Bivar revela detalhes sobre Anderson Torres e a ‘Minuta do Golpe’

26 julho 2024 às 12h57

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Em seu quarto mandato como deputado federal, Luciano Bivar (União Brasil-PE) sempre se manteve discreto nas principais decisões políticas do país. Seu auge político ocorreu quando presidiu o PSL e ajudou a eleger Jair Bolsonaro em 2018. Como líder do partido, Bivar esteve diretamente envolvido na ascensão da direita ao poder e teve acesso aos bastidores do governo de Bolsonaro.
Agora, com o ex-presidente enfrentando investigações criminais que podem resultar em longas penas de prisão, Bivar está prestes a lançar um livro que detalha suas experiências e episódios marcantes dessa época. No livro, intitulado Democracia Acima de Tudo, ele revela que o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, apresentou em segredo aos líderes do partido uma minuta que supostamente serviria para um golpe de Estado.
Em 2022, um ano carregado de tensões políticas, vários políticos expressavam preocupações sobre tendências golpistas no governo Bolsonaro. O presidente havia transformado o Supremo Tribunal Federal (STF) em um adversário e questionado a validade das urnas eletrônicas. De acordo com a Polícia Federal, Bolsonaro recebeu versões de um decreto que visava anular as eleições e prender opositores e autoridades.
Em dezembro daquele ano, ele teria se reunido com militares para discutir um possível levante. Foi nesse contexto que Luciano Bivar recebeu um convite de Anderson Torres para uma reunião em Brasília. Torres se aproximou do partido por influência de Manoel Arruda, presidente da sigla no Distrito Federal e amigo do ex-ministro.
Na viagem a Recife, Bivar enviou seu assistente, Antônio Rueda, para a reunião. Rueda, que na época era o braço direito de Bivar e havia sido presidente do União Brasil, relata em suas memórias que Torres apresentou a famosa “minuta do golpe” durante o encontro. Esse documento, que mais tarde seria apreendido pela polícia, detalhava um plano para intervir na Justiça Eleitoral e declarar Estado de Defesa, com a intenção de reverter o resultado das eleições que elegeu Lula.
Após sua destituição da presidência do União Brasil, Bivar e Rueda se tornaram rivais e, desde o início do ano, estão envolvidos em uma troca de acusações. Um processo no STF acusa Bivar de ordenar incêndios na casa de Rueda e na propriedade da irmã dele, além de ameaçar a filha de Rueda e contratar um pistoleiro.
Além disso, Bivar se tornou inimigo de Jair Bolsonaro após o ex-presidente tentar expulsar seis deputados que considerava desleais e lutar para colocar seu filho, Eduardo Bolsonaro, na liderança do partido. Com a ruptura, Bolsonaro deixou o PSL e concorreu à reeleição pelo PL.
Rueda nega ter se encontrado com Anderson Torres e ameaça tomar ações legais se Bivar persistir em suas alegações. “Isso é uma invenção. Nunca tive qualquer reunião com Anderson Torres sobre essa minuta,” declarou Rueda, atual presidente do União Brasil.
Por sua vez, Luciano Bivar afirma que os detalhes do encontro foram confirmados por Rueda e que seu livro contém relatos e provas concretas. A minuta do golpe, considerada essencial pela Polícia Federal para a investigação sobre a tentativa de subverter a democracia, foi encontrada na casa de Torres dois dias após os atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023. Torres também nega ter discutido o assunto com Bivar. “Nunca falei sobre isso,” afirmou ele em uma entrevista após ser implicado nas investigações. Bivar assegura que seu livro está quase concluído e que a maior parte dos capítulos será dedicada ao ex-presidente, embora ele negue que a obra seja uma vingança contra seus inimigos.
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