Com o lançamento da linha iPhone 15 em setembro de 2023, a Apple abandonou oficialmente o conector Lightning e adotou o padrão USB-C. A mudança, que marca o fim de mais de uma década de uso do conector proprietário da marca, ocorreu após a aprovação de uma lei da União Europeia que torna obrigatória a padronização de carregadores a partir de 2024. Apesar disso, a empresa manteve diferenças técnicas relevantes entre os modelos da mesma linha, incluindo limitações de velocidade no novo conector, além de variações em componentes como a tela, o processador, a bateria e os sensores internos.

A decisão da Apple de adotar o USB-C está diretamente ligada à legislação europeia. Em outubro de 2022, o Parlamento Europeu aprovou uma norma que obriga todos os smartphones, tablets e outros eletrônicos vendidos na região a utilizarem o conector USB-C até o final de 2024. O objetivo da medida é reduzir o lixo eletrônico, facilitar a vida dos consumidores e promover a interoperabilidade entre dispositivos.

A Apple resistiu à mudança por anos, argumentando que a padronização poderia sufocar a inovação. Entretanto, com a nova legislação prestes a entrar em vigor, a empresa implementou a alteração no iPhone 15. A transição, no entanto, não foi uniforme: embora todos os modelos da linha usem o mesmo tipo de conector físico, eles apresentam capacidades técnicas distintas.

Modelos USB-C têm velocidades diferentes

Nos modelos iPhone 15 e iPhone 15 Plus, o conector USB-C opera com o padrão USB 2.0, que oferece velocidade de transferência de até 480 megabits por segundo (Mbps). Essa é a mesma taxa permitida pelo antigo Lightning, usado desde o iPhone 5. Já os modelos iPhone 15 Pro e Pro Max contam com suporte ao padrão USB 3.1, que alcança até 10 gigabits por segundo (Gbps) — mais de 20 vezes mais rápido. Contudo, o cabo incluso na caixa é compatível apenas com USB 2.0. O consumidor precisa adquirir separadamente um cabo USB 3 para utilizar todo o potencial de transferência oferecido nos modelos Pro.

Essa distinção técnica interfere diretamente no uso do aparelho para tarefas como transferência de vídeos pesados, espelhamento de tela e backup de arquivos grandes. A Apple confirma essas especificações em seu site oficial, mas não sinaliza visualmente as diferenças nos aparelhos, que têm o mesmo tipo de entrada física.

Logo da Apple | Foto: Reprodução

Outras diferenças entre os modelos da Apple

Além da velocidade de dados, há outros componentes com diferenças marcantes entre os modelos básicos e os mais avançados da linha. A tela, por exemplo, é uma delas. Os modelos iPhone 15 e 15 Plus têm taxa de atualização de 60 Hz, enquanto os modelos Pro oferecem 120 Hz com a tecnologia ProMotion, que proporciona maior fluidez visual ao rolar páginas ou exibir vídeos.

No quesito carregamento, todos os modelos são compatíveis com carregadores de até 27W, mas a Apple não inclui o carregador na caixa. Em comparação com concorrentes Android, como o Xiaomi 14 Pro (120W), OnePlus 12 (100W) e Samsung Galaxy S24 (45W), a potência oferecida pela Apple é mais modesta. Além disso, o carregamento sem fio também apresenta restrições: o padrão MagSafe, utilizado pela Apple, permite carregamento de até 15W, mas somente com acessórios certificados. Outros carregadores são limitados a 7,5W.

A Apple também mantém diferenças internas quanto aos sensores e tecnologias embarcadas. O sensor LiDAR, que melhora o foco automático em fotos e permite aplicações de realidade aumentada, está disponível apenas nos modelos Pro. Os chips de processamento também são distintos: enquanto os modelos 15 e 15 Plus utilizam o A16 Bionic, o mesmo do iPhone 14 Pro, os modelos Pro já vêm com o A17 Pro, fabricado com processo de 3 nanômetros, oferecendo mais desempenho e eficiência energética.

Foto: divulgação Apple

Vidro, conectividade e outras limitações

A proteção da tela é outro ponto em que os modelos diferem. Todos os aparelhos utilizam o chamado “Ceramic Shield”, tecnologia proprietária da Apple. Porém, materiais como o vidro de safira, mais resistente a riscos e já utilizado em partes menores do iPhone e no Apple Watch, ainda não foram aplicados na superfície principal da tela de nenhum modelo.

Na conectividade, os iPhones Pro são os únicos com suporte a Wi-Fi 6E, enquanto a nova geração Wi-Fi 7, presente em alguns modelos Android lançados em 2024 e 2025, ainda não foi adotada. Além disso, os modems 5G usados pela Apple costumam ser versões anteriores às mais recentes utilizadas por concorrentes, o que pode impactar a velocidade e a estabilidade em redes móveis.

Concorrência já oferece tecnologias mais recentes

Enquanto a Apple implementa mudanças de forma gradual, fabricantes como Samsung, Xiaomi e OnePlus adotam padrões técnicos mais modernos em seus aparelhos, inclusive em linhas intermediárias. O Galaxy S24, por exemplo, já traz USB 3.2, Wi-Fi 7, taxa de atualização de 120 Hz e carregamento de 45W. O Xiaomi 14 Pro e o OnePlus 12 oferecem ainda mais: carregamento ultrarrápido (120W e 100W, respectivamente), vidro Gorilla Glass Victus, conectores atualizados e sensores avançados.

Esses modelos acompanham carregador na caixa, e muitas de suas funções não dependem da compra de acessórios adicionais. Além disso, adotam padrões de armazenamento UFS 4.0, com velocidades de leitura superiores, enquanto os iPhones continuam utilizando memória NVMe própria com menor transparência sobre as especificações.

Estratégia de vendas escalonadas

Embora as limitações técnicas em componentes e acessórios chamem atenção, elas fazem parte de uma estratégia de diferenciação adotada pela Apple nos últimos anos. A empresa estrutura sua linha de produtos em degraus, nos quais os recursos mais avançados são oferecidos apenas nos modelos mais caros. Com isso, induz o consumidor que deseja mais desempenho ou funcionalidades específicas a migrar para versões superiores.

Esse modelo também se reflete no marketing. Tecnologias como a Dynamic Island, o ProMotion e o MagSafe são frequentemente apresentadas como grandes inovações, mesmo quando representam recursos já conhecidos no mercado. Ao associar esses recursos a nomes próprios e estéticos, a empresa transforma funções técnicas em argumentos de venda.

Além disso, a escolha por não incluir carregadores, cabos de alta velocidade ou acessórios no pacote inicial segue a lógica de modularização. O consumidor compra o dispositivo básico e, posteriormente, adquire peças complementares conforme a necessidade — ou a percepção de que está deixando de aproveitar plenamente o que o aparelho oferece. Dessa forma, o ciclo de atualização se mantém constante.

A estrutura também é reforçada pela continuidade visual dos aparelhos. Mesmo com especificações internas distintas, os modelos compartilham aparência externa idêntica, o que fortalece o senso de pertencimento ao ecossistema Apple independentemente da versão adquirida. Ainda assim, os diferenciais internos seguem como critério de escalonamento nos preços.

Apple no Brasil e no mundo

Iphones dominam amplamente entre os modelos de alto valor agregado | Foto: Divulgação

No Brasil, a presença da Apple é marcada por preços elevados e forte apelo de status. Embora o país não figure entre os maiores mercados em volume, o iPhone é amplamente associado à ideia de prestígio social. Dados da consultoria IDC indicam que os smartphones da marca representam uma fatia pequena do total de vendas no país, mas dominam amplamente entre os modelos de alto valor agregado. Mesmo com impostos altos, ausência de fábrica nacional e valores que podem ultrapassar R$ 10 mil, os aparelhos seguem entre os mais desejados.

Isso ocorre, em parte, por sua valorização simbólica: o iPhone costuma ser visto como sinônimo de modernidade, sucesso e pertencimento a uma camada social específica. Além disso, o ecossistema fechado da Apple — com aplicativos, sistemas e acessórios que se integram entre si — reforça o vínculo do consumidor com a marca. Para muitos brasileiros, a aquisição de um iPhone vai além da utilidade técnica: trata-se também de uma afirmação identitária.

Com a imposição da União Europeia e o avanço da concorrência, é provável que a Apple continue a atualizar gradualmente seus aparelhos. No entanto, ainda não há previsão oficial de quando a empresa adotará o padrão USB4 ou liberará tecnologias como Wi-Fi 7, tela com taxa de atualização alta em todos os modelos ou carregamento ultrarrápido. Até lá, os consumidores da marca terão acesso parcial às inovações técnicas já disponíveis em outros dispositivos do mercado.

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