O centenário do poeta Afonso Félix de Souza, conhecido como “grande poeta de Goiás”, é comemorado em Goiânia, Jaraguá e Cidade de Goiás. Afonso Félix é um dos grandes poetas do Brasil. O evento é organizado por uma comissão liderada por Yuri Baiocchi, que preside a comissão do centenário, que é realizado sem a utilização de de verbas públicas.

Nascido em Jaraguá, Afonso Félix tinha raízes profundas na cidade, onde sua família paterna era originária. Durante a infância, ele era considerado “bobo” por ter nascido com a língua pendurada. Aos 9 anos, deixou Jaraguá, passando por Pires do Rio e Silvânia, onde estudou com padres selesianos, onde se destacou “por ser muito inteligente”.

Afonso morou no Rio de Janeiro, estudou economia em Paris, viveu em Brasília, no Líbano, Chicago, mas sempre sentiu saudade de Goiás, de Jaraguá. Seu livro ‘Amoroso e a Terra’ é um testemunho dessa ligação, por ser repleto de referências a Goiás.

Além de poeta, Afonso Félix era um “renomado tradutor”, responsável pela primeira tradução de Federico Garcia Lorca para o português. Ele também traduziu Jacques Prévert (francês), Sylvia Plath (inglês), Leopardi (italiano), John Donne (inglês arcaico) e seis sonetos inéditos de Shakespeare. A tradução da qual ele “mais se orgulhava era a tradução do John Don”, relata Baiocchi.

Afonso teve cinco filhos com a também poetisa Astrid Cabral. Entre eles Giles, que faleceu jovem em um acidente. O livro que o poeta escreveu para seu filho, chamado ‘A beira do seu corpo’ é, para Baiocchi, o livro mais bonito do autor. A obra narra episódios e a relação com o filho, que era ateu, contrastando com o pai religioso. O livro termina com o momento em que o poeta segura a mão do filho morto.

No momento, o acervo pessoal e literário de Afonso Félix está em fase de organização. Segundo Yuri Baiocchi, a família planeja “doá-lo à Fundação Pedro Ludovico Teixeira” e o material relacionado ao Rio de Janeiro seja doado à Fundação Getúlio Vargas.

Centenário

Este ano marca 100 anos do nascimento do poeta. A celebração inclui a exibição do filme ‘Afonso Félix de Sousa e família’, dirigido pela artista plástica Mariana Cabral Félix de Sousa, filha mais nova do poeta. A obra foi produzida enquanto Afonso já enfrentava consequências da doença de Parkinson, o que tornava sua fala e movimentos muito difíceis. “A produção é quase caseira, só que muito bem feita. O filme tem muito afeto e amor”, relata Baiocchi.

O documentário começa com Afonso declamando um poema para o Rio de Janeiro de sua janela. O poema descreve o Rio como um cartão postal, com menções ao Corcovado, Pão de Açúcar, Enseada de Botafogo, Aterro e Praia do Flamengo.

O filme é exibido em Jaraguá, cidade natal do poeta, e na cidade de Goiás, onde a Prefeitura cede equipamento para um sessão pública no Largo do Rosário.

Além disso, as comemorações do centenário inclui palestras na Academia Goiana de Letras e um saraus poéticos. De acordo com Baiocchi, o evento não recebeu verba pública. A Academia Goiana de Letras, por exemplo, não teve gastos e contou com a adesão de palestrantes e músicos que não cobraram cachê.

A abertura ocorreu nesta quinta-feira, 3, e surpreendeu a organização por conta do “auditório cheio” e o público permanecendo engajado mesmo após o horário previsto, o que, segundo Baiocchi, “mostrou o prestígio de Afonso”.

A celebração do centenário de Afonso Félix de Souza é considerado um tributo à sua vida, obra e ao rico legado intelectual de sua família, ressaltando a capacidade de mobilização cultural sem dependência de financiamento público.

Confira a programação

Jaraguá – 4 e 5 de julho

4 de julho (19h)

  • Exibição do filme Afonso Félix de Sousa em família (Espaço Cultural Zuleika Lôbo)

5 de julho (10h)

  • Missa em Ação de Graças na Igreja de Nossa Senhora da Conceição
  • Vocalização de sonetos religiosos pelo Coral Nossa Senhora da Penha

Cidade de Goiás – 11 e 12 de julho

11 de julho (19h)

  • Sarau com o Grupo Quebrando o Silêncio na Fundação Frei Simão Dorvi

12 de julho (manhã)

  • Caminho de Letras e Artes: plantio de mudas na Chácara Dona Sinhá
  • Visita à Casa de Goianidra com plantio simbólico
  • Roda de conversa no Instituto Biapó com escritores e leitores

12 de julho (tarde e noite)

  1. Recepção aos herdeiros de Afonso Félix e formalização de doação de acervo
  2. Exibição do filme Afonso Félix de Sousa em família (22h30, Largo do Rosário)
  3. Serenata em Goiás (23h), com declamações de poemas e traduções

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