Ave pode ter derrubado avião em que Eduardo Campos morreu, diz especialista e professor da PUC
14 agosto 2014 às 17h53

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Para George de Moura, aeronave em que estava o ex-governador de Pernambuco sofreu interferência de animais. Correntes de vento também podem ter influenciado na queda

O acidente que vitimou o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) pode ter sido causado pela colisão de aves com as turbinas do avião. É o que acredita o advogado especialista em direito aeronáutico e também professor da PUC-Goiás, Georges de Moura Ferreira.
Na visão dele, esse pode ser um dos fatores determinantes do desastre. Diferente dos chamados fatores contribuintes — como as condições climáticas e a falta de manutenção da aeronave que, juntos, resultam em um acidente —, tal motivo pode ser considerado como preponderante.
“O choque com uma ave só ou um bando pode ter afetado as duas turbinas. Se o equipamento traga os animais, acaba pegando fogo”, explicou, em entrevista ao Jornal Opção Online nesta quinta-feira (14). O defensor tem experiência de voos na região e no aeroporto em que o Cessna Citation modelo 560 XL deveria ter pousado.
Georges Ferreira disse que inicialmente a base aérea só operava pousos e decolagens de helicópteros e que, depois, foi autorizada a circulação de pequenas aeronaves no local. “Sempre há riscos de ventos fortes quando se voa próximo ao litoral. As correntes de vento, que podem chegar a 40 km/h, atrapalham”, ressaltou.
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A cabine do avião foi localizada na madrugada desta quinta-feira pelo Corpo de Bombeiros. No interior estavam restos mortais dos cinco passageiros e dos dois tripulantes foram visualizadas pelas equipes de resgate. A carteira de Eduardo Campos, com documentos, e outros objetos pessoais foram encontrados por volta das 5h.
Além do presidenciável, estavam a bordo da aeronave o fotógrafo Alexandre Severo Silva, o assessor de imprensa Carlos Augusto Leal Filho, o Percol, o advogado e ex-deputado federal Pedro Valadares, o cinegrafista Marcelo de Oliveira Lyra, e os tripulantes Geraldo Magela Barbosa da Cunha e Marcos Martins.
Nesta manhã, os trabalhos devem se concentrar na retirada da cabine da aeronave, que ficou enterrada a cerca de 4 metros de profundidade. Não há previsão para a conclusão dos trabalhos dos bombeiros.
Sigilo
Georges Ferreira minimizou os comentários sobre a Lei Federal nº 12.970, sancionada pela presidente Dilma Rousseff (PT) no último dia 9 de agosto. O texto torna sigilosa a investigação de acidentes aéreos. Conforme informou, apurações do tipo já eram realizadas antes pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). A nova regulamentação passou a ser trabalhada a partir de 2007, sendo aprimorada ao longo do tempo.
Segundo o advogado, nenhuma informação será restringida. “Todas elas estarão no relatório final. O documento não determina um culpado, mas sim avalia o que causou falhas e tenta corrigi-las. Além de tentar conseguir detectar quais foram elas e propor medidas mitigatória”, relatou o especialista, complementando que os trabalhos obedecem a padrões internacionais.
Os dados contidos em caixas-pretas das aeronaves, assim como os depoimentos de testemunhas voluntárias de tragédias aéreas ficarão em sigilo. Caso a Justiça e a polícia queiram apurar as responsabilidades pelo fato, deverão obter do Poder Judiciário uma decisão favorável ao compartilhamento de informações obtidas pelo Cenipa.
A atuação do Cenipa é diferente em relação à de uma autoridade policial. Georges Ferreira observou que se as intenções forem a de apontar um culpado, as procuras pelas informações serão prejudicadas. “Se um avião não tiver passado por manutenção, por exemplo, é preciso ouvir todos. Não é sistema inquisitório”, comentou.
Com um processo instaurado, a Força Aérea Brasileira (FAB) analisa, de maneira muito específica, se existe algo irregular. “O que continua restrito é o relatório final, que também não incrimina ninguém”, concluiu.