Consultórios fechados e suspensão de 60 atendimentos por dia: veja os efeitos da crise em maternidade de Goiânia

19 setembro 2023 às 15h20


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Os consultórios da maternidade municipal Célia Câmara, no setor Vera Cruz 1, estão vazios e trancados desde a última segunda-feira, 18. O espaço destinado ao atendimento de cerca de 60 mulheres e crianças por dia permanecerá fechado até que a negociação dos repasses atrasados por parte Prefeitura de Goiânia avancem. Na recepção, apenas acompanhantes de gestantes que recebem atendimentos emergenciais, únicos que ainda foram mantidos pela direção da fundação que gerencia a maternidade.
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Na manhã de segunda, dezenas de mulheres foram para casa sem consulta depois que a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (Fundahc) anunciou a suspensão dos atendimentos para garantir o funcionamento da a emergência não fosse prejudicado.


A Fundahc/UFG é responsável pela gestão do Hospital e Maternidade Dona Iris (HMDI), da Maternidade Nascer Cidadão (MNC) e do Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara (HMMCC). De acordo com a Fundahc/UFG, o valor devido é referente aos serviços prestados nas unidades nos últimos três meses.
Consultórios fechados
A enfermeira Ivana Guimarães conta que existem médicos com três meses de salários atrasados. No corredor, os 10 consultórios passaram o dia trancados. “Temos estrutura aqui melhor que muitas maternidades particulares, mas do que adianta se o estão fechadas por falta de recurso?”, questiona.


O custo mensal de operação da Maternidade Célia Câmara, segundo o plano de trabalho vigente, é de R$ 10,3 milhões. Esse valor deve ser repassada pela Prefeitura de Goiânia para cumprimento do contrato. Entretanto, de acordo com a Fundação, parte do pagamento de junho ainda não foi feito, e as parcelas seguintes seguem em atraso.
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Grávida do primeiro filho, Giovana, 18 anos, ficou mais de 8 horas aguardando um simples exame de sangue. “Cheguei 10h da manhã, agora são quase 19h e ainda não temos o resultado. É um exame simples, né”, conta. Ela relata que a suspensão dos atendimentos deixou ela e o marido aflitos. “A gente fica com receio, né. Estar grávida e saber que os atendimentos estão suspensos deixa a gente com medo”, relata.


Um homem que aguardava a esposa na recepção de emergência da maternidade ficou surpreso ao saber da suspensão. “Chegamos às 2 horas , mas o atendimento aqui na emergência parece que está normal”, conta.
Medida de emergência
A diretora técnica da maternidade, Ana Tamires, explica que alguns serviços tem sido mantidos graças à cooperação com as outras duas unidades. “Estamos com estoques de insumos em nível crítico, muitas vezes precisamos mandar os materiais para as outras maternidades para fazer a esterilização, analgésicos, todos em nível crítico”, aponta.


Tamires revela que somente no último mês foram mais de 1, 4 mil atendimentos emergenciais na unidade. “Isso eu não estou contando consultas eletivas, que são consultas de pré-natal, consultas de ginecologista cirúrgica, de pré-operatório e de planejamento familiar, colocação de Diu. É um serviço de extrema relevância para comunidade que não pode deixar acabar”, lamenta.
A cooperação com as unidades da Maternidade Nascer Cidadão e Dona Iris são fundamentais para a manutenção dos atendimentos emergenciais, aponta Ana. Há uma troca de insumos e serviços para que nenhuma mulher ou criança deixe de ser atendida. “Talvez não tenha a mesma celeridade, né. Pode faltar um pouquinho disso, mas a gente trabalha sempre dentro da melhor condição possível de oferecer.
Além da cooperação, a unidade mantém os serviços funcionando graças aos profissionais de assistência, que mesmo com os salários atrasados, se desdobram para conseguir atender. “Nós temos que trabalhar o mesmo com parcerias, pessoas que colocam assistência na frente de tudo porque eh essa situação que eu tenho pessoas aí com duas ou três competências em atraso, por exemplo”.
“As pessoas pedem pra gente um prazo para dar uma resposta sobre o pagamento, e a gente precisa responder que não tem prazo”, lamenta.
43 milhões em aberto
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde disse que “tem feito o possível para realizar os pagamentos para a Fundach”. “
O total em aberto é de R$ 43.347.902,315. O restante dos valores, alegados em atraso pela fundação, se refere ao passivo trabalhista, caixa para custeio de despesas como demissões e férias, não tem relação com a manutenção das maternidades”. “Este ano já foram repassados à fundação um total de R$ 138.062.205,00. Em 2022, foram R$ 147.131.735,00”
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (CRM-GO) reivindicou a imediata quitação dos pagamentos em atraso por parte da prefeitura. “Há tempos, o Cremego vem intermediando a negociação entre a Fundahc e a SMS, mas os acordos firmados pela gestão municipal não foram cumpridos, levando a Fundação a suspender os procedimentos e serviços não emergenciais nas maternidades”.
Veja a resposta na íntegra:
“A respeito dos questionamento feitos em relação aos pagamentos à Fundach, a Secretaria Municipal de Saúde esclarece que tem feito o possível para realizar os pagamentos para a Fundach.
O total em aberto é de R$ 43.347.902,315. O restante dos valores, alegados em atraso pela fundação, se refere ao passivo trabalhista, caixa para custeio de despesas como demissões e férias, não tem relação com a manutenção das maternidades.
Este ano já foram repassados à fundação um total de R$ 138.062.205,00. Em 2022, foram R$ 147.131.735,00.
Desde o final da pandemia, os governos federal e estadual não enviam recursos para o custeio das maternidades, portanto, todas as três maternidades vêm sendo mantidas com dinheiro do Tesouro Municipal.
As três maternidades funcionam em sistema de porta aberta, não há necessidade de regulação, com isso, atendem pacientes de vários outros municípios goianos. No HMDI, por exemplo, 30% das pacientes são da grande Goiânia e todos os custos são bancados pela capital.
Por meio da comissão, formada para que se fosse feito um ajustamento se valores, os planos de trabalho das maternidades HMMCC e NC ( Fundach alegou que já há um plano vigente no HMDI) foram redesenhados para que os serviços e valores possam ser adequados conforme realidade pós pandemia.
A proposta foi enviada à Fundach que, após avaliação, já fez a devolutiva que passa por uma análise final da SMS. O diálogo com a Fundach não foi interrompido, inclusive na última terça-feira ocorreu uma reunião entre membros da Fundação e da gestão municipal.”
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