Após questionamentos do MP, Moraes esclarece decisão que podia paralisar investigações contra o PCC

25 agosto 2025 às 15h06

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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, revisou nesta segunda-feira, 25, os efeitos de sua decisão que havia suspendido, em âmbito nacional, processos relacionados ao uso de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em investigações criminais. A medida veio após manifestação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que alertou para o risco de paralisação de apurações relevantes contra o crime organizado, como o PCC.
Na prática, Moraes esclareceu que a suspensão determinada na última sexta-feira, 20, não atinge todas as ações penais, mas apenas os casos em que tribunais já haviam trancado inquéritos ou anulado investigações com base em relatórios financeiros sem autorização judicial — incluindo decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo o ministro, investigações em andamento e processos que utilizam relatórios do Coaf poderão prosseguir normalmente.
“Não haverá qualquer prejuízo no combate a organizações criminosas”, afirmou Moraes em sua nova decisão.
O debate sobre o uso de informações do Coaf tem origem em entendimentos distintos entre o Supremo e o STJ. Em 2019, o STF decidiu que relatórios do órgão podem ser compartilhados com autoridades de investigação sem prévia autorização judicial, desde que mantido o sigilo das informações. A medida foi considerada essencial para o enfrentamento de crimes de colarinho branco e lavagem de dinheiro.
O STJ, entretanto, passou a adotar posição mais restritiva. Em diversas decisões recentes, a corte anulou provas, determinou o trancamento de inquéritos, revogou prisões preventivas e autorizou a liberação de bens apreendidos, sob o argumento de que faltava autorização judicial para a requisição dos relatórios.
A Procuradoria-Geral da República (PGR), ao pedir a suspensão dos processos, argumentou que a prática poderia esvaziar a eficácia do julgamento do STF de 2019 e inviabilizar investigações sobre crimes complexos.
Risco apontado pelo MP-SP
Após a suspensão nacional anunciada por Moraes, o MP-SP relatou que defesas de investigados passaram a protocolar pedidos em série para derrubar investigações e medidas cautelares, especialmente em casos ligados a facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC). Em menos de 24 horas, núcleos do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) registraram tentativas de soltura de presos e desbloqueio de bens.
Segundo o MP-SP, a interpretação ampliada da decisão poderia justamente fragilizar os processos que o Supremo pretendia resguardar. Com o novo esclarecimento, Moraes buscou conter essa movimentação, mantendo a validade das apurações em curso até que o plenário do STF dê a palavra final sobre a questão.
Entre as operações que já registraram pedidos de suspensão estão:
- Operação Tacitus: contra policiais presos por corrupção e lavagem de dinheiro praticados em favor do PCC;
- Operação Fim da Linha: sobre a infiltração do PCC no sistema de transporte público da capital;
- Operação Armagedon: voltada a uma organização criminosa dedicada à prática de extorsões, lavagem de dinheiro e financiamento do tráfico de drogas;
- Operação Car Wash: contra uma organização criminosa especializada, tráfico de drogas, produtos químicos controlados e lavagem de dinheiro.
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