Argentinos vão às urnas em segundo turno para eleger presidente
22 novembro 2015 às 17h17
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Governista Daniel Scioli e oposicionista Mauricio Macri disputam preferência de votos. Ambos são filhos de empresários e saíram do mundo do esporte para carreira política
Trinta e dois milhões de argentinos vão neste domingo (22) às urnas para escolher o presidente que vai governar o país a partir do dia 10 de dezembro e durante os próximos quatro anos. Adversários nesta eleição, mas amigos de longa data, o governista Daniel Scioli e o oposicionista Mauricio Macri têm muito em comum: ambos são filhos de empresários ricos, estudaram em universidades privadas e saíram do mundo do esporte para iniciar carreira politica depois dos 40 anos.
Nos últimos oito anos, os dois presidenciáveis governaram dois dos cinco maiores distritos eleitorais da Argentina, que juntos representam 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do pais. Macri foi prefeito da capital, Buenos Aires (com 2 milhões de eleitores), e Scioli governador da província de Buenos Aires (com 11 milhões de eleitores).
“Esta é uma eleição inédita na Argentina porque é a primeira na história em que a presidência será decidida no segundo turno”, disse o analista politico Rosendo Fraga. “Também será a primeira vez, em 50 anos, que o presidente não será um militar ou um advogado”. Scioli, o mais votado no primeiro turno, formou-se em comércio internacional. Macri, o favorito nas últimas pesquisas de intenção de voto, é engenheiro.
Macri foi presidente do clube de futebol Boca Juniors, antes de fundar o partido conservador Proposta Republicana (PRO), pelo qual foi eleito prefeito de Buenos Aires em 2007 e reeleito em 2011. Scioli foi campeão de motonáutica, até aceitar a proposta do então presidente Carlos Menem de se candidatar a deputado federal pelo Partido Justicialista (Peronista) em 1997. Em 2003, ele foi eleito vice-presidente de Néstor Kirchner que, apesar de ser peronista, foi o principal adversário de Menem. Em 2007, Scioli foi eleito governador de Buenos Aires e – a exemplo de Macri – reeleito em 2011.
Tanto Scioli quanto Macri tiveram a vida marcada por acontecimentos traumáticos. O candidato governista perdeu um braço em um acidente de lancha em 1989 e usa prótese. O oposicionista foi sequestrado em 1991 e libertado duas semanas depois, quando a família pagou um resgate de US$ 6 milhões.
As mulheres dos dois candidatos, além de amigas, também têm muito em comum: Juliana Awada (casada com Macri) e Karina Rabolini (mulher de Scioli) são empresárias da moda. “Com trajetórias de vida tão parecidas, Macri e Scioli não têm muitas diferenças ideológicas. Especialmente agora, na reta final da campanha, quando eles se aproximaram mais do centro, para conquistar os votos dos indecisos”, diz Rosendo Fraga. “E não importa quem for o presidente, o desafio será o mesmo: consertar a economia”.
Os desafios políticos, disse Rosendo, serão diferentes para cada um. No primeiro turno, Macri elegeu seu sucessor na prefeitura de Buenos Aires e conquistou as maiores províncias – inclusive Buenos Aires, governada ha 28 anos pelos peronistas, sendo que os últimos oito por Scioli. Mas a aliança Cambiemos (Mudemos), que apoia a candidatura de Macri, vai ter que negociar com a oposição para governar. Os partidos da coligação governista Frente para a Vitória, de Scioli, têm maioria própria no Senado e é a primeira minoria na Câmara dos Deputados. “Macri, se for presidente, vai precisar do apoio do Partido Peronista. Mas Scioli também – porque os peronistas estão divididos”, disse Fraga.
Sergio Massa – que foi aliado dos Kirchner antes de passar para a oposição – teve o apoio dos peronistas dissidentes no primeiro turno, conquistando 21% dos votos. Ficou em terceiro lugar, sem possibilidade de chegar à presidência, mas com poder para negociar com os dois candidatos ao segundo turno. Massa disse que não vai votar em Scioli. “Ele está apostando em liderar o peronismo se Scioli for derrotado”, disse o analista politico Roberto Bacman. Scioli tampouco contou com o apoio de Cristina Kirchner, que nunca o considerou um verdadeiro “kirchnerista”.
Segundo Bacman, se Scioli tivesse marcado suas diferenças em relação ao estilo kirchnerista de governar, poderia ter conquistado os votos daqueles que aceitam o modelo econômico e social, mas estão cansados dos confrontos internos e externos. “Mas Cristina nunca deixou que ele se distanciasse, impondo o vice-presidente e deixando claro que a líder do peronismo é ela”, disse Bacman. Se Scioli for derrotado, a próxima disputa será pelo controle do partido.