Longe do mercado tradicional, um ecossistema de empresas e startups em Goiás está redefinindo os pilares de setores como saúde, energia, educação e jurídico, tendo a Inteligência Artificial (IA) como seu modus operandi. Estas são empresas “nativas de IA”, entidades cujo DNA empresarial e proposta de valor são inextricavelmente fundados nessa tecnologia disruptiva.

O Jornal Opção foi atrás deste fenômeno, conversando com os visionários por trás de cinco iniciativas goianas que ilustram, na prática, como a máquina de pensar do futuro está sendo programada no presente.

O mercado global de IA, que movimentou US$ 86,9 milhões em 2022, deve alcançar a estratosférica marca de US$ 407 bilhões em 2027, com um crescimento anual médio de 36,2%, segundo a consultoria MarketsandMarkets. 

Em Goiás, esse movimento não é uma projeção, mas uma realidade palpável, cultivada pela tríade formada por um governo ativo, universidades de excelência e um mercado ávido por soluções. “Goiás possui o conjunto essencial para o que se entende como polo de IA”, afirma o subsecretário de Inovação e Desenvolvimento Sustentável, Raphael dos Santos Veloso Martins, ao Jornal Opção. 

A IA que acolhe a primeira infância

A história da Mamãe Pingo começa não em um laboratório de tecnologia, mas no consultório pediátrico e na clínica psicológica. A pediatra Luciane Costa, de 57 anos, junto com o médico pediatra Paulo Sucasas e a psicóloga Naraiana Tavares, todos professores e pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), compartilhavam uma inquietação. “Nós víamos que as mães estavam cada vez mais perdidas entre informações, palpites e culpa. Isso acabava reverberando no cuidado delas dentro de casa, também no cuidado com a saúde e com o desenvolvimento dos filhos”, relata Luciane.

O protótipo inicial era um aplicativo, mas a convivência com a comunidade revelou uma necessidade maior. “A gente viu que o cuidado da primeira infância precisa ser compartilhado. E foi aí que nós evoluímos de um aplicativo para um ecossistema IA, ou seja, a inteligência artificial é o core da nossa solução e também community-driven”, explica. Essa evolução transformou a Mamãe Pingo em uma plataforma co-criada com suas próprias usuárias e com os profissionais que atendem crianças.

Luciane Costa | Foto: Arquivo pessoal

Hoje, a startup é sustentada por uma equipe multidisciplinar de cinco sócios. Um desenvolvedor full stack é o responsável por implementar as soluções de IA, que são desenvolvidas em parceria com quatro profissionais especializados da área, viabilizados pelo Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA) da UFG. Luciane Costa define a empresa como uma “startup de impacto social, com foco nas ODS 3, 4 e 5” – os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU relacionados à saúde e bem-estar, educação de qualidade e igualdade de gênero.

Mas como, na prática, a inteligência artificial opera dentro desse ecossistema? Luciane descreve a IA como um “assistente confiável” que interage diretamente com as famílias pelo aplicativo. Este assistente responde a dúvidas sobre saúde e desenvolvimento infantil, baseando-se exclusivamente em conteúdo científico revisado por especialistas, e acompanha os marcos de desenvolvimento de cada criança, sugerindo atividades simples e eficazes para o dia a dia.

Para os profissionais de saúde, a tecnologia funciona como uma extensão digital do cuidado clínico, facilitando a comunicação com os pais e o monitoramento remoto entre consultas. “Principalmente no tempo curto de consulta, especialmente nos primeiros anos de vida, que é tanta informação nova, tanta orientação nova”, justifica.

A motivação para desenvolver essa solução vai muito além da conveniência, a Mamãe Pingo busca um gargalo histórico do setor. “Nós sabemos que o setor de saúde materno infantil enfrenta um gargalo antigo, tanto em nível público quanto privado, que há pouco investimento em educação e prevenção”, aponta Luciane. O resultado direto dessa carência é trágico: “muitas crianças com atraso de desenvolvimento só são identificadas quando a dificuldade já está avançada, já se consolidou”.

“Uma em cada quatro crianças nas capitais brasileiras tem suspeita de atraso de desenvolvimento. Isso é um estudo recente publicado por um grupo de pesquisa junto com o Ministério da Saúde e outras instituições”. Esses atrasos, ela ressalta, podem ser motores, de linguagem, socioemocionais ou cognitivos.

A missão da Mamãe Pingo é, portanto, mudar essa lógica reativa para uma pró-ativa. A IA torna viável que sinais de possíveis dificuldades sejam percebidos e valorizados precocemente, no período em que as intervenções têm o maior impacto na vida da criança. “Ao oferecer informação de qualidade e ferramentas de acompanhamento, nós ajudamos mais e profissionais a agirem cedo, antes que pequenos atrasos se tornem barreiras maiores”.

Ela conecta esse trabalho a um consenso econômico e social mais amplo. “Esse modelo está em sintonia com o que já é amplamente reconhecido por especialistas. E também por empresas que investem em impacto social, que investir na primeira infância, ou seja, crianças de 0 a 6 anos, é o investimento mais inteligente que uma sociedade pode fazer. Cada real aplicado nessa fase retorna múltiplas vezes em saúde, aprendizagem e produtividade ao longo da vida”.

O desenvolvimento da inteligência artificial que sustenta toda essa operação não foi um salto, mas uma jornada cuidadosa e escalonada. Luciane conta que o processo ocorreu em etapas. A primeira foi a criação de um produto mínimo viável, um aplicativo inicial batizado de GMVP, financiado com recursos do Programa Centelha 2, Goiás, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). “Isso nos permitiu validar hipóteses e ajustar o desenvolvimento a partir da experiência real das mães”, explica.

O salto para a IA proprietária veio com o apoio do edital Tecnova 3, outra iniciativa de subvenção econômica da FAPEG e FINEP. A responsável técnica por essa frente é a Dra. Nádia Felix, cientista da computação, professora e pesquisadora da UFG, que também é sócia da Mamãe Pingo. Enquanto Nádia comanda a frente tecnológica da IA, Luciane lidera o desenvolvimento do produto. Os outros dois especialistas fundadores, Dr. Paulo e Dra. Naraiana, seguem à frente da curadoria dos documentos científicos que alimentam e treinam a inteligência artificial. A governança do negócio, por sua vez, fica a cargo do CEO, Paulo Sucasas Filho.

A segurança dos dados sensíveis é uma premissa inegociável. “A IA da Mamãe Pingo é treinada exclusivamente com conteúdo científico e educacional validado, nunca com dados pessoais das usuárias”, garante a fundadora. Os registros no aplicativo são criptografados e seguem a LGPD.

“A mãe controla o que ela registra e compartilha, quer dizer o quê? Que ela vai escolher o que ela vai anotar lá no aplicativo e também se vai compartilhar isso com profissionais de saúde ou com outras pessoas. Nada é automático, nem público, nem por padrão”, garante.

E Luciane é enfática ao definir o limite da tecnologia: “A gente apoia o profissional, a gente empodera as famílias, apoia os profissionais a terem mais dados para tomar as decisões clínicas. A nossa tecnologia fortalece o cuidado humano, não substitui.”

Para garantir que a ferramenta seja de fato uma aliada e não mais uma complicação na rotina já atribulada dos profissionais de saúde, a Mamãe Pingo foi desenhada para uma adoção imediata. “Os profissionais não precisam de capacitação específica porque o sistema foi desenhado para ser intuitivo e muito amigável”, assegura Luciane. No portal dedicado a eles, os profissionais acessam diretamente informações atualizadas, conteúdos interdisciplinares e acompanham o desenvolvimento remoto das crianças sob seus cuidados, sem a necessidade de qualquer treinamento técnico prévio. “A IA atua como uma aliada silenciosa que amplia a visão do profissional sobre cada paciente”, define.

Os próximos passos incluem o lançamento do “Pingocast”, uma série de áudios com artigos do blog narrados por uma voz sintetizada da própria Luciane, e a incorporação dessa voz ao chat em 2026. “O próximo avanço é tornar a AI mais proativa, ajudando a preencher os registros automaticamente e reconhecer padrões de comportamento e desenvolvimento”, adianta.

A IA que maximiza a energia solar

Enquanto a Mamãe Pingo cuida do começo da vida, a Dectra AI direciona sua inteligência para otimizar uma das fontes de energia do futuro. A empresa surgiu com a missão de “oferecer uma solução inteligente de identificação de anomalias em sistemas fotovoltaicos com o intuito de alta eficiência energética e baixos custos de manutenção”, explica seu fundador, Carlos Roberto da Silveira Junior, de 46 anos.

O embrião da ideia não veio de um escritório corporativo, mas das bancadas do Instituto Federal de Goiás, Câmpus Goiânia. Apoiada por editais de fomento, a empresa desenvolveu modelos de IA para cada etapa do processo.

“Com o apoio de editais de fomento ao empreendedorismo inovador da SETEC/MEC, empreendedorismo de base tecnológica em Inteligência Artificial do CNPq/SEMPI/MCTI/FNDCT foi possível desenvolver a solução chegando a nível comercial”, detalha o empreendedor.

Carlos Roberto da Silveira Junior | Foto: Arquivo pessoal

De forma acessível, Carlos descreve: “A inteligência artificial realiza o processamento de imagens coletadas e, a partir da variação de temperatura dos painéis solares, consegue identificar a presença de diferentes tipos de anomalias”. Cada anomalia gera um relatório técnico que detalha a perda relativa de geração de energia.

O problema que a Dectra se propôs a resolver é tanto de escala quanto de percepção humana. “Perdas por problemas em painéis não são facilmente detectáveis em instalações de maior porte. Muitas falhas nos módulos não são perceptíveis por inspeção visual”, exlica Carlos Junior. Em uma planta com dez, vinte ou trinta mil painéis, localizar manualmente um módulo defeituoso equivale a uma busca exaustiva.

A Dectra automatiza esse processo, analisando imagens térmicas e do espectro visível coletadas por drones. “O tempo gasto no processo de coleta e análise das imagens por especialista é reduzido e assim menos tempo em campo é necessário”, destaca.

A tecnologia foi desenvolvida internamente e é constantemente aprimorada com dados de usinas parceiras. A precisão é garantida por um ciclo de validação humana. “A cada coleta realizada é feita a avaliação das imagens e resultados por engenheiro especialista… caso haja falha na classificação, novo treinamento da IA é realizado, fazendo com que a IA possa aprender continuamente”, explica o fundador.

A empresa investiu na criação de um relatório técnico que traduz a complexidade dos dados em ações claras. “A entrega dos resultados é feita por um relatório técnico que foi construído conjuntamente com clientes, fornecendo feedback para aprimoramento na apresentação dos resultados para auxílio na tomada de decisão”, explica.

O mercado e as instituições já notaram o potencial disruptivo da Dectra. Em 2025, a empresa colecionou credenciais importantes. “A solução Dectra Solar – Sistema Inteligente de inspeção de painéis solares fotovoltaicos ficou com a segunda colocação do Prêmio Goiás Sustentável, na categoria inovação, no ano de 2025, demonstrando o reconhecimento regional do impacto da solução no impacto frente às mudanças climáticas”.

E os louros não pararam por aí: “Além disso, a empresa recebeu o Prêmio Potência de Inovação Tecnológica 2025, categoria Softwares e Aplicativos, demonstrando o potencial da solução para o mercado de energias renováveis”.

O plano é ampliar o escopo de sua expertise em visão computacional. “Nosso pensamento é levar nossa expertise em visão computacional a outras áreas onde ela possa ser aplicada”, adianta Carlos.

A IA que potencializa o advogado

No tradicional setor jurídico, a Forlex identificou um problema: a perda do tempo estratégico dos advogados em um oceano de trabalho repetitivo e dados não estruturados. “A necessidade que motivou a Forlex foi transformar o advogado de um ‘operador de burocracia’ em um ‘estrategista de dados'”, declara Daniel Bichuetti, de 40 anos, fundador da empresa.

A plataforma da Forlex funciona como um “copiloto jurídico inteligente”, onde a IA é o sistema operacional, e não uma feature isolada. Suas frentes de atuação são múltiplas: IA Generativa para pesquisa e geração de documentos complexos (sendo a ferramenta oficial de IA Generativa da OAB Nacional), análise de risco e inteligência de dados, automação de workflows e compliance.

Daniel Bichuetti | Foto: Arquivo pessoal

A confiabilidade, um ponto crítico no direito, é construída através de uma arquitetura robusta. “Nosso sistema é alimentado por um pipeline robusto que distingue claramente os dados de treinamento dos dados de execução do cliente”, detalha Bichuetti. Os modelos (SLMs – Small Language Models) são treinados com um vasto corpus de fontes públicas (legislação, doutrina, jurisprudência), enquanto os dados dos clientes são processados em silos isolados e nunca usados para treinar a base.

O processamento é o diferencial. “Não usamos um LLM (Large Language Model) ‘genérico’”. A empresa emprega seus próprios SLMs (Small Language Models), especialistas treinados na base pública, associados a arquiteturas avançadas de GraphRAG. “Isso significa que a IA não ‘inventa’ respostas (o que chamamos de ‘alucinação’). Ela é forçada a primeiro pesquisar em nossa base de dados jurídicos verificados (o ground truth público) e, só então, gerar a resposta fundamentada exclusivamente nessas fontes. Isso garante a acuracidade técnica, a total confiabilidade das saídas e a preservação da confidencialidade de cada cliente”, detalha Bichuetti.

Essa abordagem de “produtor” de tecnologia, e não apenas “consumidor”, rendeu à Forlex um lugar no seletivo Generative AI Accelerator da AWS.

O treinamento da IA é um ciclo contínuo e híbrido. Parte de uma “Base Ouro” curada por advogados, expande com agentes autônomos e passa por um processo de Aprendizagem por Reforço (RL) que combina validação por agentes e, posteriormente, por especialistas humanos. “Em seguida, apenas as melhores respostas pré-selecionadas pelos agentes são auditadas pelo nosso time de advogados-especialistas (humanos), que dão o feedback final (o ‘isso está correto’ ou ‘priorize esta tese’)”, explica.

“Nossa filosofia é a do copiloto. A IA potencializa o advogado, não o substitui”, reforça Daniel.

Os benefícios são mensuráveis: redução de 70% a 80% no tempo para elaborar peças, maior segurança jurídica e otimização de custos. 

A adoção em um mercado tradicional como o jurídico não foi imediata. Bichuetti reconhece que a resistência inicial era significativa e justificável, orbitando em torno do medo da “alucinação” da IA e da substituição de profissionais. A estratégia para construir confiança foi multifacetada.

Um divisor de águas foi a Validação Institucional. “Nossa parceria e reconhecimento como a IA Generativa oficial da OAB Nacional foi um divisor de águas. Este não é um simples endosso; é a validação máxima do principal órgão da advocacia”, destaca. Paralelamente, o Foco no “Copiloto” alinhou interesses, posicionando a ferramenta como um amplificador da capacidade intelectual, e não uma ameaça.

Mas a base da confiança, segundo Bichuetti, veio da Garantia de Confiabilidade Técnica. “Nós demonstramos porque nossa IA é confiável por design”. Ele cita a Arquitetura Anti-Alucinação baseada em GraphRAG, que força a IA a fundamentar suas respostas apenas em fontes verificadas; o uso de SLMs (Small Language Models) hiperespecializados em direito, que “pensam como um advogado”; e a Validação Humana Contínua, um ciclo de auditoria em tempo real por advogados-especialistas. “Ao combinar a validação institucional (OAB) com uma prova técnica transparente e a filosofia de ‘copiloto’, conseguimos transformar o ceticismo inicial em adoção estratégica”, conclui.

Os planos da Forlex refletem a maturidade tecnológica já alcançada. A visão é consolidar a plataforma como o “Sistema Operacional Jurídico” em escala global. O roadmap estratégico foca na Evolução Tecnológica, com o desenvolvimento de uma nova geração de SLMs, batizada de Forlex S2. 

“Diferente dos LLMs genéricos, nossos SLMs são altamente especializados, mais rápidos, mais precisos para o domínio jurídico e economicamente mais eficientes”, adianta Bichuetti, revelando que o desenvolvimento ocorre em parceria com a AWS.

A IA que coordena outras IAs

A trajetória de Vandré Sales sempre foi permeada pela exatas. Físico pela Unicamp, engenheiro de computação pela UFG, professor por mais de três décadas e com pós-graduação em Berkeley, ele fundou um dos primeiros coworkings do Brasil, o Ponto Get, em 2013. Dessa veia empreendedora, nasceu a Meliva, mas sua forma atual é fruto de uma reinvenção.

A empresa começou focada em educação corporativa, até que Vandré percebeu que a dor real dos clientes era criar o conteúdo dos treinamentos. “Como que eu posso criar treinamentos, conhecimentos em alta escala, com alta qualidade, sendo que eu não sei de tudo? Aí foi quando a IA entrou no jogo”, recorda-se. Em 2022, a virada: “A gente entendeu que a Meliva tinha que ser, na verdade, uma plataforma que criava conteúdo por inteligência artificial”.

Diante da explosão de modelos de IA no mercado, Vandré enxergou uma nova necessidade: a ordem no caos. “A Meliva.ai surgiu para ser uma IA que coordena IAs”, esclarece. A plataforma foi criada para orquestrar essa “torre de Babel” de tecnologias, atendendo ao massivo mercado de produção de conteúdo para marketing, oferecendo uma solução unificada e eficiente.

Vandré Sales | Foto: Arquivo pessoal

“Eu percebi que existiria uma explosão de IAs no mundo inteiro, de vários fornecedores, de várias empresas, com muitas tecnologias diferentes, e isso ia ser um caos na vida das pessoas que produziam conteúdo de marketing, a Meliva.ai surgiu para ser uma IA que coordena IAs”, esclarece.

Para o físico e empreendedor, o debate sobre a adoção da IA já está superado. Ele afirma que qualquer empresa que ignore essa realidade está, conscientemente, construindo uma operação mais lenta e mais cara. “Novas empresas não podem mais nascer sem considerar que a IA precisa fazer parte da rotina dessa empresa. Porque o maior poder atual da IA é reduzir de forma drástica o custo e o tempo em processos repetitivos”, finaliza. 

A IA que conduz a logística autônoma

Se a Meliva.ai navega no mundo do conteúdo digital, a Synkar, outra potência goiana, coloca a IA para circular no asfalto quente das cidades. A história de Lucas Assis, seu fundador, é igualmente fundamentada em conhecimento técnico. Engenheiro eletricista, mestre e doutor em Ciência da Computação pela UFG, ele acumula 14 anos de experiência trabalhando com robôs e inteligência artificial

Para Lucas, empreender não foi um desvio de rota, mas a conclusão de sua trajetória acadêmica. Foi a maneira que ele encontrou de transformar papers e algoritmos em inovação que resolvesse problemas reais. “A Synkar nasceu justamente dessa inquietação: provar que é possível desenvolver e fabricar robôs autônomos no país, com tecnologia 100% nacional, resolvendo problemas reais de logística urbana e mobilidade de forma inteligente e sustentável”, afirma.

Lucas Assis | Foto: Arquivo pessoal

A empresa, que começou com um pequeno grupo de engenheiros e pesquisadores, hoje conta com clientes como iFood, Volkswagen e Atlântica Hotéis, tendo realizado mais de 60 mil entregas apenas em 2025. “A IA tem um papel essencial nesse crescimento, pois permite aos robôs aprenderem com cada operação. Otimizam rotas e adaptam-se a diferentes ambientes – garantindo assim segurança nas interações com pessoas. Essa inteligência embarcada é o que nos permite oferecer uma logística autônoma acessível, escalável e 100% desenvolvida no Brasil”, explica Lucas.

Desde a navegação até o gerenciamento de frota e diagnósticos remotos, tudo é gerido por algoritmos inteligentes. “A IA é o coração da Synkar. Ela é o que torna possível oferecer um serviço autônomo, seguro e escalável”, complementa. O resultado é uma drástica redução de custos operacionais e um aumento na confiabilidade das entregas.

“Para o empresário, em Goiás há um ecossistema de inovação muito promissor (CEIA + Hub Goiás), mas ainda existe um gap entre pesquisa e aplicação prática”, observa Lucas. É justamente nessa lacuna que a adoção da IA pode atuar como uma ponte. “A adoção da IA pode ajudar empresas locais a reduzir custos, otimizar processos e acessar novos mercados”, completa.

Fomentando o polo goiano de IA

Para o subsecretário Raphael Martins, o movimento de aprimoramento contínuo dos empreendedores é vital. “Há alguns anos, o mantra era de que a inovação é o caminho para garantir o sucesso… Hoje, inovar, se aprimorar e buscar estar conectado às novidades da tecnologia é uma questão de sobrevivência”, avalia.

É nesse contexto que o Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), lançou o Epicentro da Inteligência Artificial. “Com R$ 2 milhões de investimento direto e coordenação da Secti, o programa busca atrair, incubar e acelerar startups que utilizem inteligência artificial como eixo central de seus negócios, transformando pesquisa científica em soluções aplicáveis a desafios reais”, explica Raphael.

Raphael Martins | Foto: André Bianchi/Secti

Além do Epicentro, uma série de outras políticas públicas sustenta o ecossistema: editais como o CENTELHA e o PAPIG (para ambientes de inovação), o Hub Goiás com seus programas de capacitação (Ponteiro Tech, NIIS, E-Goiás) e as Escolas do Futuro de Goiás (EFGs), que formam a mão de obra qualificada para esse novo mercado.

Sobre os benefícios macro da IA, o subsecretário é direto: “De modo geral, ela ajuda a ganhar eficiência, reduzir custos e tomar decisões com mais precisão e informações práticas e acessíveis. Ainda automatiza tarefas repetitivas, antecipa falhas, melhora o atendimento e permite personalizar produtos e serviços”. Para ele, a adoção estruturada da IA é o que separa as empresas que apenas sobrevivem daquelas que efetivamente lideram a transformação digital no estado.

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