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Durante os séculos 19 e 20 a organização criminosa Zwi Migdal operou no leste europeu traficando mulheres judias para o Brasil, Argentina e Estados Unidos. As polacas, como ficaram conhecidas, foram escravizadas sexualmente por membros da própria comunidade judaica. A Zwi Migdal foi constituída por pessoas ligadas à comunidade judaica do Leste Europeu e operou a partir de meados dos século 19 (1860) até o início da Segunda Guerra Mundial em 1939.

No Brasil, os primeiros relatos da chegada das escravas judias, vindas principalmente da Polônia, são de 1867. Neste período, os judeus mais pobres sofriam com antissemitismo que vinha do antigo império russo, e muitos abandonaram seu país natal com a ilusão de um vida melhor. Homens judeus com alto poder aquisitivo iam até os bairros mais pobres da comunidade judaica para pedir a mão de jovens judias em casamento, mas em troca, elas tinham que abandonar seu país natal. Muitas vezes, sem saber que seriam exploradas pela Zwi Migdal, as famílias concediam o pedido. Uma vez exploradas sexualmente, elas passavam a ser consideradas impuras e pecadoras perante a sociedade judaica e não podiam sequer ser enterradas junto a outros judeus.

Nessa época, a prostituição nos grandes centros era uma atividade realizada por moças francesas, de alguns países da América do Sul ou mulheres negras em situação de miséria. As prostitutas judias faziam sucesso no Brasil porque eram consideradas uma grande novidade no início do século 20. Os cafetões divulgavam essas mulheres como vindas de boa família, boa moral e quase virgens.

Em pouco tempo, elas ficaram conhecidas como “as polacas”, mas isso não mudava sua condição de prostitutas marginalizadas. Após algum tempo, eram expulsas das casas de prostituição e iam tentar a vida nas ruas dos grandes centros. A comunidade judaica local proibia as polacas de frequentarem as sinagogas, ler a Torá em público e nem que fossem enterradas no mesmo cemitério. Segundo as leis do judaísmo, os suicidas e as prostitutas devem ser enterrados junto a um muro nas cercanias do cemitério, num lugar de exclusão que demarca a condenação de tais práticas pela religião.

Foi a partir dessas dificuldades que as polacas passaram a se organizar em associações de ajuda mútua que atuavam no Brasil e no mundo. Por meio de instituições solidárias e organizadas, as polacas contribuíam com trabalho, dinheiro e conhecimento para a construção de sinagogas e cemitérios onde pudessem conseguir sepultamento digno. As associações ainda pagavam os estudos para seus filhos. Um dos cemitérios mais famosos construído por elas é o “Chora Menino” em São Paulo.

Pouca gente sabe que as Polacas tiveram influência na língua portuguesa. As palavras “encrenca” e “sacanagem” surgiram no vocabulário português por causa delas. Quando suspeitavam que um cliente tinha uma doença venérea, diziam “ein krenke” (literalmente “uma doença”, em iidiche) que posteriormente se transformou em “encrenca’. Quando a polícia se aproximava, gritavam “sakana” que quer dizer perigo em iidiche e hebraico, com o tempo surgia a palavra “sacanagem” a partir daí.

A comunidade judaica local proibia as polacas de frequentarem as sinagogas, ler a Torá em público e nem mesmo que fossem enterradas no mesmo cemitério | Foto: Reprodução