Manifestação ocorrida em outras capitais brasileiras tomou centro goianiense. Ativistas querem derrubada do Projeto de Lei 5069, na Câmara dos Deputados

Mulheres protestam contra projeto de lei que impede atendimento a vítimas de estupro
Mulheres protestam contra proposta que impede atendimento a vítimas de estupro

Texto e fotos: Marcello Dantas

“A mulherzada tá de fogo, hein!?”, disse um agente de trânsito da Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT) a uma companheira de trabalho, durante o protesto Mulheres Contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na Avenida Universitária. Era a única mulher que ajudava a organizar o trânsito. As demais insistiam pela manutenção dos direitos conquistados em anos de progresso.

Um popular balançou a cabeça na Rua 10, em claro sinal de repúdio. Já o garoto que caminhava junto ao movimento feminista ganhou um curto e grosso “não” ao pedir a jovem negra que batucasse seu tambor azul de plástico. “Foi mal”, disse ele. “De boa”, retrucou a moça.

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A manifestação que pediu a derrubada do projeto que impede o atendimento a vítimas de estupro, em tramitação na Câmara dos Deputados, presidida por Eduardo Cunha, passou pela Assembleia Legislativa, Bosque dos Buritis e Praça Cívica. O ponto final foi a Praça Universitária, marco de manifestações durante a ditadura militar. Todos foram recebidos por inúmeras mariposas. Pousadas na grama, despiram-se de preconceito de raça ou sexualidade.

Mas a marcha é maior, vai além. Sem vergonha e com demonstração de força mulheres seminuas pararam o trânsito de Goiânia. Depravadas? Pelo contrário. Gritos de que o útero é laico ecoaram pelos prédios da região central, na tentativa de frear a atuação da bancada evangélica no Congresso Nacional. Teve rap improvisado, poemas e seios de fora em protesto contra o conservadorismo. Anormal? Depende. Apenas se vivêssemos no século passado. E basta ter sido vítima de abuso para saber.

E porque andar ao lado delas, sentindo o cheiro dos hormônios que brotam à flor da pele? É que a luta pela manutenção de direitos adquiridos e a conquista de novos é importante. Para qualquer classe. Por isso, crianças, grisalhos, gringos, pretas, pardas e ruivas compareceram para fortalecer o movimento.

Sabe-se que a sede do Congresso Nacional é “perto-longe” da capital goiana. Mas o grito, sonoro, é a força. Feminista ou não, é preciso refletir. Impedir que mulheres decidam sobre o que é melhor ou pior sobre o próprio corpo é passado. E onde está a solução? No debate e na proposição de ideias. Não na imposição.

Com o manifesto contra Eduardo Cunha, Goiânia mostra, mais uma vez que não é a roça asfaltada. Mas sim cidade-capital protagonista, centro das atenções. Especialmente por estar próxima de Brasília, recanto de muitos parlamentares mantenedores de velhos ideais patriarcais.

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