Brasileiros ampliam consumo cultural, mas desigualdades ainda moldam hábitos
28 novembro 2024 às 17h52
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Em 2024, os brasileiros demonstraram maior participação em atividades culturais em relação ao ano anterior, com destaque para o crescimento do consumo de streaming, novelas e espetáculos presenciais. Apesar do avanço, a desigualdade de renda continua influenciando os hábitos culturais da população, como revela a pesquisa Hábitos Culturais, conduzida pelo Observatório Fundação Itaú e pelo Datafolha.
O estudo entrevistou 2.494 pessoas de 16 a 65 anos, de todas as regiões do Brasil, utilizando métodos presenciais e por telefone, e aponta que 97% dos brasileiros participaram de alguma atividade cultural neste ano.
Streaming lidera preferências culturais
As plataformas de streaming continuam sendo o meio preferido para atividades culturais, reafirmando sua consolidação entre os brasileiros. Segundo o levantamento, 83% dos entrevistados consomem música digitalmente, enquanto 73% assistem a filmes e 69% acompanham séries online. A flexibilidade dos horários foi apontada como uma das principais razões para a popularidade do formato digital, destacando-se como vantagem em meio às rotinas corridas.
Além disso, o consumo de novelas mostrou crescimento, saltando de 36% em 2023 para 56% neste ano. Outras atividades, como espetáculos de dança e eventos infantis, também registraram aumento, com destaque para o retorno do público às apresentações presenciais.
Atividades presenciais e seus desafios
Embora o consumo digital tenha consolidado sua relevância, os eventos culturais presenciais também tiveram um aumento notável. O uso de salas de cinema, por exemplo, cresceu de 33% no ano passado para 38% em 2024. Atividades ao ar livre e visitas a centros culturais e bibliotecas também atraíram mais público, refletindo uma retomada gradual da interação física em espaços culturais.
Contudo, as disparidades econômicas continuam sendo um fator determinante para o acesso às atividades culturais presenciais. Cerca de 39% dos entrevistados afirmaram não gastar nada com essas atividades, enquanto 46% gastaram mais de R$ 50. A pesquisa destacou ainda que 59% das pessoas das classes D e E recorrem a opções gratuitas, em comparação com 23% das classes A e B, evidenciando as limitações impostas pela desigualdade de renda.
Questões como violência e insegurança lideram as razões para o afastamento de atividades culturais presenciais, mencionadas por 35% dos entrevistados. O índice é especialmente elevado entre pessoas pretas (43%) e nas classes mais altas, A e B (37%).
Além disso, o fator financeiro permanece como um dos principais obstáculos, igualando a insegurança em 35%. As classes A e B, tradicionalmente vistas como menos vulneráveis, surpreendentemente se mostraram mais sensíveis a essa barreira em comparação com as classes D e E, sugerindo que o custo das atividades culturais pode ser um peso mesmo para indivíduos de maior renda.
Investimentos públicos e iniciativas do governo
Para enfrentar esses desafios, o governo federal realizou o maior investimento na história da cultura brasileira. Por meio da Política Nacional Aldir Blanc de Incentivo à Cultura, R$ 15 bilhões serão destinados ao setor até 2027, garantindo apoio direto e contínuo a estados e municípios. A ministra da Cultura, Margareth Menezes, destacou a importância de fortalecer a diversidade cultural e apoiar os profissionais da área, com ações como a Lei Paulo Gustavo, que destinou R$ 3,8 bilhões a trabalhadores afetados pela pandemia.
Outra iniciativa foi a criação de linhas especiais de patrocínio voltadas para periferias, regiões do Norte e territórios criativos, promovendo a inclusão cultural em áreas historicamente desfavorecidas. A ministra enfatizou a necessidade de tornar a cultura acessível em todas as regiões do Brasil, por meio de programas, editais e outras ações.
A gerente do Observatório Fundação Itaú, Carla Chiamareli, ressalta que a mobilidade urbana, a segurança pública e a acessibilidade econômica devem ser prioridades nas políticas culturais.”As comunidades mais vulneráveis frequentemente vivem longe dos centros urbanos, onde se concentram atividades culturais como bibliotecas, museus e apresentações. É essencial que as políticas culturais também estejam articuladas com questões como mobilidade urbana, segurança pública e capacidade de consumo de bens e serviços. Somente assim será possível garantir um acesso efetivo e equitativo à cultura para todos”, afirmou Chiamareli à Folha de S. Paulo.
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