Bolsista goiana tem maior nota da turma de formandos em Harvard e já ganhou bolsa para doutorado na Universidade de Cambridge

25 junho 2025 às 12h45

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A goiana Sarah Aguiar Monteiro Borges transformou um percurso improvável em uma das trajetórias acadêmicas mais brilhantes de que se tem registro entre estudantes brasileiros no exterior. Recém-formada em Psicologia pela Universidade de Harvard, ela não apenas concluiu a graduação como bolsista em uma das instituições mais prestigiadas do mundo, como também entrou para a história ao se tornar a primeira brasileira a receber o Sophia Freund Prize — prêmio concedido ao aluno com a nota final mais alta da turma.
Graduada summa cum laude, o mais alto nível de excelência acadêmica dos Estados Unidos, Sarah segue agora para um doutorado em Psiquiatria na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, com bolsa integral.
A jornada de Sarah começou em Goiânia, onde nasceu e cresceu. Aluna de uma escola particular com apoio financeiro dos proprietários, desde cedo cultivou o prazer pelos estudos. “Isso me proporcionou uma verdadeira alegria de aprender que me acompanha desde então”, afirma Sarah à Universidade de Cambridge.
Incentivada pela mãe, assistente social de formação, professora primária e posteriormente administradora de lojas de calçados e móveis, e pelo pai, engenheiro civil, Sarah e sua irmã gêmea trilhavam juntas o caminho acadêmico. Mas foi sua decisão de abandonar o curso de Medicina na Universidade de São Paulo (USP) – ao qual foi aprovada em 5º lugar – para estudar fora do país, o que mudou sua vida. Impulsionada pela organização BRASA, ela superou as barreiras do processo seletivo internacional e escolheu Harvard.
Durante o ano sabático provocado pela pandemia, antes de iniciar os estudos nos Estados Unidos, Sarah organizou um curso preparatório para alunos de escolas públicas afetados pela Covid-19. A iniciativa alcançou centenas de estudantes em todo o Brasil. Em paralelo, criou o projeto “STEM para as Minas”, produziu podcasts com cientistas renomadas, e fundou o “Círculo”, programa de formação e liderança com estudantes da América Latina. Essas ações se tornaram marcas de um compromisso social que cresceria ainda mais em Harvard.
Ao longo da graduação, Sarah intensificou seu engajamento acadêmico, ela explorou disciplinas variadas, de Filosofia a Ciência da Computação, antes de encontrar na Psicologia seu campo de atuação. Tornou‑se a primeira mulher brasileira a presidir a Associação de Harvard para a Democracia nas Américas (HACIA), sucedendo um compatriota.
Através de pesquisas com nomes de como Mahzarin Banaji e Matthew Nock, ela estudou temas como estigma do suicídio, disparidades de gênero em STEM, trauma e mudanças climáticas. Um de seus projetos consistiu em criar um jogo para estudar como a sensação de controle influencia a tomada de decisão e pode estar ligada a sintomas de depressão e ansiedade.
Percebi que queria usar os métodos rigorosos que aprendi na pesquisa em psicologia social para estudar resultados que impactam profundamente o bem-estar das pessoas”, diz ela à Gates Cambridge.
Para sua tese final em Harvard, Sarah investigou o impacto do estigma no uso de serviços de saúde mental por jovens brasileiros em centros urbanos. Ela constatou que “há uma lacuna entre crenças e comportamento”: embora muitos dissessem estar dispostos a procurar ajuda, poucos efetivamente o faziam. Seu trabalho, sob orientação do professor Mark Hatzenbuehler, revelou que o estigma reduz a intenção de cuidado.
Agora em Cambridge, com apoio da professora Sharon Neufeld e bolsa Gates Cambridge, Sarah pretende avaliar a eficácia dos serviços públicos e privados de saúde mental para jovens no Brasil. Com base nos dados de sua tese e em entrevistas qualitativas com profissionais, cuidadores e estudantes, a pesquisadora quer responder: quem se beneficia mais dos serviços? Em quais contextos eles funcionam? Como o estigma, o status socioeconômico e o tipo de atendimento interferem nos resultados? Isso, levando em conta fatores como estigma, condição socioeconômica e tipo de atendimento.
“Quero entender como podemos melhorar o atendimento à saúde mental para todos, especialmente para aqueles que mais precisam”, explica em entrevista à Gates Cambridge.
O projeto incluirá variáveis como satisfação com a vida e desempenho educacional, indo além da simples avaliação de sintomas. Ao estimar quais modelos — público ou privado — promovem maior eficácia e em que contexto, Sarah espera contribuir para políticas de saúde mental mais equitativas e baseadas em evidências.

A jovem pesquisadora resume bem sua jornada: “Como a primeira do meu estado a estudar na Universidade de Harvard, e agora a primeira bolsista Gates Cambridge, sinto uma forte responsabilidade de usar minhas oportunidades para melhorar o bem-estar daqueles que frequentemente são deixados de fora da pesquisa e das políticas”.
Sarah Borges não vê seus feitos como individuais. Ao contrário, ela reconhece os fatores estruturais que moldaram sua trajetória. “Embora eu sempre tenha trabalhado duro e permanecido curiosa, tenho plena consciência de que muito do que conquistei se deve a circunstâncias além do meu controle. Um amor pelo aprendizado que foi cultivado desde muito jovem, uma família que me apoiou em cada passo do caminho e um contexto social mais amplo que tornou essas oportunidades possíveis”, diz.
E conclui: “Essa consciência me dá um profundo senso de responsabilidade: usar os talentos e as oportunidades que tive a sorte de receber para ajudar a tornar este mundo um lugar melhor.”
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