Casal gay diz ter sido ameaçado com faca em restaurante de Goiânia
08 fevereiro 2016 às 17h11

COMPARTILHAR
Advogado e produtor denunciam caso de homofobia no Carne de Sol 1008. Proprietário nega veementemente e garante que os dois estavam alcoolizados

Um casal gay diz ter sofrido homofobia no bar Carne de Sol 1008, localizado no Setor Pedro Ludovico, em Goiânia, na tarde deste domingo (8/2). O advogado Leo Wohlgemuth Lôbo e o produtor cultural João Lucas Ribeiro foram convidados a se retirarem do estabelecimento por estarem “trocando carícias”.
Em entrevista ao Jornal Opção, Leo contou que ele e o namorado almoçavam no local, quando foram abordados por um garçom que pediu para que eles parassem de se encostar, pois havia “criança perto”. “Estávamos de mãos dadas, fazendo carinho, o mesmo que qualquer ser humano que sente afeto pelo outro faz”, contou.
O advogado não aceitou a confrontação e discutiu com o garçom. Minutos depois, a conta teria sido fechada e colocada sobre a mesa. O casal não aceitou a intimidação e pediu uma cerveja, que nunca chegou. “Recolheram a garrava vazia, os copos e nos ignoraram”, explicou.
Os dois, então, se levantaram e partiram para o carro. Foi aí que a agressão teria ocorrido: “Um grupo de umas 15 pessoas, entre garçons e vigias de carro [ele não sugeriu que havia outros indivíduos que não eram funcionários do bar], nos cercaram e começaram a nos ameaçar. Eu disse que não queria problemas e entreguei 100 reais para pagar a conta, que deu 80”.
Mesmo assim, um homem — que não era um garçom — teria colocado uma faca em seu pescoço, afirma Leo. “Tomaram o celular do João. Foi horrível”, lamentou.
“Uma pessoa ser exposta a isso é uma desgraça. Já fui várias vezes, mas essa foi a primeira. Quer dizer, se for bicha discreta pagando a conta tudo bem, se for uma bicha beijando o namorado aí eles não aceitam”.
Outro lado
Proprietário do Carne de Sol 1008, Cleiton José Gonçalves negou veementemente, ao Jornal Opção, a versão do casal. Segundo ele, a casa já prepara as filmagens das câmeras do local para poder divulgar a verdade sobre o ocorrido.
Cleiton conta que os dois não estava só “trocando carícias”, mas, sim, “se pegando mesmo”. “Era uma coisa escandalosa. Os outros clientes ficaram constrangidos, não pelo fato de serem gays, mas pela maneira como estavam se beijando. Foi então que, repito, os próprios clientes pediram para que o gerente falasse com eles, de modo a não cercear, apenas pedir para que diminuíssem”.
Foi o que o gerente teria feito. Ante ao pedido, um deles [o advogado, Leo Wohlgemuth Lôbo] se levantou e teria gritado, dizendo que “não iria parar” e que queria ver “fazerem eles pararem”. “De pé, ele ameaçou o gerente e ainda o empurrou com uma batida no peito”, disse o proprietário.
Mesmo com a reação, Cleiton assegura que tratou os clientes com toda a cordialidade e que não é do feitio da casa discriminar ninguém. “Há uma determinação expressa no cardápio dizendo que não aceitamos cenas amorosas. Seja para gay ou hétero. No entanto, você acha mesmo que se eles estivesse apenas ‘trocando carícias’ nós iríamos pedir para que parassem? Estava escandaloso”, argumentou.
Além disso, o proprietário assegura que os dois estavam “extremamente alcoolizados” e “passaram todos os limites”. “Nós temos clientes homossexuais fieis, nunca isso aconteceu antes. Não instruímos nenhum funcionário a destratar qualquer pessoa, independente de raça, credo ou orientação sexual. Estamos no século XXI”, clamou o proprietário.
Após a confusão com o gerente, o casal teria pedido mais uma cerveja — que foi servida prontamente — e só então que decidiu sair “sem pagar a conta”. “É verdade que meus garçons foram atrás deles, simplesmente porque queriam receber. Não houve agressão. É mentira essa história de faca. O outro, o produtor musical lá, estava tão louco que até pediu o isqueiro de um dos garçons, que ainda emprestou”, disse.
Se negando a pagar a conta, Leo teria, segundo o proprietário, tentado fugir jogando o carro em cima dos garçons. “Ele fechou a rua, causou uma confusão danada. Estava muito bêbado”, completou.
Foi então que o advogado teria dado os 100 reais a um dos funcionários e teria “saído na contramão”. “Fizeram um escândalo no bar. Xingaram clientes, gritavam ‘homofóbicos filhos da p*’, ‘vão tomar no c*'”. Foi horrível”, lamentou.
Ao final, o proprietário do Carne de Sol 1008 “desafia” o casal a ir, agora, a uma delegacia prestar ocorrência: “Só me avisarem em qual estarão que eu irei e levarei as filmagens. Não houve agressão”. Para ele, os dois estão tentando “denegrir a imagem” da casa com essa “história mentirosa”.