A crise do governo de coalização presidencialista abre espaço contra o voto de legenda

14 fevereiro 2015 às 10h20
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A queda da simpatia popular pela presidente Dilma leva consigo, ladeira abaixo, o prestígio do PT, o que estimula aliados e a oposição a buscarem fórmulas que derrubem a hegemonia petista. A arma da vez é a revogação do voto em legenda em eleições proporcionais, aquele recurso que permite ao eleitor votar apenas no partido ou coligação, sem indicar o candidato.
Se o PT é a legenda mais popular, os candidatos petistas ou coligados a deputado ou vereador são os mais beneficiados pelo voto apenas no partido, onde engorda o quociente eleitoral. Ao engordar o cacife da votação junto com os candidatos a deputado e vereador mais votados, o voto na legenda pode arrastar consigo nomes menos votados do mesmo partido ou coligação.
A revogação do voto de legenda equilibraria a competição direta entre partidos com a eleição de candidatos votados diretamente, como no sistema majoritário. Ao ser eleito senador por São Paulo em outubro, o tucano José Serra anunciou um projeto que cria o voto distrital para vereador, onde o candidato seria votado apenas em determinado setor do município.
O vice-presidente Michel Temer, líder do PMDB, cogita o chamado distritão para deputados, com a eleição dos mais votados diretamente no Estado e no Distrito Federal – cada unidade formaria um único distrito. A ideia atrai o oposicionista DEM e os governistas PTB, PP, PSD e PR. O PT prefere o voto em lista: voto apenas nos partidos, que escolheriam os eleitos.
Hoje, o desafio do PMDB ao Planalto é o suficiente para colocar em crise o governo de coalizão presidencialista chefiado por Dilma Rousseff, sendo que outros aliados se interessam pelo impasse peemedebista, cujos lances podem lhes abrir novas oportunidades junto ao governo.
A busca de novos rendimentos move o PMDB, assim como Dilma idealiza um desenho de reforma política que preserve a hegemonia do PT – partido que também desafia a autoridade da presidente em seu próprio governo, mergulhado nas crises contínuas de gestão.
Como se os partidos estivessem alheios ao reflexo político na sociedade, os lances pelo poder são imediatistas. Assustados com o desgaste do governo. petistas perseguem a permanência da hegemonia, num processo que agrava a rejeição do país aos políticos e seus partidos. Aliados procuram o protagonismo. A oposição é oposição com oscilações.
Quem mais perde no vale-tudo político é o PT, relacionado à corrupção no poder. A mais recente pesquisa do Datafolha demonstra a brutal queda de prestígio petista entre os brasileiros. Apurada nas ruas entre os dias três e cinco, a pesquisa mostra que o cartaz do PT como o mais querido despencou dos 22% em dezembro para 12 pontos em exatos dois meses.
Outra constatação chocante da amostra é que os partidos concorrentes não lucraram diretamente com a decadência petista provocada por má gestão e corrupção. Em segundo lugar na corrida de prestígio, o PSDB caiu de sete para cinco por cento naqueles dois meses. A seguir, o PMDB comprovou que congelou no gosto popular: tinha quatro por cento e lá ficou.
Todos os outros 29 partidos autorizados a buscar votos nas urnas, até a última sexta-feira, 13, possuem, somados, os mesmos dotes de simpatia que o PMDB: 4%. A diferença é que aqueles 29, juntos, ostentavam um ponto de simpatia. Antes do segundo turno nas eleições, os pequenos possuíam 5% na pesquisa com margem de erro de dois pontos.
Em cada 10 brasileiros, sete não têm preferência por algum partido: 71%. Dois meses antes 61%, vindos das eleições de outubro, quando chegaram a 64% desde o início ao fim da campanha.
Os números da pesquisa poderiam significar um latifúndio a ser lavrado e cultivado por políticos, não fossem as pragas daninhas.