O fundador da Qualicorp, José Seripieri Filho, adquiriu por R$ 11 bilhões a operadora de planos de saúde Amil, que antes integrava a UnitedHealth Group. É o maior negócio de fusão e aquisição já feito entre uma companhia e uma única pessoa física no Brasil. 

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A operação foi assessorada pelos escritórios Bichara Advogados e Spinelli Advogados. Entre os R$ 11 bilhões da transação, Seripieri financiou R$ 2 bilhões junto aos bancos Santander, Bradesco, BR Partners e BTG Pactual.

Seripieri Filho, que se desvinculou da Qualicorp em 2019, disputava o negócio com o fundo de investimentos Bain Capital. O amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), porém, conseguiu se sobressair e adquirir a empresa.

Também estavam no páreo o grupo Dasa, os fundos Advent e Coruja (de Marcos Schettini) e a Alliança, do empresário Nelson Tanure. Depois de sair da Qualicorp, Sepipieri abriu a QSaúde em 2020 para vender planos individuais, mas havia deixado o setor novamente em meados deste ano. 

Ele vendeu a carteira de beneficiários da QSaúde para o plano de saúde Alice neste ano. À época, o empresário manifestou que não tinha o mesmo desejo de voltar para o ramo. 

“A depender da oportunidade, pode até ser, mas hoje me dá mais medo do que vontade de empreender nessa área”, afirmou, em entrevista em junho à Folha de São Paulo. 

Ele argumentou ver distorções nos reajustes e falta de interesse por parte das grandes operadoras no mercado de planos individuais. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) afirmou que a operação de fato só é concretizada quando tem o aval da agência reguladora, que não foi consultada até o momento sobre o caso. Em 2022, a ANS chegou a barrar a venda da Amil. 

Maior do país 

A venda da Amil era um dos negócios mais aguardados no setor de planos de saúde. A empresa é uma das maiores operadoras do país: tem 5,4 milhões de beneficiários, 383 mil empresas clientes, 19 hospitais, 52 unidades laboratoriais, nove clínicas odontológicas e cerca de 21 mil funcionários. 

Sua rede credenciada abrange 1.600 hospitais e 6.200 laboratórios e centros diagnósticos. Controlada pela americana UnitedHealth, a Amil contratou o banco BTG Pactual no fim de 2021 para comprar a sua carteira deficitária de planos de saúde individuais e familiares. A carteira é deficitária porque o reajuste desses planos não segue a inflação e é regulado pela ANS. 

Em 2021, por exemplo, a agência indicou um reajuste negativo de 8,2%, ou seja, os planos individuais tiveram que diminuir os preços. Já em 2022, o aumento foi de 15,50%, muito criticado pelos usuários. Neste ano, a alta ficou em 9,63% e vai vigorar até abril de 2024.

O BTG chegou à Fiord Capital, um fundo de investimento criado em novembro de 2021. O fundo receberia R$ 3 bilhões para assumir a carteira dos então 330 mil usuários dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. 

Pela operação desenhada para a mudança de controle, a APS, do grupo Amil, passaria a ficar responsável pelos planos de saúde individuais e familiares, negócio que foi aprovado pela ANS. Mas, no início de 2022, a APS passou para o comando da Fiord, movimento barrado pela ANS. 

A agência regulatória alegou ausência de informações sobre a mudança de controle societário. O plano de saúde deve avisar o consumidor com 30 dias de antecedência sobre o descredenciamento de determinado hospital ou laboratório, precisando apresentar uma alternativa do mesmo nível ao cliente, na mesma região.