Cinco pacientes apresentam denúncia ao Cremego por falhas médicas de neurocirurgião
06 agosto 2025 às 18h02

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Cinco pacientes compareceram, nesta quarta-feira, 6, ao Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), em Goiânia, para denunciar supostas falhas médicas cometidas pelo neurocirurgião Tiago Vinicius Silva Fernandes. Acompanhados pelo advogado, os denunciantes relataram procedimentos mal conduzidos, falta de acompanhamento pós-operatório e sequelas graves. Procurado pelo Jornal Opção, o Cremego aponta que todas as denúncias relacionadas à conduta ética de médicos, recebidas pelo Conselho ou das quais toma conhecimento, são apuradas e tramitam em total sigilo, conforme determina o Código de Processo Ético-Profissional Médico.
Ao Jornal Opção, o empresário Márcio Lima, que já tinha relatado o caso em uma reportagem veiculada no dia 24 de junho deste ano, afirma que, nesta quarta-feira, 6, ele e mais quatro pacientes foram ao Cremego com o objetivo de buscar justiça. “Hoje mais quatro pacientes protocolaram junto ao Cremego uma ação de investigação administrativa. A partir daí, na sexta-feira (8), vai ser feita uma denúncia na Polícia Civil para abrir investigação e automaticamente reportar isso ao Ministério Público, porque nós estamos suspeitando que há muito mais casos envolvendo esse médico”, relata.
Lima ainda afirmou que a partir da denúncia dele outras oito pessoas apareceram alegando que também passaram por procedimentos com o neurocirurgião. “Uma dessas pessoas vão mover um processo a parte o restante será uma ação coletiva. Outro paciente, o Fabrício, disse que não tem condições psicológicas para continuar e futuramente vai cuidar dos processos e a gente entende isso porque as sequelas também afetaram muito o nosso psicológico”, afirmou o empresário.
Ele ainda conta o caso do paciente Márcio Geraldo, que foi operado no Hospital São Silvestre e que hoje tem muita dificuldade de se locomover. “Nós fizemos a denúncia, entramos na justiça e vamos à delegacia registrar o boletim de ocorrência. O que aconteceu com a gente, o que nos uniu, foi o sofrimento. Mas o que vai nos manter nessa união agora é a justiça. E nós não vamos parar”, afirma Márcio Lima.
O empresário também alega que o advogado do médico está fazendo pressão, dizendo que ele é um consagrado. “Eu tenho várias histórias de médicos que têm um perfil de ‘médico-monstro’: de dia é médico, à noite é um monstro. E ele não foge à regra. Ele deixou pessoas mutiladas, deixou pessoas com sequelas. O que a gente quer agora é que realmente a coisa ande no Cremego, que é obrigação deles. Mesmo sabendo que existe corporativismo, a gente não tem problema nenhum com a classe médica. Só queremos que aqueles que erraram sejam responsabilizados”, finaliza.
Em nota, a assessoria do neurocirurgião Tiago Vinícius Silva Fernandes afirmou que até o momento ele não foi notificado oficialmente sobre qualquer denúncia e também não foram informados quais pacientes teriam formalizado queixa junto ao Cremego. A nova ainda informa que o médico considerou positivo o caso ser levado até o Cremego, que é o órgão competente para avaliar a responsabilidade das condutas médicas. (Leia a nota na íntegra no final da matéria)
Não se conheciam
O advogado Leonardo Felipe, que representa os pacientes, declara que formalizou as denúncias sobre as falhas médicas envolvendo o médico. Segundo ele, os relatos incluem erros cirúrgicos, diagnósticos equivocados e abandono de pacientes. O objetivo, diz o advogado, é garantir que essas situações sejam investigadas e que os direitos dos pacientes sejam respeitados. “Queremos justiça, mas também prevenir que outros passem pelo mesmo sofrimento”, completa.
Entre os cinco denunciantes está o motorista Edson Nunes, de 45 anos. Ele afirma ter sofrido lesões permanentes após uma cirurgia na coluna realizada em 21 de setembro de 2023. O procedimento, que deveria durar até duas horas, se estendeu por sete. Logo após a operação, Edson desenvolveu paralisia no pé (conhecida como “pé caído”) e uma fístula liquórica (vazamento de líquido da medula) que, segundo ele, não foi comunicada à família.
Apesar do quadro grave de Edson, recebeu alta em apenas dois dias. Exames posteriores confirmaram lesão neurológica e formação de tecido cicatricial comprimindo a raiz nervosa. Hoje, vive com dores crônicas, atrofia muscular e depende de muletas. “Entrei no hospital andando e saí sem conseguir mexer o pé. Só quero justiça”, desabafa.
Outro caso grave é o da lojista Janaína Nunes. Em maio de 2023, após apresentar sintomas neurológicos, ela foi submetida a uma cirurgia de urgência indicada por Tiago Fernandes para retirada de um suposto tumor cerebral. No entanto, a biópsia realizada três dias após a operação revelou que se tratava, na verdade, de uma Malformação Arteriovenosa (MAV). A paciente ainda enfrentou uma infecção grave na ferida operatória, foi diagnosticada com osteomielite e afirma ter sido abandonada pelo médico, como consta no prontuário de abril de 2024.
Atualmente, Janaína convive com epilepsia, hemiplegia e está impossibilitada de trabalhar. “Saí da cirurgia sem conseguir mexer metade do corpo e tive alta no mesmo dia. Minha vida foi destruída por um erro”, lamenta. As denúncias ganharam repercussão após o empresário Márcio Lima relatar nas redes sociais que também sofreu sequelas permanentes após cirurgia na coluna realizada pelo mesmo neurocirurgião. Ele agora depende de muletas para se locomover.
Outro paciente, Márcio Geraldo, também esteve no Cremego para registrar denúncia semelhante. Completando o grupo de cinco vítimas, há ainda um quinto paciente que também formalizou sua denúncia contra o neurocirurgião. O que chama atenção nos casos é que os cinco pacientes não possuíam qualquer relação entre si antes das cirurgias. Eram pessoas comuns que se encontram unidas apenas pela tragédia de terem confiado no mesmo profissional.
A única ligação entre eles foi de terem escolhido, ou sido encaminhados, para o mesmo neurocirurgião. Os casos já foram oficialmente protocolados no Cremego. As denúncias devem ser apuradas pela Polícia Civil, e o Ministério Público acompanhará as investigações.
Em nota oficial
A assessoria jurídica do médico neurocirurgião informa que, até o momento, não foi notificada oficialmente sobre qualquer denúncia, tampouco lhe foram informados quais pacientes teriam formalizado queixa junto ao Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), o que torna impossível comentar especificamente os casos mencionados.
O médico considera positivo que o assunto tenha sido levado ao Cremego, órgão competente e imparcial para avaliar com responsabilidade as condutas médicas. Importante destacar que para comprovar a existência de negligência, imprudência ou imperícia, é preciso demonstrar a existência de nexo de causalidade entre o ato do médico e o dano suportado pelo paciente, ou seja, que o ato causou eventual dano. Isso só pode ser feito com produção de provas fundamentadas cientificamente, com a atuação de um perito judicial ou no âmbito do Conselho Regional de Medicina, pelos próprios pares do médico.
Outro aspecto fundamental é que a relação médico-paciente, a obrigação do profissional da medicina é uma obrigação de meio, ou seja, ele não se compromete com o resultado, mas com o uso dos melhores protocolos operacionais existentes na literatura médica para aquele caso concreto. Nem todo efeito adverso caracteriza, necessariamente, erro médico.
Finalmente, o médico que é alvo dessa campanha difamatória sempre pautou sua conduta pelos melhores protocolos operacionais relacionados à literatura médica. É um neurocirurgião consagrado, respeitado internacionalmente, e utilizará todos os espaços devidos — judiciais e administrativos — dentro do direito da ampla defesa e do contraditório, para refutar todas essas acusações. Ele tem plena confiança de que, caso haja apuração, será constatada a inexistência de qualquer falha, porque não houve qualquer conduta nesse sentido.
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