Desde 2016, quatro operações foram deflagradas e movimentaram a cidade

Operação do MPDFT, deflagrada na manhã de hoje, 18, tem como alvo a empresa OATI, que já foi alvo de outra ação policial em junho de 2016

Mais uma vez o nome do município de Aparecida de Goiânia volta a estar envolvido em casos de corrupção relacionadas à área da Saúde. Em três anos, desde 2016, quatro operações foram deflagradas e movimentaram a cidade. Entre elas, as operações Ethon, Falso Positivo, Anaideia e SOS Samu.

O mais recente teve seu último desdobramento nessa quarta-feira, 18 com a Operação Ethon, deflagrada para apurar crimes em contratação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pelo Instituto de Gestão Estratégica em Saúde do Distrito Federal (Iges-DF). Ao todo, foram Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) cumpriu 61 mandados de busca em apreensão em seis estados, incluindo Goiás, que revelaram um esquema instalado no Iges-DF que resultou no desvio de milhões de reais em dois contratos destinados ao fornecimento emergencial de leitos de UTIs.

As irregularidades teriam ocorrido no período entre março e outubro de 2020 por parte das empresas DOMED e a Organização Aparecidense de Terapia Intensiva (OATI), que foram contratadas e foram responsáveis por 80 leitos de UTIs, 50 no Hospital Regional de Santa Maria, 20 no Hospital de Base e 10 na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Sebastião.

Além de superfaturamento, as investigações apontaram que as empresas não forneceram insumos, medicamentos e mão de obra em quantidade e qualidade exigidos. A consequência foram altíssimas taxas de mortalidade nos leitos de UTIs de alguns hospitais administrados pelas responsáveis.

Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, em São Paulo, uma médica de 42 anos foi presa por agressão a uma delegada e um policial. No boletim ocorrência é relatado que, nas buscas na casa localizada na Rua Presidente Humberto Alencar Castelo, no Jardim Mercedes, em Limeira, Cinthya Cristina Telles xingou os profissionais. Logo após, ao tentar impedir as buscas em um cômodo específico, desferiu tapas e socos nos agentes.

Em 2020, a Operação Falso Positivo também movimentou a cidade durante o mês de novembro. Em entrevista para a equipe do Jornal Opção, o delegado que coordenou as apurações, Webert Leonardo, da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (DERCAP), havia afirmado que, apesar de as investigações terem começado três meses antes, o que mais havia chamado atenção até agora foi uma nota fiscal no valor de R$ 750 mil, para aquisição de máscaras por parte da organização social (OS) Instituto Brasileiro de Gestão Hospitalar (IBGH). O documento havia sido encontrado no gabinete do secretário da Fazenda de Aparecida de Goiânia, André Rosa.

Mulher do secretário da Fazenda de Aparecida tinha grandes responsabilidades em laboratório

Na ocasião, questionado sobre a participação da mulher do secretário Andre Rosa, na condução do laboratório, mesmo não estando entre os sócios, o delegado Webert disse que desde as primeiras investigações causou estranheza a confusão de interesses, o uso do Fundo Municipal da Saúde por uma empresa que tem entre os responsáveis, pois ela não mais fazia parte do quadro societário, um parente de um funcionário de alto escalão do município.

O delegado também disse que mesmo não estando entre os sócios, a mulher do secretário era responsável por muita coisa dentro do laboratório, inclusive o site. “Outro ponto da investigação que os levou a questionar a relação entre laboratório e secretário, foi a proximidade de endereço da atual sede do laboratório para a antiga”, informou. Na época, a mulher do secretário não foi presa, mas está foi investigada pelos agentes.

Já em novembro de 2017, a ex-diretora do Fundo Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia, e o ex-marido dela foram presos pela Polícia Federal pelo desvio de R$ 3 milhões que tinham destino ao órgão, através do Sistema Único de Saúde.

PF deflagra operação contra fraude no Fundo Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia

Batizada de Operação Anaideia, a ação teve a participação de 100 policiais e cumpriu os mandatos em Goiás, São Paulo e Paraná. Na época, a Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia informou, em nota, que apoia a operação da Polícia Federal e destacou que o suposto devio ocorreu na gestão anterior.

Na época, segundo o delegado, a ex-servidora estava desempregada e morava em Jataí, onde foi presa temporariamente, enquanto o ex-marido dela havia sido localizado na casa dele, na capital. Os mandados têm validade de cinco dias podendo ser prorrogados. A investigação havia começado no ano anterior, em 2016, após denúncia da Prefeitura de Aparecida de Goiânia.

A funcionária chegou a ser demitida por, de acordo com a Polícia Federal, ter se utilizado de sua função para inserir dados falsos no sistema. Sendo assim o modo o qual ela teria desviado pagamentos a uma empresa de fachada, em julho de 2015, no nome de seu marido. Os repasses ocorreram em 10 pagamentos entre setembro de 2015 e março de 2016.

Em julho de 2016, o nome de aparecida também esteve envolvido em escândalos de corrupção, através de uma fraude que ocorreu no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), em Goiânia. A empresa investigada administrava Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e tinha como sócia a esposa do Secretário Municipal de Saúde da época, Fernando Machado. No entanto, ele negou qualquer envolvimento dele e da esposa.

Na época, a operação responsável pela investigação foi denominada de SOS Samu. Por meio dela, 21 pessoas foram presas. Entre elas, médicos, servidores do Samu, donos de hospitais e UTIs particulares. O MP explicou que, após pacientes com planos de saúde fazerem o atendimento de urgência pelo Samu, os socorristas entravam em contato com a central de regulação, que era responsável pelo controle das vagas das UTIs. A partir disso, ao invés de enviar o paciente aos hospitais vinculados aos SUS, os levavam aos hospitais particulares.

Uma das empresas investigadas era justamente a Organização Aparecidense de Terapia Intensiva LTDA (Oati), que teve Fernando como acionista até 2014 quando já era secretário de Saúde. Naquele ano, no entanto, passou a sociedade para a mulher, a médica Vanessa Gomes Maciel.

Fernando Machado e esposa são investigados pela Operação SOS Samu

Questionada, a Secretaria Municipal de Saúde reafirmou, através de nota, que Fernando Machado não tinha ligação com as irregularidades investigadas pelo Ministério Público. No texto, foi dito “o fato de sua esposa ter cotas em uma empresa de UTI em outro município (Aparecida de Goiânia) não configura participação dos mesmos em qualquer ilícito. A família adquiriu cotas na empresa em período anterior à gestão de Fernando Machado como secretário”.