Após tensão, Arthur Lira dará trégua a Fernando Haddad?

17 agosto 2023 às 16h42

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Embora tenha visto passar com folga o texto da reforma tributária na Câmara dos Deputados, o ministro da Fazenda do governo de Lula da Silva (PT), Fernando Haddad, criticou o que chamou de “poder muito grande” da Câmara dos Deputados sobre os demais poderes, como o Senado. Por ele ter falado isso depois da atuação do presidente daquela Casa, Arthur Lira (pP-AL), para aprovar a nova reforma com celeridade e com algumas “cartas brancas” que serão resolvidas com leis complementares, deixa em evidência que esse trabalho de Lira custou alto ao Palácio do Planalto.
Durante uma entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, gravada na sexta-feira, 11, mas divulgada na segunda-feira, 14, Haddad fez sua análise sobre o poder de fogo do Parlamento. “A Câmara está com um poder muito grande e não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo. Mas estão com muito poder mesmo, não vi isso em nove anos que passei aqui entre governo Lula e Dilma. Nunca vi nada parecido. Penso que tem que haver uma moderação, que precisa ser construída”, comentou.
Esse trecho foi suficiente para que Lira cancelasse uma reunião de líderes que estava marcada para a terça-feira, 15, e abrisse uma crise com o governo. Na segunda, em coletiva para a imprensa, Haddad tentou remediar. “Na verdade eu estava fazendo uma reflexão sobre o fim do chamado presidencialismo de coalizão. Na verdade, nós tínhamos até o governo Lula, os dois primeiros governos do Lula, um presidencialismo de coalizão e isso não foi substituido por uma relação institucional mais estável. Então eu defendi durante a entrevista que a relação fosse mais harmônica”, defendeu-se.
O ministro emendou a necessidade da harmonia para “melhores resultados” dos poderes institucionais. “Aliás, diga-se de passagem, todo esse tempo, tudo que eu tenho feito é dividir com o Congresso (Câmara, Senado) e Judiciário, as conquistas do primeiro semestre na questão tributária”, frisou. Haddad chegou a reforçar que se tratava de uma reflexão para que a “gente estabelecesse regras mais estáveis e duráveis pensando no futuro da relação entre Executivo, Senado e Câmara”. “Longe de mim querer criticar a atual legislatura”, acentuou.
Assim, ao que parece o clima de atrito que havia se estabelecido entre Lira e Haddad, parece ter chegado ao fim. De acordo com observações do círculo próximo ao presidente, o recuo do ministro acerca das críticas feitas ao poderio da Câmara amenizou a situação e colocou, aos menos por enquanto, as tensões longe da Praça dos Três Poderes. Mas, cabe ressaltar, vista como afronta pelo alagoano, que faz lembrar o baiano ACM, a análise do poderoso ministro de Lula da Silva deve aumentar o preço de negociação na bolsa do Centrão, comandada justamente pelo pepista. É que justamente este grupo tem pressionado o Planalto por mais cargos importantes no Executivo, dentre os quais a pasta da Saúde e o comando do programa Bolsa Família.
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