Cemitério de 2 mil anos é encontrado sob escola na França

17 fevereiro 2025 às 20h00

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Durante uma reforma em uma escola na cidade de Dijon, na França, arqueólogos fizeram uma descoberta surpreendente: um antigo cemitério contendo 13 esqueletos humanos enterrados de maneira incomum. Os corpos, datados de mais de dois mil anos, estavam dispostos em uma posição atípica, todos sentados, voltados para o oeste, com as costas apoiadas na parede da cova e os braços e pernas dobrados à frente do corpo. O achado levanta questionamentos sobre os costumes fúnebres da época e pode revelar detalhes sobre a sociedade gaulesa do período.
O Instituto Nacional de Pesquisas Arqueológicas Preventivas (Inrap) lidera a investigação do local e considera o posicionamento dos corpos uma prática rara. “Estamos mais acostumados a enterros de indivíduos reclinados, em geral de costas, com os membros inferiores estendidos. E não dobrados dessa forma”, explicou Annamaria Latron, arqueoantropóloga do Inrap, ao jornal francês Le Monde. A disposição uniforme das covas, com aproximadamente um metro de diâmetro cada, reforça a hipótese de um ritual específico.
Além dos corpos em posição sentada, arqueólogos encontraram túmulos infantis no local. Essas sepulturas, diferentes das demais, continham crianças enterradas deitadas de lado ou de costas, uma forma de inumação mais comum. O sítio arqueológico já havia sido usado como cemitério no passado, mas posteriormente foi destinado à agricultura e ao abate de animais, como sugerem fileiras de plantio e crânios de vaca encontrados na área. Estima-se que essas alterações tenham ocorrido entre os séculos 16 e 17.
A identidade dos mortos e o significado da posição dos corpos ainda são um mistério. Uma das teorias iniciais sugeria que os indivíduos poderiam ter sido criminosos punidos com esse tipo de sepultamento. No entanto, novas hipóteses indicam que eles poderiam ser figuras de alta posição social, como membros da aristocracia local ou líderes religiosos, devido à semelhança com outros 11 túmulos encontrados anteriormente na França e na Suíça, sempre próximos a residências aristocráticas e locais de culto.
Até o momento, apenas um artefato foi encontrado junto aos corpos: uma braçadeira de pedra datada de 300 a 200 a.C. Essa peça reforça a conexão dos sepultados com os gauleses, povo celta que habitava regiões da atual França, Bélgica, Alemanha e Itália durante a segunda Idade do Ferro. No entanto, os pesquisadores ainda aguardam análises químicas e exames de DNA para obter mais informações sobre a origem e as condições de vida dessas pessoas. O uso da datação por radiocarbono também será essencial para determinar com maior precisão a época dos enterros.
As descobertas feitas em Dijon integram um crescente número de achados arqueológicos que ajudam a reconstituir a vida e os rituais fúnebres das sociedades antigas. Em toda a Europa, especialistas buscam entender melhor os costumes dos povos celtas e suas influências na cultura atual. O cemitério recém-revelado pode trazer contribuições para esse conhecimento, destacando práticas que diferem do que já foi documentado.
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