Arara-azul anã: influência do homem pode ter estimulado surgimento da nova espécie
07 agosto 2024 às 12h41
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Cientistas brasileiros descobriram que a ação humana no habitat natural das araras-azuis não apenas ameaça a espécie, mas também causou uma anomalia genética. Os pesquisadores identificaram alterações no desenvolvimento das araras-azuis que resultaram no surgimento de indivíduos anões, aproximadamente 70% menores do que o padrão.
A bióloga Neiva Guedes, presidente do Instituto Arara Azul, revela que um estudo de longo prazo sobre a sobrevivência da espécie está sendo conduzido há mais de 30 anos no Pantanal e no cerrado. Durante esse período, foram observados casos de indivíduos anões. A confirmação de que esses casos não eram isolados só foi possível após a comparação com um banco de dados acumulado ao longo de 30 anos.
O banco de dados do instituto registrou mais de 800 filhotes anões, mas apenas cerca de 400 foram incluídos na análise. Isso porque nem todos os filhotes monitorados desde a primeira semana de vida conseguiram sobreviver. “Portanto, nossa análise se baseia apenas nos filhotes que sobreviveram e conseguiram voar”, explicou.
A cientista informou à Ecoa que ainda não há uma explicação conclusiva para o fenômeno, visto que as araras-azuis anãs representam 8% da amostra total. No entanto, ela sugere que isso está relacionado com a “interferência humana no habitat natural da espécie”, notando um aumento na ocorrência de espécimes anões após eventos de desmatamento e incêndios.
“Estamos avançando com os estudos para verificar se os impactos dos incêndios e das mudanças climáticas afetam o desenvolvimento dos filhotes de arara”, afirmou. Ela completou: “Só no futuro, com as análises de campo e de laboratório, poderemos confirmar essa hipótese.”
As araras-azuis enfrentavam ameaças desde o final da década de 1980. Com o trabalho do instituto, a espécie foi retirada da lista de espécies ameaçadas de extinção em dezembro de 2014. Porém, os grandes incêndios no Pantanal entre 2019 e 2021 podem fazer com que a espécie volte a figurar na lista, com risco de extinção em 10 a 20 anos.
Para proteger as araras azuis a bióloga destaca que, primeiramente, é essencial continuar com os estudos, o monitoramento e o manejo. Além disso, ela ressalta que a educação ambiental é fundamental, envolvendo a comunidade em geral, e não apenas na área onde a espécie está presente.
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