O sincericídio do agora ex-ministro escancarou que Dilma Rousseff ou qualquer outro do Poder Executivo pouco ou nada pode fazer a não ser que ceda a parlamentares achacadores

Cid Gomes discute na saída do Congresso: pagou porque falou verdades | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
O Congresso Nacional é chamado de “a Casa do povo”. É que lá deveriam estar os representantes eleitos pela população. No distorcido sistema atual, que resiste a uma reforma política necessária há décadas, seus ocupantes não passam de representantes de empreiteiras, bancos, multinacionais ou de si mesmos.
Pois nesta quarta-feira, 18, alguém lá dentro finalmente representou o povo. Curiosamente, não foi um deputado, tampouco um senador. Não foi um “eleito”, mas um nomeado. Não foi um parlamentar, mas um membro do primeiro escalão do governo federal.
Cid Gomes assumiu o Ministério da Educação com a missão de ser o líder da “Pátria educadora”. Durou pouco, porque falou em uma reunião reservada em Belém, com professores e reitores de universidades paraenses, que a Câmara teria “400 deputados, 300 deputados” para quem “quanto pior, melhor”, porque assim poderiam “achacar” mais o governo.
A colaboração de Cid Gomes foi bem maior do que introduzir mais um termo ao conhecimento geral — “achacar”, o mesmo que “extorquir” ou “chantagear”. Ele foi chamado ao Congresso para dar explicações sobre a tal declaração. Na tribuna do plenário da Câmara, os deputados ansiavam por um ato de contrição. Observaram, entre perplexos e indignados, o até então ministro confirmar o que dissera, e ainda dizer, se dirigindo ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) — investigado na Operação Lava Jato —, que preferia “ser chamado de mal-educado a ser acusado de achacador como ele” (apontando para o peemedebista).
A declaração causou sua imediata demissão. Político experiente, é óbvio que não foi inocente ou apenas vítima de uma incontinência verbal. Cid, como o irmão Ciro Gomes, é verborrágico e autor de frases por vezes infelizes. Mas ontem, intimado pelos deputados, já sabia o que iria fazer. E fez. Ao ser sincero como não se pode ser, apresentou, em sua fala, algo que 90% dos brasileiros gostariam de dizer, mas nunca teriam oportunidade — mesmo porque o pouco democrático microfone da Câmara não suporta ouvir algo que não queira.
Foi interessante observar tantos processados por crimes diversos se indignando com o sincericídio de Cid Gomes. Ver tanta gente com tantos processos nas costas, boa parte contando com a impunidade reinante e a condescendência com os colarinhos brancos deste País para não estar atrás das grades.
Entrou ministro, saiu ex-ministro. Foi um camicase. Cid Gomes não é um santo na política, aliás está muito longe desse perfil. Mas até por isso tem propriedade para falar o que falou.
Complicou ainda mais o governo Dilma? Momentaneamente, sim. Mas desviou, também momentaneamente, o foco do Planalto para o Congresso. A repercussão de seu discurso talvez tenha feito boa parte da população ampliar seu horizonte de raciocínio sobre crise e corrupção.
Uma coisa une todos os brasileiros que querem o bem do País, estejam agora pró ou contra o governo: querem que o País melhore. Mostrar que o alvo dos protestos não deve ser apenas Dilma Rousseff, e que ela — ou qualquer outro governante de qualquer esfera — pouco ou nada pode fazer a não ser que ceda a achacadores do Legislativo foi, sim, uma grande contribuição para ao maior entendimento de como a ciranda gira por aqui.
Talvez, ao invés de gritar “Fora Dilma” fosse mais eficiente ficar rouco pedindo por uma reforma política ampla, geral e irrestrita.
Parabéns ao jornalista Elder Dias! Traduziu de maneira clara e excelente o que de fato aconteceu ontem na dita “Casa do Povo”, que de povo não tem nada. Executivo, Legislativo e Judiciário deveriam começar o pente fino nas suas próprias cabeças. Ah, gostei do termo sincericídio. Valeu.
Cid mostrou quem realmente corrompe este País…
Ok entendido concordo, vamos começar pela senhora idosa pois não? Uma peça de cada vez, então assim: primeiro, vai pra vala a presidenta e imediatamente junto o pt, isso é urgente.
Para falta de argumento, sempre a apelação é o recurso.
Parabéns pelo texto,estou de pleno acordo. E olhe que a primeira atitude do tal Eduardo Cunha foi aumentar custo e distribuir vantagens p/ os achacadores,conseguindo assim seu apoio.
Parabéns ao jornalista e também ao ex ministro, porque se os deputados não são o que Ele falou, o que são? Brasileiros e patriotas tenho certeza que não são, se você ama o pais faz tudo para não dividir, o orgulho e o egoísmo as duas maiores chagas da humanidade estão de braços dados naquele congresso como sempre esteve, a diferença agora e que comandado por orgulhos, egoísta e inconsequente.
Parabéns Elder Dias pela excelente matéria.
Parabéns CID. Você teve a coragem do cearense de falar o que estava engasgado por milhares de pessoas. Chega de tanta hipocrisia, mentira e aproveitamento desses parlamentares…
valeu cid! o povo, os de bem, estão com voce,pra fora
mesmo só esses politicos que emporcalham o pais. quem
for honesto que mostre a cara.