Conheça as histórias dos exilados goianos na Ditadura Militar
14 abril 2024 às 00h01
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A Ditadura Militar no Brasil foi um regime autoritário que teve início com o golpe militar em 31 de março de 1964, com a deposição do presidente João Goulart. Durante esses 21 anos, não aconteceram eleições livres e diretas em nosso país. Ou seja, a população brasileira não pode eleger os seus próprios governantes. A ditadura (1964-1985) resultou no exílio de muitos brasileiros, incluindo artistas, líderes políticos e ativistas.
São diferentes percalços, desafios, sofrimentos causados pelas perseguições, prisões e torturas que traumatizaram uma geração. Mesmo assim, parece existir uma dificuldade em trazer à luz essas histórias. Em primeiro lugar porque muitas vítimas não estão mais vivas, ou porque envelheceram (e não conseguem falar, ouvir, ou lembrar) após 60 anos, ou por não terem tido a mesma sorte de sair/voltar das prisões e exílios.
E também, porque apesar disso, alguns indivíduos teimam em tentar apagar e sujar essas histórias. E um povo sem memória perde o vínculo entre as gerações e perde a oportunidade de aprender com o próprio crescimento. A humanidade é coletiva e a memória é curta. Por isso, seus nomes não serão perdidos no tempo:
Tarzan de Castro, Gerson Alves Parreira, James Allen Luz, Neso Natal, João Batista Zacariotti, Horieste Gomes, Athos Magno, Maria José Jaime, maestro Joaquim Thomaz Jaime, Rafton Nascimento, Padre Ruy Rodrigues, Magda Machado, Fernando Safatle, Georges Michel, Juarez Ferraz Maia, Elio Cabral, Washigton Luiz Teixeira Rabelo, Jesse Martins Borges; os exilados goianos da ditadura militar.
Isso ocorreu porque, durante a Guerra Fria, capitalistas e socialistas investiram em suas próprias propagações. Ideologias e visões de mundo eram distribuídas, e muitas vezes retalhadas. Ser “comunista” era motivo de morte no Brasil, assim como foi no Chile, na Itália, na Alemanha, entre tantos outros lugares.
Enquanto isso, alguns estudiosos relatam que o comunismo chegou em Goiânia por volta da década de 50, durante a Segunda Guerra Mundial. Porque, teoricamente, os países imperialistas perceberam que o maior inimigo não seria o nazifacismo, mas sim, os comunistas. Devido as repúblicas populares que se formavam durante a caminhada do Exército Vermelho de Libertação, também chamada de Ala Vermelha. Eles acreditavam que o vermelho uniria a humanidade, pois é a cor que une todos através do sangue.
Vale lembrar a origem dos termos: capitalistas, por lógica etimológica, são mais apegados ao capital, recursos, dinheiro; e os socialistas, focados em resolver questões sociais de interesse coletivo. Os termos “direita” e “esquerda”, por exemplo, surgiram na França; na Revolução Francesa, os membros da Assembleia Nacional se dividiam em partidários do rei à direita e simpatizantes da revolução à esquerda.
Quando os grandes políticos exilados voltaram, houve uma grande celebração pelo retorno, também, da democracia. Voltou Brizola e Gabeira, em Goiás voltaram Neso e Tarzan. Em seguida, as eleições, com o Diretas Já, outro grande momento que envolveu a população.
Tarzan de Castro
Nascido em 1938 em Alto Araguaia, no Mato Grosso, foi ainda criança, acompanhado pelos pais, morar em Jataí, onde viveu até os dezessete anos de idade. Ele foi um líder estudantil nos anos 60, ajudou a fundar as ligas camponesas e participou do governo de Mauro Borges. Na época, filiado ao PC do B, foi perseguido e torturado por duas ditaduras — a brasileira e a chilena.
Em 1964, um grupo de brasileiros foi enviado para aprender sobre a revolução e guerrilha na China. Iclusive, uma matéria da Folha de São Paulo, de 1968, presente da biografia de Tarzan de Castro, traz uma lista de nomes e fotos de pessoas que foram treinadas na China para a guerrilha. Entre eles, estavam os goianos: Gerson Alves Parreira, Divino Ferreira de Sousa (comerciante de Caldas Novas), Elio Cabral de Sousa e o próprio Tarzan.
Após uma conversa com o primeiro-ministro chinês, Tarzan chegou a conclusão de que a guerra foi a escolha possível naquele lugar, mas não poderia ser imposta. Ele criou convicção de que um mundo mais justo e humano só pode ser criado através da vontade popular, elemento que não houve no Brasil. Por isso, na política brasileira, acabou se desentendendo ideologicamente com os colegas do PC do B.
Após voltar dessa viagem à China, Tarzan de Castro foi preso em São Paulo. Depois disso, ele foi enviado para a Ilha de Lages, na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. De lá, Tarzan fugiu acompanhado por James Allen Luz e Gerson Parreira, e pularam o muro da embaixada do Uruguai em busca de asilo político.
No Uruguai, se casou com Maria Cristina, uma chilena que compartilhava seus ideais. Eles voltaram para o Brasil, e estavam atuando na Ala Vermelha, em Recife, quando foram presos. Tarzan foi levado para o DOPS de Pernambuco e Maria Cristina primeiro foi presa em Cabo de Santo Agostinho e depois encaminhada para a mesma unidade. Ali, sua mulher grávida perdeu o bebê e ainda foi entregue para a polícia uruguaia como se fosse uma guerrilheira tupamara (o que nunca foi). Antes de ser enviada ao Uruguai, ela chegou a ser colega de cela da ex-presidente Dilma Rousseff.
O casal havia combinado, que em um cenário como esse, o primeiro a ser liberto esperaria pelo outro no Chile. Depois disso, Tarzan foi transferido para São Paulo, onde foi condenado a mais dois anos e seis meses encarcerado. Ele relata que, somando suas condenações, deveria ter ficado preso por pouco mais de três anos. Entretanto, ficou praticamente cinco anos na prisão.
Assim que foi solto, sem dinheiro ou documentos, precisou voltar a morar com a mãe por algum tempo. Até que se ajeitou para encontrar novamente Maria Cristina, que esperava por ele no Chile. Entrento, sofreram também com a ditadura chilena. Depois se exilaram novamente, agora na França, onde nasceu Gregório Alexandre de Castro. Não puderam registrar a criança como francesa, pois lá esse processo só acontecia após a maioridade. E na véspera do retorno do casal ao Brasil, conseguiram registrá-lo como brasileiro.
Na França, graduou-se em sociologia e história pela Universidade Sorbonne, em Paris. E de volta ao Brasil, se juntou ao MDB. Tarzan foi eleito deputado estadual e federal pelo Estado de Goiás.
Gerson Alves Parreira
Militante do PC do B, Gerson começou a participar da política no movimento estudantil secundarista. Foi para a China, assim como Tarzan, Elio e Divino, onde os jovens aprenderam sobre a guerra chinesa, o contexto histórico do país, o surgimento do Partido Comunista Chinês e táticas de guerrilha.
Preso em 1966 por associação com o partido comunista, o goianiense foi detido e enviado para a Fortaleza da Laje, de onde fugiu com Tarzan de Castro e James Allen Luz, para se refugiarem na embaixada do Uruguai.
Do Uruguai, ele partiu para o Chile, onde outro golpe militar aconteceu e Salvador Allende foi deposto e se suicidou. Então, Gerson buscou auxílio na embaixada da Suécia, onde viveu até 1980. Enquanto estava no Chile, manteve contato com outros exilados brasileiros, participou da Associação de Solidariedade com os Exilados Brasileiros e ajudou a fundar na Suécia o Comitê da Anistia de Malmo e Lunde.
Ainda na Europa, casou-se com a norte-americana, Toni Parreira e escreveu seu primeiro livro, em sueco. “Um médico de 150 coroas”, era o título do romance de 141 páginas, que foi bem recebido na época pela crítica local e se tornou um sucesso. Depois, nos Estados Unidos, com ajuda de sua esposa, publicou seu segundo livro: a caminhada.
De acordo com uma edição de 1980 do Jornal Opção, o retorno de Gerson Parreira do exílio estava previsto para 18 de maio daquele ano. Ele deixou a Suécia, onde vivia em Malmo e Lund, para voltar para Goiás.
Elio Cabral Sousa
Elio estava com Tarzan e Gerson na China quando a lista de brasileiros com treinamento militar chinês foi divulgada no Brasil. Tarzan conta que o amigo era mais calmo do que ele, sendo que mediou um conflito entre Tarzan de Castro e um companheiro chinês. O período de estadia naquele país deveria ser algo em torno de seis a oito meses. Entretanto, após mais de um ano de espera, os jovens sentiam falta do Brasil e elaboravam complexos planos de como voltar para casa.
Porém, o governo chinês afirmou que não possuia segurança o suficente para mandá-los de volta. Então eles decidiram ser mandados para a Europa, onde embarcariam para algum país que fizesse fronteira com o Brasil. Assim, acreditaram que poderiam entrar clandestinamente no país e foram para a França.
Em terras estrangeiras, o risco de prisão continuou iminente. Como o Suriname era uma colônia holandesa, eles encontraram uma brecha arriscada em um voo que partia de Amsterdam, capital da Holanda. Para embarcar nesse voo, tiveram que entrar na ditadura salazarinista de Portugal, onde o voo faria uma conexão, porque assim conseguiram driblar a vistoria da documentação. Fingiram ser holandeses em Portugal para embarcar, assim não precisaram apresentar visto.
Na antiga Guiana Holandesa, eles se passaram por pesquisadores da Universidade de São Paulo. E, com cada passo calculado em uma jornada que sabiam desde o inicio que seria perigosa, seguiram para a Guiana Francesa, até a cidade de Caiena. De lá conseguiriam chegar em Saint Georges, a porta de entrada para os viajantes clandestinos. Ali, por acaso do destino, enquanto avaliavam como entrar no Brasil, conheceram um contrabantista, para quem se apresentaram como comerciantes ilegais de café.
Esse contrabantista, “Senhor Jean”, após cair no papo dos jovens, disse que os ajudaria a descer o rio e chegar na cidade de Oiapoque, no Amapá. O que ele não mencionou, e surpreendeu os jovens, foi que receberam uma carona na balsa do exército brasileiro, graças ao “Senhor Jean”. E assim eles voltaram ao Brasil, Tarzan e Elio seguiram depois para São Paulo.
Athos Magno
Militante do Var-Palmares e ex-deputado pelo PT em Goiás, Athos Magno esteve com James Allen e outras figuras que planejaram e executaram o sequestro de um avião que foi levado para Cuba em 1970.
A Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) decidiu sequestrar um avião, no aeroporto de Carrasco, em Montevidéu. O plano, foi elaborado por Cláudio Galeno Linhares, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, contou com a participação de Isolde Sommer, Athos Magno, Nestor Herédia e James Allen.
James Allen atuou como comandante do sequestro, pois tinha ligação com os Tupamaros, guerrilheiros uruguaios. Ele havia morado quatro anos no Uruguai durante seu exílio. Durante o voo, James Allen levantou-se, armado com um revólver Smith & Wesson, e alertou que o avião estava sendo sequestrado.
Ele avisou para a equipe que trabalhava no avião que aquela aeronave deveria ser levada para Cuba. O comandante respondeu que o combustível só dava para duas horas de voo. Por isso era preciso fazer escala, para abastecimento, em Porto Alegre.
Se recusaram a fazer escala no Brasil, pois o avião poderia ser invadido. Insatisfeito, o governo argentino decidiu receber o avião e abastecê-lo. No Chile, com o governo do socialista Salvador Allende, reabasteceram novamente, com mais tranquilidade. Assim chegaram no Peru, onde a tripuação avisou que uma bateria do avião estava com defeito.
A aeronave precisou ficar um dia na capital peruana para manutenções. Ali, soldados chegaram a cercar o avião. Entrentanto, com base no blefe, James Allen os afastou dizendo que os guerrilheiros carregavam explosivos.
Em Cuba, Cláudio Galeno Linhares, Isolde Sommer, Nestor Herédia, James Allen e Athos Magno foram recebidos de maneira festiva pelos aliados de Fidel Castro, que até então era um ícone nacional e internacional.
James Allen da Luz
James Allen da Luz emergiu como uma figura proeminente no cenário político brasileiro durante sua juventude comunista, no ano de 1959, através do movimento estudantil. Junto com outros líderes como Elio Cabral de Souza, Luiz Antero e Tarzan de Castro, ele representava uma voz ativa em um movimento que desafiava a hegemonia dos goianos sobre o movimento estudantil nacional.
Originário de uma família de destaque, os irmãos Luz, que foram os primeiros industriários de Goiás em uma época em que o desenvolvimento econômico da região estava apenas começando, James Allen demonstrou desde cedo uma consciência social aguçada. Enquanto seus irmãos se destacavam na indústria local, James canalizava seu ativismo para promover mudanças sociais.
Quando José Fernandes, Jarbas, se tornou diretor da Casa do Estudante, um projeto liderado pelo ex-deputado Cristovão do Espírito Santo e localizado no Lago das Rosas, James Allen da Luz demonstrou seu compromisso em fornecer apoio aos estudantes menos privilegiados.
Ao pedir aos irmãos Luz que providenciassem os itens essenciais para o funcionamento da Casa do Estudante, como camas, colchões, lençóis e cobertores, James Allen demonstrou sua visão e sua capacidade de mobilizar recursos em prol de uma causa maior. Sua dedicação e liderança foram fundamentais para garantir que a Casa do Estudante continuasse a desempenhar um papel vital na vida dos jovens.
Depois, James Allen foi preso e mandado para a Fortaleza da Laje, no Rio de Janeiro. Lá, seus colegas eram Tarzan de Castro e Gerson Parreira. Certa noite, na prisão, localizada em uma ilhota, James Allen brincou que todos ali deveriam fugir juntos, inclusive os guardas. E transitando entre um tom sério e o deboche brincalhão, ainda disse que conseguiriam abrigo em uma embaixada e viver uma vida melhor no exterior.
Os militares deixaram a “piada” de lado, mas o cabo Francisco Dorismar Arrais contatou Gerson naquela noite. Juntos, elaboraram um plano complexo para fugir do local. Primeiro, aguardaram o momento de guarda baixa dos oficiais para rende-los. Pegaram as armas e colocaram os militares nas celas. Depois, conseguiram pular o muro da embaixada do Uruguai para se abrigarem.
Na embaixada uruguaia, os três ficaram durante alguns meses, até que receberam exílio no Uruguai. Entretanto, os militares pediram pela prisão do cabo, que não embarcou com os prisioneiros que ajudou a escapar.
James Allen voltou ao Brasil e estava preso em São Paulo quando foi visto com vida pela última vez, depois de ajudar a roubar um avião e levá-lo para Cuba. Ele seria levado para Porto Alegre, especula-se até hoje se ele de fato chegou até lá ou se foi morto no caminho. Alguns estudiosos afirmam ter se tratado se um acidente automobilístico. O fato é que seu nome ficou muitos anos na lista de desaparecidos.
James Allen Luz morreu em 1973, Tarzan de Castro conta em sua biografia que o guerrilheiro foi “assassinado pela ditadura no caminho entre Porto Alegre e São Paulo”. De qualquer forma, o Relatório da Comissão Nacional da Verdade registra que “há responsabilidade do Estado Brasileiro na ocultação do cadáver de James Allen da Luz”.
Neso Natal
Neso Natal, um nome que se inscreve na história do Brasil pela sua participação ativa no movimento político e social durante os anos de ditadura militar. Nascido em Goiandira, Goiás, suas raízes políticas foram influenciadas desde cedo pelo ambiente em que cresceu. Desde os seis anos de idade, ele testemunhou o fervor das discussões políticas na farmácia de seu pai, onde pessoas se reuniam para falar sobre os acontecimentos da II Guerra Mundial e debater questões como nazismo e fascismo. Essa atmosfera moldou sua consciência política desde a infância.
No ápice da ditadura militar no Brasil, Neso Natal, junto com outros membros do Partido Comunista, organizou um ousado assalto ao Tiro de Guerra de Anápolis. O objetivo era obter armas para fortalecer a resistência contra o regime autoritário. Com um planejamento meticuloso, eles conseguiram tomar sessenta e seis fuzis e outros equipamentos militares, transportando-os para Goiânia. Apesar da ação audaciosa, nenhum ferimento foi causado durante o assalto.
No entanto, o sucesso do assalto provocou uma resposta imediata das autoridades, resultando na prisão de Neso Natal e dos demais envolvidos. O cerco se fechou rapidamente, e logo após a ação, todos foram detidos. Ele foi preso na Rua 4, em Goiânia, e transferido para a Casa de Detenção e, posteriormente, para o 10º BC. A operação militar que se seguiu ao assalto acelerou a intervenção no Estado de Goiás, demonstrando a repressão brutal do regime contra qualquer forma de resistência.
Após enfrentar meses de prisão e interrogatórios, conseguiu ser libertado. Porém, a perseguição política continuou, levando-o a buscar refúgio em países estrangeiros. Primeiro no Uruguai, onde encontrou dificuldades para manter contato com outros ativistas políticos, e depois em Paris, França, e Moscou, União Soviética, onde viveu por oito anos.
Após a morte do jornalista Vladimir Herzog, Neso Natal retornou ao Brasil, ainda sob o regime militar. Sua volta foi marcada por mais perseguições e prisões, sendo submetido a torturas brutais. Somente em 1977 conseguiu sair da cadeia, dois anos antes da promulgação da Lei da Anistia.
Ao longo de sua jornada, encontrou apoio e amor com a soviética Maria Evguenievna Lell, que o acompanhou em sua luta política. O casal teve dois filhos, Maya Lell Natal e Daniel Lee Natal. Sua trajetória é um testemunho da coragem e da determinação daqueles que lutaram pela liberdade e pela justiça em um dos períodos mais sombrios da história do Brasil.
João Batista Zacariotti
João Batista Zacariotti foi um advogado goiano cuja vida foi marcada por momentos de resistência, luta e dedicação à causa dos direitos humanos. Aos 82 anos, veio a falecer em abril de 2012, vítima de um enfarte. Ele estava internado no Hospital do Coração, em Goiânia, quando ocorreu seu falecimento, por volta das 23 horas.
Sua trajetória teve um importante capítulo em 1959, durante uma viagem de navio à Europa, onde conheceu Edith Zacariotti, com quem se casou. Entretanto, seu legado vai além das fronteiras matrimoniais. João Batista Zacariotti se engajou no movimento de resistência à ditadura militar no Brasil, um período sombrio da história do país, onde os direitos civis eram reprimidos e a liberdade de expressão era cerceada. Por sua atuação política, Zacariotti enfrentou perseguições.
Diante da crescente opressão, ele optou pelo exílio, depois de ser preso e torturado, conseguiu refugiar-se no Chile por um intervalo de 11 anos. Foi um período de lutas e desafios, mas também de solidariedade e esperança entre os exilados políticos que buscavam um refúgio seguro contra a repressão.
O retorno de Zacariotti ao Brasil ocorreu após o governo autoritário de Augusto Pinochet assumir o poder no Chile, após o trágico suicídio do presidente Salvador Allende. De volta à sua terra natal, Zacariotti continuou sua luta pelos ideais de justiça e liberdade em que acreditava.
Além de sua militância política, Zacariotti também desempenhou o papel de assessor jurídico da Assembleia Legislativa de Goiás, demonstrando seu compromisso com a causa pública e sua dedicação ao serviço do povo.
João Batista Zacariotti deixou um legado de coragem e comprometimento com a defesa dos direitos humanos e da democracia. Seu falecimento foi marcado pela comoção daqueles que reconheciam sua importância e sua contribuição para uma sociedade mais justa e igualitária.
Ele deixou para trás quatro filhos: Krumaré, Iberê, Amauri e Gabriel. Seu corpo foi velado na Paz Universal Funerária, na Avenida Castelo Branco, e seu enterro ocorreu no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia.
Maria José Jaime
Maria José Jaime, conhecida carinhosamente como Bizeh, foi uma figura proeminente na resistência política durante os anos sombrios da ditadura militar no Brasil. Nascida em 1941 em Silvânia (GO) e criada em Goiânia, desde cedo ela demonstrou um profundo compromisso com as causas sociais e políticas.
Sua jornada de militância começou no movimento de jovens católicos, onde teve a oportunidade de conhecer lideranças importantes, como Betinho, com quem fundaria posteriormente a Ação Popular (AP), uma organização crucial na resistência ao regime autoritário.
Jarbas conta que ela foi a única mulher goiana a receber treinamento militar na China. Entretanto, o engajamento político de Bizeh a colocou em rota de colisão com o regime militar. Ela se viu forçada a entrar na clandestinidade devido à perseguição política em 1966. E se exilou em 1971, passou por países como Chile, Peru e Argentina. Retornou ao Brasil somente em 1977, ainda vivendo clandestina até a promulgação da Lei da Anistia em 1979.
Bizeh, além de sua intensa atuação na militância política, também se destacou em sua trajetória acadêmica. Sua busca pelo conhecimento não foi interrompida pelas adversidades políticas que enfrentou. Ela se especializou em História do Brasil na Universidade de São Paulo (USP), onde teve a oportunidade de ser aluna de renomados professores, como Sérgio Buarque de Holanda, uma das figuras mais importantes no campo da historiografia brasileira.
Durante seu período de exílio, Bizeh continuou seus estudos, demonstrando sua dedicação incansável à busca pelo saber. Em Buenos Aires, realizou um mestrado na Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), consolidando seu conhecimento nas questões históricas e sociais da América Latina.
Foi no mesmo ano da anistia que Bizeh fundou o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), com o apoio de outros militantes e intelectuais. O Inesc tornou-se uma importante entidade na luta por direitos sociais e políticos, participando ativamente da elaboração de políticas públicas e leis como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Maria José Jaime estava afastada do Inesc desde 2002 e faleceu em 23 de novembro de 2007, vítima de câncer. Ela deixou um legado de dedicação à construção de um Brasil mais justo e igualitário.
Maestro Joaquim Thomaz Jayme
O maestro Joaquim Jayme, nascido em 1941, teve uma trajetória marcante e multifacetada no cenário musical brasileiro. Sua jornada começou em Goiânia, onde estudou piano com a renomada professora e musicista Belkiss Spenciére Carneiro de Mendonça, figura destacada no meio artístico de Goiás.
Bolsista dos Seminários Internacionais de Música nos anos de 1958 a 1960, promovidos pela Universidade da Bahia, Jayme também frequentou os cursos regulares dos Seminários Livres de Música da UFBA de 1959 a 1962. Durante esse período, aprimorou seus conhecimentos em piano, regência e composição, sob a orientação de notáveis mestres como Sebastian Benda, Pierre Lose, Koellreuter e Miklós Kokrom.
Prosseguindo sua formação, Jayme realizou um curso de pós-graduação no Departamento de Música na UnB, sob a tutela do Maestro e Compositor Cláudio Santoro. Mais tarde, obteve um mestrado em musicologia pela Universidade de Rostock, na Alemanha.
Ao longo de sua carreira, Jayme exerceu diversas funções acadêmicas e artísticas de grande relevância. Foi professor em várias instituições de renome, como a UnB, a Universidade de Concepcion (Chile) e a Universidade de Rostock (Alemanha). Além disso, atuou como regente em várias orquestras, incluindo o Coral da UnB, a Orquestra de Cordas Miscâmara, a Orquestra Filarmônica de Goiás e a Orquestra Sinfônica de Goiânia, que ele próprio organizou a convite da prefeitura em 1993, tornando-se seu titular e diretor artístico.
Jayme também deixou um legado significativo como compositor, sendo autor de diversas obras para piano, canto, orquestra e coro, além de arranjos para coro e canções populares e líricas.
Apesar de sua notável carreira, Jayme enfrentou desafios durante a ditadura militar no Brasil, sendo perseguido pelos militares. Em busca de refúgio, ele se exilou no Chile e posteriormente na Alemanha.
Aos 76 anos, Jayme faleceu em maio de 2017, após um AVC. Sua partida foi sentida profundamente no meio musical brasileiro, onde era reconhecido como um dos principais maestros do país. Sua contribuição para a música e cultura brasileiras continuará a ser lembrada e apreciada por muitas gerações.
Rafton Nascimento Leão
O nome veio à tona nas entrevistas com Jarbas e Tarzan. Jarbas conta que juntos fizeram a segurança do Congresso Estudantil de 1963. Antes disso, Rafton foi politizado pelo Presidente da Juventude Comunista da época, Jarbas.
Rafton Nascimento Leão, também conhecido como Goiano ou Gordo, faleceu em 23 de agosto de 2012, aos 66 anos, vítima de câncer. Ele foi um dirigente estadual do PSB no Rio de Janeiro e teve uma trajetória marcada pela militância política.
Desde jovem, Rafton foi envolvido na militância estudantil na UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), demonstrando seu compromisso com causas sociais e políticas. Nos anos 60, ele foi membro do grupo revolucionário Colina, ao lado da futura presidente Dilma Roussef.
Ainda durante o regime militar, precisou asilar-se primeiro no Chile, depois na Suécia e finalmente em Moçambique. Sua passagem por esses países estrangeiros ilustra sua busca incansável por um espaço onde pudesse continuar sua luta contra a opressão e a injustiça.
Padre Ruy Rodrigues
Padre Ruy Rodrigues, figura proeminente e multifacetada, desempenhou papéis significativos tanto na esfera educacional quanto na política brasileira. Originário do Tocantins, que na época fazia parte de Goiás, ele foi secretário da Educação nos governos de Mauro Borges e Moisés Avelino, além de ter sido reitor da Universidade do Tocantins (Unitins). Seu compromisso com a aplicação prática das ideias e sua capacidade de gerar mudanças para o bem comum o levaram a largar a batina e assumir cargos de liderança, embora sua preferência não fosse pelo exercício direto do poder governamental.
Durante a ditadura militar, Padre Ruy foi perseguido por suas convicções políticas, que o levaram ao exílio na Europa, África e Ásia, onde continuou sua luta pela educação. Após a abertura política e a anistia, retornou ao Brasil, dedicando-se novamente à causa educacional.
Em 1991, aceitou o convite para ser secretário da Educação no Tocantins, durante o governo de Moisés Avelino, mesmo sendo este um período de transição política. Mais tarde, sob o governo de Siqueira Campos, assumiu a reitoria da Unitins, contribuindo significativamente para o desenvolvimento e consolidação da instituição como uma grande universidade.
Apesar das divergências políticas, Padre Ruy sempre valorizou os aspectos duradouros e essenciais para o progresso do país. Sua atuação como educador e gestor deixou um legado indelével, sendo reconhecido não apenas localmente, mas também nacionalmente. Em 2008, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Tocantins, em reconhecimento à sua contribuição excepcional para a educação e o desenvolvimento da região.
Ao partir em 2016, aos 88 anos, Padre Ruy deixou um vazio na comunidade acadêmica e política, mas seu legado perdura, na educação dos jovens tocantinenses. Tarzan de Castro conta que ele sempre foi muito solidário com os asilados latino-americanos.
Magda Machado
Nascida em Hidrolândia, no interior de Goiás, Magda foi descrita na juventude por Nonô como uma loira alegre e cantante. Quando sua história foi escrita, tomou a alcunha de sabiá. A jornalista (Nonô) conheceu a cantora no Colégio Estadual Professor Pedro Gomes, onde Magda era conhecida apenas como “Maguinha”. Criada em Piracanjuba, a jovem começou cantando no colégio e nos encontros de amigos, mas chegou a fazer sucesso pelos bares e boates da capital goiana com o grupo Vanguarda.
Em 1966, recebeu o prêmio de melhor intérprete no 1º Festival Universitário de Goiânia. Na época, era a mais jovem integrante do Grupo Vanguarda de Goiás, fundado por Lia Dickie. Os artistas, cantores e compositores eram alvos de fortes perseguições.
De acordo com entrevista concedida por Magda no portal Achei USA, em 2006, durante a ditadura militar, primeiro seu irmão, Jacson Júnior foi preso, pois seu pai era militante do Partido Comunista. Depois, Jacson Luiz Machado também foi levado. Após ser torturado, suspeito de financiar a organização comunista, depois da humilhação pública, o pai entrou em depressão até a morte, pouco tempo depois. Por fim, um acidente de carro, com relatos de negligência médica, levou a vida de sua mãe enquanto recorriam pela prisão do pai.
Com dois irmãos mais novos que dependiam dela, Maguinha tomou providências de abrigo para eles e fugiu do país, pois soube que sua ordem de prisão havia sido decretada. Maguinha optou por se exilar nos Estados Unidos, até que a condição de saúde de um dos irmãos a fez voltar para sua terra natal. Após a partida do irmão, ela escolheu se exilar novamente, dessa vez das lembranças, na Europa. E ela continuou espalhando samba e bossa nova por onde passou.
Em Manhattan, ela foi descoberta por Dom Um Romão, um dos maiores percussionistas do mundo, que integrou o The Weather Report, um dos mais badalados grupos de jazz da época. Maguinha fez uma turnê com Dom Um Romão e se apresentou até mesmo em Washington, no Kennedy Center.
Segundo apurado pelo portal Ermira, em 2021 Maguinha lançou um novo disco, o álbum duplo Flores em Brasa, por um selo musical japonês. O canto dela se une ao som de uma banda formada por músicos japoneses, numa junção de sonoridades entre Brasil e Japão. E durante o período em que viveu em Nova York, ela teve o privilégio de conviver com ninguém menos que João Gilberto.
Além de Flores em Brasa, ela tem outros cinco discos: De Verde e de Luz, Earth and Sky, The Sound and The Feeling, Voyage to Vera Cruz e Terra Voyage to Vera Cruz, em parceria com o violonista Douglas Lora e premiado no Brazilian International Press Award como o mais notável CD de artista brasileiro lançado nos EUA, em 2008.
Além dos portais citados, as informações sobre Magda Machado foram encontradas também no livro Roda de Saia, de autoria de Nonô Noleto. A cantora teve filhos com um fotógrafo italiano, seu segundo casamento, que não durou muito. Seus filhos, em 2006, estavam no exterior: a menina vive como bailarina em Nova York e o menino foi ator mirim na Itália e morava na Flórida, assim como Magda.
Fernando Safatle
Fernando Safatle é um intelectual importante no cenário brasileiro. Natural de Catalão, Goiás, cidade conhecida como ‘Atenas de Goiás’, o economista vive e participa ativamente dos movimentos sociais, políticos e culturais em sua região desde a juventude. Essa movimentação fez com que fosse perseguido, preso e torturado.
Safatle relata também o golpe contra o presidente chileno Salvador Allende. Na época, ele estava no Chile, onde seu primeiro filho, Vladimir Safatle, nasceu em 3 de junho de 1972. Não tinha processo militar aberto, foi absolvido em 1971.
Após sua estadia no Chile, Safatle retornou ao Brasil e se instalou em Brasília, onde tentou organizar sua vida profissional. Inicialmente, procurou emprego no Palácio do Itamaraty, porém não obteve sucesso. Ele foi desclassificado devido à influência evidente de Celso Furtado em sua escrita econômica, de acordo com relatos do processo seletivo conduzido pelo diplomata do governo.
Celso Furtado foi um renomado economista brasileiro, nascido em Pombal, Paraíba, em 1920, e falecido em 2004. Ele é reconhecido como uma das figuras mais importantes no campo da economia do desenvolvimento e foi uma das principais vozes na defesa de políticas econômicas voltadas para o desenvolvimento sustentável e a redução das desigualdades sociais.
Georges Michel
Nascido em Goiânia em 1943, Georges Michel teve uma trajetória política marcante no Brasil, especialmente ligada ao Partido Democrático Trabalhista (PDT). Como um dos signatários da Carta de Lisboa, que foi um documento fundamental na fundação do PDT, ele desempenhou um papel importante na política brasileira.
Durante os dois mandatos de Leonel Brizola como governador do Rio de Janeiro, de 1983 a 1987 e de 1991 a 1994, Georges ocupou o cargo de chefe da representação do governo do estado em Brasília. Sua atuação nesse posto foi relevante para as relações entre o governo estadual e o governo federal.
Exilado durante a ditadura militar no Brasil, ele só retornou ao país em 1979. Antes de assumir a Secretaria de Trabalho do Distrito Federal, ele ocupou o cargo de chefe de gabinete da liderança do PDT no Senado. Sua experiência política e sua ligação com o partido foram aspectos centrais de sua carreira.
Além disso, Michel já chefiou a representação do governo do Rio de Janeiro em Brasília e exerceu a liderança no Senado pelo PDT. Sua presença política se estendeu até 2015, quando deixou o cargo de Secretário do Trabalho e Empreendedorismo do Distrito Federal.
Durante seu exílio no Chile, ele se casou com a irmã da esposa do Maestro Joaquim José Thomaz, também um exilado político. Sua vida pessoal e política se entrelaçaram em diversos momentos.
Atualmente, Georges Michel é aposentado pelo Senado e ocupa o cargo de vice-presidente do PDT no Distrito Federal, demonstrando sua contínua dedicação ao partido e ao cenário político local.
Juarez Ferraz Maia
Juarez Ferraz de Maia teve a vida entrelaçada com os acontecimentos políticos turbulentos do Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Nascido em Itaberaí, Goiás, em 1952, ele cresceu em um momento de agitação política e social no país.
Sua entrada na vida política ocorreu em 1965, quando ingressou no movimento estudantil, influenciado por pessoas de sua cidade natal. Com o golpe de Estado que instaurou a ditadura militar em 1964, Juarez e seus colegas começaram a se organizar em grupos de discussão, inicialmente dentro da Juventude Estudantil Católica (JEC), onde se destacavam figuras como Oscarito Ferraz Borges, Rubens Americano e Manoel de Lima.
A visão inicial de Juarez e seus companheiros era de uma luta nacionalista e democrática contra a ditadura militar. No entanto, essa visão foi se ampliando ao longo do tempo, especialmente após Juarez ser apresentado a Francisco Pinto Montenegro, conhecido como Chiquinho Montenegro. Através de Montenegro e de seu parente Honestino Monteiro Guimarães, Juarez teve contato com ideias socialistas e libertárias, expandindo sua compreensão sobre a luta política e as questões sociais.
Sua participação na Ação Popular, um movimento de esquerda que combinava visões cristãs com ideais marxistas, o levou a enfrentar a repressão do regime militar. Ele enfrentou momentos extremamente difíceis durante seu envolvimento com a Ação Popular. Uma das situações mais complicadas ocorreu quando uma célula da AP foi descoberta em Ituaçu, e Juarez, que estava em Belo Horizonte na época, se tornou procurado pelas autoridades. Ao saber de sua busca pela Polícia Militar e pela Polícia Federal, ele se viu obrigado a buscar refúgio em sua cidade natal, Itaberaí.
No entanto, sua tentativa de escapar da perseguição não teve sucesso, e ele acabou sendo preso de maneira traumática. A captura ocorreu em praça pública, onde Juarez foi amarrado, em uma cena que certamente gerou tumulto e angústia, especialmente com a presença de seu pai, que acabou vendo o filho naquela situação.
Em 1967, Juarez foi preso pela primeira vez, marcando o início de uma série de prisões e perseguições ao longo de sua militância. Após sua prisão em Itaberaí, Juarez foi levado para a cadeia local, onde permaneceu por um período antes de ser transferido para Goiânia pelas autoridades federais.
Após escapar da prisão em Goiânia, Juarez Ferraz de Maia mergulhou na clandestinidade. No Rio de Janeiro, ele encontrou um antigo colega do movimento estudantil, Bernardo Joffily, que o ajudou a encontrar abrigo e um contato seguro na cidade. No entanto, o ambiente em que Juarez se viu inserido era turbulento, caracterizado por cortiços cheios de pessoas marginais, estudantes perseguidos e outros fugitivos políticos.
Durante sua atuação no Grupo Condor em Goiás, Juarez e seu colega Marcantônio Dela Côrte foram presos em um caso relacionado à defesa da Amazônia contra grileiros internacionais. Apesar do delegado reconhecer a falta de motivos para detê-los, foram condenados a oito meses de prisão.
Também durante esse período, Juarez participou ativamente de ações políticas, como a panfletagem no centro do Rio de Janeiro, em resposta ao assassinato de Carlos Marighela. No entanto, ele também enfrentou momentos de distração e desatenção, como o incidente em que esqueceu completamente da hora durante uma festa e quase foi capturado durante uma operação policial, mas não estava no local, porque saiu para namorar.
Após escapar por “inteira irresponsabilidade”, Juarez recebeu auxílio para fugir do país. Ele foi provido de dinheiro e um passaporte falso e partiu para o Chile, onde encontrou refúgio na embaixada do México. Durante sua estadia no Chile, testemunhou eventos dramáticos, incluindo uma tentativa de massacre por parte do exército chileno na embaixada.
Finalmente, Juarez embarcou para a Bélgica, onde completou seus estudos em jornalismo. Em seguida, se estabeleceu em Moçambique, onde desenvolveu uma conexão forte com a África, especialmente com o movimento de independência de países como Angola e Moçambique.
Chamado por José Eduardo dos Santos, que se tornaria presidente de Angola, Juarez assumiu um papel de destaque como diretor de comunicação do governo de Moçambique, contribuindo significativamente para o desenvolvimento das comunicações no país durante um momento crucial de sua história. Sua obra mais significativa, na sua opinião pessoal, foi a criação do Instituto de Comunicação Social, que promoveu o surgimento de rádios comunitárias e outros órgãos de comunicação.
Após consolidar seu trabalho em Moçambique, Juarez decidiu retornar ao Brasil em 1987, onde ingressou como professor na Universidade Federal de Goiás. Ali, o professor atua ativamente na educação e comunicação até hoje.
Horieste Gomes
A história do professor Horieste Gomes é uma saga de resistência e pioneirismo na educação em Goiás. Nascido em uma época de intensas turbulências políticas, sua vida foi marcada por desafios e lutas contra a opressão.
Sua jornada educacional teve início no Grupo Escolar Pedro Ludovico, em Campinas, onde afirma que recebeu a melhor educação que já teve. Foi lá que despertou para o mundo da literatura e da história, sendo influenciado por professores visionários e pelo incentivo à competição saudável entre os alunos. Depois ele estudou no Lyceu de Goiânia e ingressou para a universidade em 1955, no curso de história. O gosto e esforço pela literatura se iniciaram com a premiação escolar, que eram os livros do Monteiro Lobato.
Ele também relata que teve aula com uma professora de história que era da família Castelo Branco, chamada Helena. O jovem, mesmo defendendo o socialismo em monografia, recebeu nota dez da professora, que “não misturava as coisas”. Inclusive, depois, quando o professor estava preso, ela enviou um atestado de alto mérito, para fazer parte do processo.
Horieste Gomes estava presente em 1963 quando ocorreu o primeiro encontro de camponeses, operários e estudantes. Porque uma das concepções básicas do lenismo é a unidade do campo com a cidade. Esse encontro do campo com a cidade foi possível graças a participação efetiva dos estudantes, que eram bem mobilizados em Goiânia. O encontro reuniu cerca de três mil pessoas.
O professor começou a lecionar em 1957, e quando ocorreu o golpe, era parte da direção do Partido Comunista. Com uma caça aos membros do partido desde 70, Horieste foi preso em 72. Antes de ser preso, ele tinha a função de catalogar os livros da biblioteca do partido. E por isso, tinha muitos livros (proibidos na época) em sua casa.
“Quando houve o golpe, eu acho que realizei três trabalhos importantes: o primeiro foi aquela ajuda ao companheiro Jarbas de retirar o material de dentro da casa dele. O segundo foi avisar os companheiros que pude: o Luís; fui à casa do companheiro Manoel, ele não estava, mas avisei a família e os que pude avisar. O terceiro foi passar a noite inteira folheando livro por livro, não só da biblioteca, mas principalmente os livros que o João Silva chegou e despejou dentro da sala num momento em que eu não estava lá. Ele conhecia muita a minha patroa, pediu licença e colocou os livros no chão. Quando cheguei estavam todos lá. Passei a noite folheando e tirando o que achava que podia incriminar mais companheiros. Eu achei que devia tirar e queimar e foi o que fiz”, conta Horieste Gomes em relato para a Associação dos Anistiados Políticos do Estado de Goiás (Anigo).
Foram quase trezentos livros perdidos, que o professor teve a chance de rever em Brasília, para onde foi levado após um mês de torturas psicológicas no 10º DP de Goiânia. Em Brasília, ele passou por três meses com os piores tipos de torturadores, chefiados pelo Capitão Airton.
Depois disso, finalmente conseguiu se refugiar na Suécia. E só voltou ao Brasil com a anistia. Foi um pioneiro da educação tanto na Universidade Federal de Goiás quanto na Pontíficia Universidade Católica de Goiás. Horiste Gomes foi um dos idealizadores do Centro de Estudos Brasileiros, embrião do curso de Geografia da PUC. E participou da estruturação do Departamento de Geografia do Instituto de Química e Geociências (IQG) – que deu origem ao Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) – e do do então Instituto de Ciência Humanas e Letras (ICHL) na UFG.
Washigton Luiz Teixeira Rabelo
A trajetória de Rabelo é uma narrativa de resistência e persistência. Após ser posto em liberdade e posteriormente julgado pela Marinha, enfrentou uma condenação de seis meses de prisão, cuja lembrança se mistura à neblina do tempo. “Não me recordo, acho que já tinha cumprido [a pena]”, disse ele para o relato na Associação dos Anistiados Políticos do Estado de Goiás (Anigo).
Ao sair da prisão, Rabelo e seus colegas, que compartilhavam o nobre ofício de educar jovens em cursinhos pré-universitários em Goiânia, o peso da repressão política tornou-se insuportável. O comando militar do Planalto interferia diretamente nas escolas, proibindo-os de exercer a profissão e ameaçando o fechamento das instituições que os acolhessem. O ambiente hostil forçou Rabelo a abandonar sua paixão pelo ensino e buscar sustento no comércio em outra cidade.
Em Anápolis, foi trabalhar no comércio durante um ano. Nesse período o Superior Tribunal Militar o condenou a penas maiores, e foi “um dos poucos agraciados” com o Decreto da Lei 447. Essa ordem determinava que ele estava expulso da universidade.
Então, impossibilitado de trabalhar ou estudar, optou por sair do Brasil. “Foi uma decisão muito difícil e acredito sinceramente nos que afirmaram naquela época que o exílio é pior do que a prisão. Acho que em certo sentido é”, disse ele. Washington Rabelo também conta que desde o golpe militar no Chile, os perseguidos políticos da América Latina eram muito bem recebidos por alguns países europeus, em particular pela França, Alemanha e Suécia.
E ele mesmo foi recebido como exilado político na Suécia. Foi onde ele permanceceu com a mulher e mais três filhos. Sendo que o caçula nasceu na Suécia. “Foi o que efetivamente me aconteceu: como preso político no Brasil eu passei à condição de exilado político na Suécia. Eu sou realmente muito grato a esse país, fizemos desse país a nossa segunda cultura. Lá eu
voltei a trabalhar como professor de Matemática por alguns anos”, conta.
Já em 1983, a família conseguiu voltar ao Brasil. Mesmo que a anistia tenha sido promulgada em 1980, eles não tinham condições de voltar antes para o Brasil. Ao retornar, resolveu trabalhar com computação, desenvolvendo sistemas de automação comercial.
“Algumas pessoas me perguntaram por que eu não voltei à atividade política no Brasil quando retornei, já que eu tinha essa atividade política na época da ditadura. Seria talvez o mais lógico: que eu voltasse e que me vinculasse a algum partido político e que fosse trabalhar na política parlamentar, mas a minha realidade é a seguinte: eu só decidi ser militante político quando tinha 20 anos porque a única maneira digna de viver naquele período da ditadura, era lutar contra a ditadura. E a única maneira de lutar contra a ditadura era entrar para um partido político e participar da luta política. Mas na volta para o Brasil, por razões de natureza pessoal, eu achei que não era compatível com minha maneira de ser participar da vida política parlamentar”, compartilha no relato.
Jessé Martins Borges
O único dado encontrado sobre ele foi que se exilou na Suécia durante o período da Ditadura Militar.
Divino Ferreira de Sousa
Esteve no grupo de goianos que treinou na China, entretanto, enfrentou uma morte precoce na Guerrilha do Araguaia.
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