Bolsonaro, Michelle e Mauro Cid serão ouvidos pela Polícia Federal

31 agosto 2023 às 07h52

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O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), sua esposa, Michelle Bolsonaro e o ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid, serão ouvidos pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira, 31. No mesmo horário, às 11h, outras cinco pessoas ligadas ao ex-mandatário também serão ouvidas na operação que investiga a venda de joias recebidas em viagens oficiais.
Os depoimentos simultâneos fazem parte de uma estratégia adotada pela PF para evitar a combinação de respostas. Além do casal Bolsonaro e do Cid filho, os investigadores também realizam as oitivas de Cid pai, o general Mauro Lourena Cid, de Fabio Wajngarten (ex-secretário de Comunicação da Presidência da República), Frederick Wassef (advogado de Bolsonaro), Osmar Crivelatti (assessor de Bolsonaro) e Marcelo Camara (assessor de Bolsonaro).
Neste caso, a investigação recai diretamente sobre o ex-presidente, uma vez que a PF apura e suspeita que os valores arrecadados com a venda de itens vendidos ilegalmente teria a finalidade de ser incorporado ao patrimônio do ex-presidente, cerca de R$ 1 milhão. A Operação, denominada Lucas 12:2, foi deflagrada no dia 11 de agosto.
Em outros depoimentos, Bolsonaro optou por falar, negando as acusações e voltando atrás em posicionamentos. Nesta quinta-feira, 31, ainda não se sabe qual estratégia os advogados do ex-presidente vão usar, se ele será orientado a falar ou permanecer em silêncio. A expectativa é que seja mantida a estratégia de outras ocasiões e que a versão do ex-presidente seja exposta.
De acordo com as investigações, “há fortes indícios de que os investigados usaram a estrutura do Estado brasileiro para desviar de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao presidente da República (…) com o intuito de gerar o enriquecimento ilícito do ex-presidente Jair Bolsonaro”.
Em março de 2023, Mauro Cid teria ido a Miami para reaver joias vendidas a uma loja local. Todos os itens, classificados com “kit ouro branco”, foram presenteados a Bolsonaro durante visita à Arábia Saudita, em 2021. Além de Cid e Wassef, as trocas de mensagens apontaram a participação de Osmar Crivelatti e Marcelo Camara, outros assessores do ex-presidente, nas tratativas para a recuperação dos itens.
De acordo com a PF, esse kit deixou o Brasil em avião da Força Aérea Brasileira, durante viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos. O ajudante de ordens, que integrava a comitiva, não voltou com o grupo e permaneceu no exterior para vender as joias recebidas pelo ex-presidente.
Outra investigação de Bolsonaro
O ex-presidente da República tinha uma outra oitiva originalmente agendada para esta quinta-feira, 31, no contexto da investigação da CPI dos atos golpistas. Bolsonaro prestaria depoimento sobre mensagens trocadas com empresários discutindo a possibilidade de um golpe de Estado caso o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fosse eleito presidente. A oitiva, no entanto, precisou ser adiada para uma data subsequente.
A equipe de defesa do ex-presidente Bolsonaro solicitou o adiamento do depoimento relacionado à acusação de disseminação de notícias falsas. Como justificativa, os advogados alegaram que eles não conseguiram concluir a leitura dos extensos documentos, denominados de “autos volumosos”, uma vez que só tiveram acesso a eles na segunda-feira, 28. Em virtude disso, a oitiva prevista para acontecer hoje precisou ser remarcada para uma data posterior.
Entenda a Operação
No dia 11 de agosto, a PF deflagrou a Operação Lucas 12:2 — o nome foi uma alusão ao versículo bíblico que diz que “não há nada escondido que não venha a ser descoberto”. Quatro pessoas foram alvo da primeira fase da operação, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sendo elas: Mauro Cesar Barbosa Cid; o pai dele, o general do Exército Mauro Cesar Lourena Cid; o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e tenente do Exército Osmar Crivelatti; e o advogado Frederick Wassef, que já defendeu Bolsonaro e familiares em processos judiciais.
Apesar de ter o nome mencionado pela PF como integrante de uma suposta “organização criminosa”, Bolsonaro não foi alvo da operação. Segundo Moraes, há “fortes indícios de desvios de bens de alto valor patrimonial” no caso das joias negociadas pelo entorno do ex-presidente. O ministro do STF é relator do inquérito que investiga a atuação de uma suposta milícia digital contra a democracia. Os crimes apurados na operação são lavagem de dinheiro e peculato (desvio de bem público).
Em meio às investigações, a Polícia Federal pediu a quebra de sigilo do casal Bolsonaro. A operação atingiu integrantes do núcleo mais próximo do ex-mandatário um mês depois de ele ter sido condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ficar inelegível por oito anos.
A expectativa é que Mauro Cid colabore com as investigações e confesse que vendeu as joias a mando do ex-presidente. Nos bastidores, ele tem demonstrado disposição em colaborar com as investigações da PF e em confessar o seu envolvimento.
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