Como a fumaça de queimadas pode auxiliar a restaurar o Cerrado goiano?
24 agosto 2024 às 13h55
COMPARTILHAR
Um estudo conduzido por cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) aponta que substâncias presentes na fumaça de queimadas, inclusive as que ocorrem espontaneamente, podem favorecer a germinação de sementes e contribuir significativamente para a revegetação do Cerrado.
A pesquisa intitulada “Efeitos da fumaça na germinação de espécies do Cerrado” destaca que o fogo é um componente natural desse bioma. Contudo, a fumaça, um dos subprodutos do fogo, pode ter um impacto positivo, estimulando a germinação de sementes. No estudo, que analisou 44 espécies nativas do Cerrado, 32% apresentaram aumento na taxa de germinação, dependendo da concentração de fumaça.
A pesquisadora Rosana Marta Kolb, orientadora do estudo, explica que uma das substâncias responsáveis por esse efeito são as carriquinhas, que desempenham um papel crucial na quebra da dormência das sementes — um fenômeno comum no Cerrado, onde as sementes permanecem ‘escondidas’ no solo até que condições específicas as façam germinar.
No Cerrado goiano, onde as queimadas são frequentes, seja por causas naturais ou provocadas pelos seres humanos, a compreensão desses processos pode ser fundamental para a restauração de áreas devastadas. Segundo a pesquisadora, as técnicas baseadas nesses conhecimentos, como a utilização de água de fumaça para embeber sementes antes da semeadura, podem aumentar significativamente as chances de sucesso na restauração.
Porém, Rosana Marta Kolb adverte que o equilíbrio natural do Cerrado deve ser mantido. O fogo, quando controlado e em intervalos adequados, pode ser benéfico, permitindo que as plantas do Cerrado, adaptadas à ocorrência de incêndios, se regenerem com mais vigor. No entanto, a recorrência excessiva de queimadas, especialmente em áreas já fragilizadas do Cerrado goiano, pode comprometer a regeneração das espécies, quebrando o ciclo natural de recuperação das plantas.
Leia também:
Goiás em alerta devido a altos riscos de incêndios no final de semana