O aterro sanitário de Aparecida de Goiânia, operacionalizado pela Quebec Ambiental, é o primeiro em Goiás a fazer o tratamento adequado do chorume gerado pelos resíduos sólidos urbanos. O método foi instalado há mais de dois meses após um processo licitatório para adequação das normas ambientais e ajustes ao Marco Regulatório do Saneamento Básico no Brasil, que estabelece metas e obrigações para os Estados e Municípios quanto ao manejo dos resíduos gerados pelos moradores.

Danilo Cunha é gestor ambiental e sócio diretor da Resistrat Ambiental, responsável por desenvolver o projeto de tratamento do chorume. Ele explica que o resíduo é um líquido altamente poluente, resultado da decomposição de rejeitos sólidos em aterros sanitários. “Sem um tratamento adequado, ele pode contaminar o solo, lençóis freáticos e cursos d’água, representando um grave risco ambiental e de saúde pública. Quando os rejeitos orgânicos, como restos de alimentos e plantas, entram em decomposição, eles liberam água e outros compostos. Esse líquido percola (ou seja, infiltra-se), dissolvendo materiais orgânicos e inorgânicos ao longo do caminho, resultando na formação do chorume”, conta.

Tratamento do chorume inicia já nas lagoas com a decomposição a partir de microorganismos | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

O risco desse material está em sua composição, especialmente, na quantidade de substâncias tóxicas como metais pesados, compostos orgânicos voláteis, ácidos orgânicos, além de microrganismos patogênicos. Em resposta a essa preocupação ambiental, uma das tecnologias emergentes que tem ganhado destaque é o tratamento de chorume por eletrooxidação, um processo inovador que promete maior eficiência na descontaminação do resíduo.

Caminho até a limpeza

Marney Samuel Araújo conta que o processo de tratamento do chorume inicia-se em uma das três lagoas banhadas com microrganismos e bactérias que vão quebrar parte desse material. “Por último, o líquido é transferido para um reservatório que inicia a eletrooxidação. O processo separa os materiais sólidos da água, que então passa por outra etapa de filtragem e sai como água de reuso”, explica Marney Araújo.

Estação de tratamento do chorume produzido no aterro | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

A água de reuso, ou água reciclada, não pode ser utilizada para os chamados usos nobres — como beber ou cozinhar. Mas é extremamente útil para a agricultura na irrigação, na indústria, construção civil ou reuso urbano não potável. “Essa água cristalina e sem odor é resultado de um processo responsável de adequação ambiental e preocupação com o conjunto de padrões e boas práticas sustentáveis”, comenta Marney Araújo.

Atualmente, devido ao volume de produção, que gira em torno de 4 a 5 mil m³ por mês, a destinação da água de reuso do aterro sanitário de Aparecida de Goiânia fica toda no próprio local. Ela é utilizada para regar a grama do local e conter a poeira durante os períodos de seca.

Água tratada é reutilizada no próprio espaço | Vídeo: Raphael Bezerra

Eletrooxidação

A eletrooxidação é um processo eletroquímico que utiliza uma corrente elétrica para promover a oxidação de substâncias poluentes presentes no chorume. Ao aplicar uma corrente elétrica controlada em uma solução, íons de metais nobres, como o titânio, atuam como catalisadores, facilitando a decomposição de compostos orgânicos complexos e tóxicos em substâncias mais simples e menos prejudiciais ao meio ambiente. Além disso, o processo pode gerar radicais livres, altamente reativos, que contribuem para a degradação de contaminantes recalcitrantes, como corantes, pesticidas e fármacos.

Processo de eletrooxidação para transformar o chorume em água de reuso | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

A importância do tratamento de chorume vai além da simples eliminação de um resíduo líquido. Além disso, o chorume é rico em compostos tóxicos e patogênicos, que podem provocar sérios danos à fauna e flora, além de representar riscos à saúde pública. Portanto, a adoção de tecnologias como a eletrooxidação não apenas minimiza esses riscos, mas também contribui para a preservação dos recursos hídricos e do meio ambiente de maneira geral.

O tratamento e a destinação correta dos resíduos sólidos também desempenham um papel crucial na sustentabilidade urbana. A implementação de sistemas de tratamento de chorume avançados, como a eletrooxidação, é um passo importante para garantir que os resíduos sejam processados de forma ambientalmente responsável, minimizando os impactos negativos e promovendo uma economia circular.

Leia também:

Mesmo com prorrogação de 10 anos, maioria dos municípios goianos segue com lixões

MP cobra soluções de gestores municipais para o fim dos lixões em Goiás