (rios Parnaíba, Poti e Longá).
Além do São Francisco (rios São Francisco, Pará, Paraopeba, das Velhas, Jequitaí, Paracatu, Urucuia, Carinhanha, Corrente e Grande); a do Atlântico Leste (rios Pardo e Jequitinhonha); e a Bacia do Paraná (rios Paranaíba, Grande, Sucuriú, Verde e Pardo). A bacia do Paraguai (rios Cuiabá, São Lourenço, Taquari e Aquidauana).
A região centralizada contribui com a maior parte da água que alimenta três bacias, sendo 71% da produção hídrica da bacia do Araguaia-Tocantins, 94% do São Francisco e 71% do Paraná-Paraguai.
O problema do desmatamento e das queimadas no Cerrado é que essas ações desencadeiam longos períodos de estiagem, de seca. A falta de chuva no bioma influencia a seca do Pantanal, do Rio São Francisco e até na hidrelétrica de Itaipu, abastecida pela bacia do Rio Paraná. Isso só agrava a crise hídrica que o país enfrenta.