Armas de gel: febre entre jovens, brinquedo pode penalizar vendedores e usuários
24 setembro 2024 às 13h20
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Sem legislação e com preço acessível, revólveres, pistolas e fuzis de gel caíram no gosto de jovens que, espelhados em influencers, realizam “batalhas” entre adultos e crianças. Apenas em setembro, o estado de Goiás registrou ao menos três casos envolvendo brinquedos que simulam armas de fogo.
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Dois dos registros ocorreram em Goiânia e um em Anápolis, quando mulheres trans foram atingidas pelos projéteis de gel enquanto caminhavam pela rua. O de maior destaque, porém, envolveu uma “guerra” que contou com a participação de MC Jacaré e do DJ Vinícius Cavalcante, no último dia 11.
Os artistas, em conjunto com outros jogadores, provocaram medo na população durante uma “troca de tiros” em uma praça da capital. A Polícia Militar (PM) chegou a ser acionada.
O delegado Humberto Teófilo, da Polícia Civil de Goiás (PC-GO), atribui a popularização das armas de gel e de airsoft diretamente ao poder de influência que as semi-celebridades exercem sobre a população, principalmente entre crianças e jovens.
“Estamos em uma crise virtual. Eles descaracterizam essas armas e, com certeza, isso pode gerar perigo. Até mesmo há a possibilidade de cometer um roubo com uma arma descaracterizada, ser confundido pela polícia como um bandido e até mesmo ser confuso pelos bandidos”, afirmou o delegado.
Comércio
Por não possuir legislação que proíba o comércio, as armas de gel são vendidas aos montes em lojas de brinquedos, barracas na rua e até em comércios de produtos eletrónicos. As imitações também são encontradas facilmente na internet e em redes sociais, onde os jogadores costumam divulgar as “guerras”.
O Jornal Opção entrou em contato e negociou com alguns vendedores de armas de gel de Goiânia. Um dos comerciantes, que é proprietário de uma loja de celulares, chegou a fazer um dos brinquedos que simula um fuzil por R$ 160.
Disponível nas cores azul com branco e vermelho com branco, o vendedor diz que fez uma promoção para acabar com o estoque que, segundo ele, é comercializado por R$ 230 cada. Além da arma, o repórter também iria receber um carregador, um silenciador e um pacote com 2 mil munições (bolinhas de gel).
“A única coisa que vende à parte é a munição, amigo. Cada pacote sai a R$ 20. Você coloca na água e precisa esperar, no mínimo, uma hora para usar. Esse modelo não dói (ser atingido pelos projéteis)”, afirmou o vendedor.
Questionado se a arma era acompanhada de algum equipamento de segurança, como o óculos, o comerciante explicou que o modelo disponível não contava com o acessório. Em relação a nota fiscal, ele diz que “como é brinquedo, não possui nota”.
Contrabando
A afirmação, porém, é contestada pelo delegado Humberto Teófilo. De acordo com o investigador, por se tratar de um produto importado, a falta da documentação caracteriza o crime de contrabando. Ou seja, de âmbito federal.
Além dos vendedores, os próprios usuários deste tipo de brinquedo também podem responder criminalmente, conforme Teófilo.
“Isso [brincadeira] pode caracterizar algumas infrações penais, desde perturbação do sossego público até mesmo lesão corporal. Vai depender da situação em que a pessoa utilizá-la. Tem toda uma regra para que a brincadeira possa ser realizada”, afirmou.
O delegado orienta que a brincadeira deve ser realizada em locais ermos, sem a presença de crianças e adultos que não estejam envolvidos na brincadeira. Teófilo reforça ainda a importância de usar o equipamento de segurança adequado, a fim de evitar ferimentos, principalmente na região facial.