Bolsa Família: a cama do presidente da República
01 maio 2018 às 11h16

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Quando algo polêmico está acontecendo na política presidencial, nada melhor do que promover um agrado aos cidadãos, o reajuste mais recente do Bolsa Família é um ótimo exemplo disso

O Bolsa Família que atende atualmente a 13,8 milhões de famílias – cerca de R$ 50 milhões de pessoas – com renda per capita de até R$ 85,00 ou R$ 170,00 mensais, sofreu um reajuste nesta segunda-feira (30/4). Anunciado pelo presidente Michel Temer (MDB), o aumento foi de 5,67% acima da inflação, que passa a valer a partir de 1º de julho para 3,8 milhões de beneficiários. O orçamento total previsto do programa é de R$ 28,2 bilhões.
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Mas existe um buraco na história desse reajuste: o cinismo em como ele foi anunciado – e o momento em que. Temer se pronunciou oficialmente na rádio e TV para informar sobre o aumento do programa dizendo que “neste 1º de Maio, o presidente da República não podia deixar de mostrar serviço. Por isso, anuncio que acabo de autorizar o reajuste do Bolsa Família”. O político, no entanto, não cita o percentual durante a fala.
Mas engana-se que o momento escolhido, Dia do Trabalhador, foi proposital. A data apenas coincidiu com a quantidade de pessoas denunciadas que permeiam o presidente e pela própria denúncia que o atinge. Temer é investigado por suspeita de ter atuado a favor da Rodrimar, empresa do setor de portos – Operação Skala – e, por incrível que pareça, o relator do processo, ministro Luís Roberto Barroso, determinou que a Polícia Federal formulasse as perguntas do depoimento do presidente na quinta-feira (26/4), exatamente um dia antes do pré-anuncio do reajuste do Bolsa Família.
Vale lembrar que a denúncia a Temer faz parte de um cenário jurídico inédito, no qual pela primeira vez um presidente no cargo é denunciado ao Supremo. Outro ponto que não pode ser esquecido é que, entre as pessoas denunciadas na operação, que são próximas do presidente, estão Eduardo Cunha, Henrique Alves, Geddel Vieira Lima, Rodrigo Rocha Loures, Eliseu Padilha e Moreira Franco. Com exceção dos dois últimos, que são ministros e, portanto, têm foro, os demais estão presos.
Então, é possível que um reajuste no Bolsa Família – o último havia sido em julho de 2016 – possa fazer com que a queda do presidente não seja tão ruim, servindo como uma cama, algo bom em meio a tanto caos.
De qualquer jeito o Bolsa Família, apesar de pouco e de ser usado a favor dos parlamentares, não pode e nem deve acabar, pois ajuda pessoas que se encontram em estado de extrema pobreza no Brasil. O eleitor porém, principalmente o que recebe o benefício, precisa desvincular totalmente o programa do rosto do político que esteja com a posse da faixa presidencial. Isso porque quase ¼ da população é diretamente atingida pelo amparo e com certeza a maioria tem idade suficiente para votar e se conscientizar pela escolha que faz.
Agora, mesmo com o reajuste, nada parece mudar a atual popularidade de Temer: cerca de 5% a favor e outros 87% dizendo que nunca votariam nele ou alguém indicado por ele. É possível imaginar, dessa forma, que se pudesse voltar no tempo, o presidente talvez o fizesse, restituindo-se como vice-decorativo, do qual reclamou ser quando escreveu uma carta à então presidente Dilma Roussef (PT) em 2015.