*Colaboração de Luan Monteiro

Por mais que ainda se façam necessários nos dias atuais, o atendimento médico e clínico em unidades hospitalares vem apresentando problemas que dificultam a assistência necessária. Leitos caros, lotação máxima que impõe longas esperas, riscos de infecção e impacto psicológico de internações prolongadas nos pacientes são alguns dos pontos que podem ser mencionados. O atendimento domiciliar, entretanto, se coloca como uma opção mais barata e eficiente e começa a chamar a atenção dos gestores da Saúde pública.  

Ao Jornal Opção, a superintendente de Políticas e Atenção Integral à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Amanda Limongi, explica que a atenção domiciliar vem conquistando mais espaço na gestão pública durante os últimos anos. Para ela, a modalidade é uma forma de “humanização do atendimento”, “ redução de internações desnecessárias”, “melhora da qualidade de vida aos usuários”, além de prevenir infecções hospitalares. 

Segundo a superintendente, três unidades hospitalares da rede estadual oferecem o serviço de atendimento domiciliar: Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), Hospital Estadual de Dermatologia Sanitária e Reabilitação Santa Marta (HDS) e Hospital Estadual de Anápolis Dr. Henrique Santillo (Heana). Pacientes com média e alta complexidade internados nessas unidades, com estabilidade clínica, são elegíveis para o tratamento domiciliar.

Dados da SES revelam que são realizados 420 desospitalizações por mês, devido à atuação das equipes de assistência domiciliar, o que representa mais de cinco mil usuários por ano. As unidades da rede estadual contam com sete equipes multiprofissionais de atenção domiciliar e três equipes multiprofissionais de apoio realizando esses atendimentos.  

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Serviço de atendimento domiciliar da Secretaria de Saúde de Goiânia é retomado

Além disso, setenta municípios estão habilitados no programa do Governo Federal ‘Melhor em Casa’ e realizam o atendimento domiciliar. A verba vem do Ministério da Saúde e o atendimento é operacionalizado pelos municípios. Em todo o estado, são mais de 125 equipes prestando o atendimento domiciliar ligadas ao programa federal. Somando a atuação dos municípios à do estado, “são realizados 39.540 atendimentos pelas equipes anualmente”, compartilhou Limongi.

O atendimento 

Em entrevista ao Jornal Opção, Rodrigo Cleto, diretor da Transmédica (uma das empresas de atendimento domiciliar que presta serviços para a Prefeitura de Goiânia), reforça a importância da modalidade de tratamento. 

O conforto do ambiente familiar “facilita a recuperação” e “promove a independência” do paciente no dia a dia, podendo inclusive manter muitas das atividades do dia a dia. A redução de riscos hospitalares também contribui para a melhora do quadro clínico. Outro ponto destacado pelo profissional são os cuidados personalizados, “o plano [de tratamento] é definido entre a equipe do home care e os familiares do paciente”, garantiu. 

Por fim, surge a questão dos custos. “Um paciente em assistência domiciliar é mais barato, tanto para saúde suplementar, quanto para o Sistema Único de Saúde, do que um paciente internado numa unidade hospitalar”, explicou Cleto. Segundo o diretor da Transmédica, um leito domiciliar pode ser de 50% a 70% mais barato do que um leito hospitalar. 

Cleto segue explicando que existem fichas que devem ser preenchidas no momento de cadastro dos pacientes para definir o grau da doença e o nível de dependência, e só então o modelo de tratamento a ser adotado no home care será definido. A depender desse resultado, pode-se estabelecer atenção de baixa complexidade (seis horas diárias com a equipe multidisciplinar), média complexidade (12 horas diárias) e alta complexidade (24 horas por dia com equipe multiprofissional). Além disso, existem pacientes que demandam menos atenção, e se encaixam na modalidade de terapia pontual e não no home care em si.

“Hoje, muitos leitos de hospitais de alta complexidade são ocupados por pacientes elegíveis para internação domiciliar”, colocou Cleto, reforçando a importância do atendimento domiciliar tanto para a rede privada quanto para a rede pública de saúde.

Em Goiânia 

Ao Jornal Opção, Márcio Leite, antigo interventor da Saúde de Goiânia e atual responsável pela avaliação do serviço de atendimento domiciliar do município, explica que o hospital deve identificar os pacientes com possível perfil para atendimento domiciliar e comunicar a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A partir disso, então, um profissional da prefeitura deve realizar uma visita para saber se o paciente é de fato elegível ou não para participar do programa. 

Após a visita e uma vez concluídas as burocracias entre a SMS e a empresa prestadora do serviço, “é comunicado ao hospital que ele pode dar alta ao paciente, e nós vamos recebê-lo em casa, já com uma mini UTI”, explicou. 

Dificuldades respiratórias, dependência de outras pessoas, alimentação auxiliada, lesões de decúbito e necessidade de medicações recorrentes são alguns dos pontos avaliados antes durante a visita do médico da prefeitura. “Se ele [paciente] não tem critério, a gente direciona para outros tipos de tratamento”, explica Leite.